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Vitórias importantes das novas forças políticas nas eleições municipais e regionais projeta um cenário disputado nas eleições legislativas de outubro
Por Gonzalo Cortizo, tradução livre a partir de El Diario
Tudo muda. Nada será igual depois das eleições de 24 de maio que reservavam para o PP uma perda de 2,4 milhões de votos e de quase todas as suas maiorias absolutas nas comunidades autônomas e cidades importantes da Espanha. A hecatombe é de tal magnitude que leva de roldão a número dois do partido, Maria Dolores de Cospedal, seguida de uma ampla lista de vítimas prováveis: Esperanza Aguirre, José Antonio Monago, Alberto Fabra, Luisa Fernanda Rudi e Alberto Núñez Feijóo.
A quantidade de baixas no PP é tão elevada que de pouco serve a eles agarrarem-se à ideia de que foram os mais votados no cômputo geral. Ada Colau em Barcelona e Manuela Carmena em Madri conseguiram com suas vitórias embotar qualquer justificativa. O tempo político mudou para cada um de seus artistas.
Rajoy, como era de se esperar, não compareceu diante dos meios de comunicação após a apuração. Em seu lugar, Carlos Floriano se encarregou de transmitir o lema a ser seguido nos próximos dias: “A opção majoritária dos espanhóis é pelo PP”. Nenhum grupo dentro da agremiação escapou da queda, o que garante ao chefe de governo maior tranquilidade e garantia de que será o candidato nas próximas eleições.
Mas além do desastre geral do Partido Popular está a derrota de Esperanza Aguirre. Por trás de uma campanha áspera e alarmista, a veterana líder do PP vê reduzidos seus votos em 14 pontos e tem que digerir que sua oponente, a quem vinculou ao ETA, será a nova prefeita de Madri. Aguirre compareceu nos meios de comunicação rodeada de obscuridade. A luz do primeiro andar da sede do partido apagou momentaneamente quando começou a dizer suas primeiras frases.
O PP fracassou em seu discurso do medo e deverá reconsiderar a estratégia dialética frente às eleições gerais que estão já dobrando a esquina. E se era “ou eu ou o caos”, só existem duas opções: ou o eleitor preferiu o caos ou não se deixou afetar pelo terror que queriam provocar Rajoy e seus parceiros nos comícios.
Do outro lado está o êxito de Colau e Carmena. As duas candidatas, em relação às listas de confluência, têm diante de si a responsabilidade de governar Barcelona e Madri. Colau será prefeita sem ter que pedir nada a ninguém. Carmena precisa do apoio do PSOE, mas Pedro Sánchez já se encarregou de demarcar o rumo a seguir: “Vamos articular governos de esquerda”. Aquele tempo em que o político do PSOE diziam que nunca pactuariam com governos “populistas” ficou pra trás. O 24M também mudou isso.
A distância em votos entre o PSOE e o PP se reduziu em dois pontos percentuais e pouco mais de 400 mil de diferença. Os socialistas conseguem salvar Pedro Sánchez mas para ele terão que pactuar e reinventar sua posição política em relação aos novos partidos de esquerda.
Sánchez tem dois cenários em sua nova disposição ao pacto. Na Extremadura e Castilla-La Mancha só precisa do Podemos para governar.
Em Aragão e na Comunidade Valenciana também podem tomar o poder, mas com mais complicações e acordos de vários tipos. A estratégia do PSOE passa por conseguir poder autonômico em troca do poder municipal. Pedro Sánchez poderá facilitar novos governos de esquerda em Madri com Manuela Carmena, em Zaragoza com Zaragoza en Común ou em Valencia com o Compromís.
Os socialistas tampouco colocarão obstáculos para os governos na Galícia, outra das grandes surpresas deste 24M. Martiño Noriega em Santiago (Compostela Aberta) e Xulio Ferreiro em La Coruña (Marea Atlántica) conseguiram vencer as eleições frente ao aviso de Feijóo de que transformariam a Galícia na Venezuela. José María Hernández em Ferrol (Marea Ártabra) poderá, se o PSOE assim permitir, governar a cidade e desbancar o PP das principais cidades galegas. Os resultados na Galícia deixam Núñez Feijóo em posição comprometida para quase tudo e sem opções de ser o “delfim” de Rajoy que muitos prognosticavam em Madri.
Dois resultados para duas estratégias da Isquierda Unida (IU)
Os resultados da IU neste 24 de maio têm uma leitura evidente: os apoiadores de Cayo Lara foram mal majoritariamente onde concorreram sozinhos e colheram êxitos onde, como pediu Alberto Garzón, participaram de listas de confluência.
A situação diversa para a IU debilita ainda mais Lara ante Garzón, candidato às eleições gerais e cujas teses se veem agora referendadas pelo êxito das confluências frente à defesa das siglas. O Izquierda Unida participa dos trunfos das listas de confluência fora de Madri e fica fora da vitória de Manuela Carmena no Ayuntamiento ao haver apresentado lista própria, à margem do Ahora Madrid.
Ciudadanos perde cidades-chaves
O partido de Albert Rivera havia se apresentado na campanha como a grande força que decidiria onde iria e onde não iria governar o Partido Popular. Em que pesem os bons resultados, Rivera não terá tantas cidades-chaves como esperava.
Ademais, o 24M deixa a nova formação em uma encruzilhada frente às eleições gerais. Rivera deve decidir se apoia o governo de Cifuentes na Comunidade de Madri, e essa decisão pode ser crucial daqui até o próximo encontro com as urnas.
Foto de capa: Carlos Floriano, vice-secretário de Organização do PP (El Diario)