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Hamed tem 30 anos, nasceu em Jerusalém, é filho de mãe brasileira e pai palestino. Decidiu pela greve de fome com o objetivo de chamar atenção das autoridades locais para sua prisão, classificada por ele e familiares como injustificada.
Por Maura Silva, no Brasil de Fato
O palestino com cidadania brasileiro Islam Hamed está há 22 dias em greve de fome e 14 quilos mais magro. Em visita feita a ele, na prisão na Palestina, nessa quinta-feira, Nadia Hamed, mãe dele, afirma estar preocupada com a saúde do filho, que não ingere mais água e já não se movimenta sem ajuda.
Hamed tem 30 anos, nasceu em Jerusalém, é filho de mãe brasileira e pai palestino. Decidiu pela greve de fome com o objetivo de chamar atenção das autoridades locais para sua prisão, classificada por ele e familiares como injustificada. Atualmente, Hamed está preso na cidade de Nablus, na Cisjordânia.
Prisões
Ele foi detido pela primeira vez aos 17 anos, acusado de arremessar pedras e coquetéis molotov contra tanques militares do exército israelense. Foram cinco anos de prisão. Em Israel, a idade mínima para prisões é de 12 anos. Só nos últimos 10 anos, cerca de sete mil crianças palestinas com idades entre 9 e 17 anos foram presas, interrogadas e detidas nos territórios ocupados, sobre acusação de atirar pedras contra o exército, o que pode levar a uma pena de até 20 anos de prisão.
Nove meses após ser solto, Hamed, foi novamente detido, dessa vez em regime de detenção administrativa. Nesse caso, a pessoa pode ter sua pena renovada, sem haver uma acusação clara, prática comumente usada pelo exército israelense contra os palestinos.
Em 2010, após ter se casado e tentado, sem sucesso, viajar ao Brasil, Hamed foi detido pela Autoridade Nacional Palestina (ANP). Era acusado de fazer oposição pública ao governo de Mahmoud Abbas, líder da ANP desde 2005. A ANP foi criada por meio do Acordo de Oslo (1993-95), firmado entre Israel e a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), com mediação dos EUA. Ela administra nominalmente partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Hamas
[caption id="attachment_64562" align="alignleft" width="300"] Imagem: Reprodução[/caption]
Amigos e parentes afirmam que a ANP mantém Hamed preso ilegalmente desde 2013, ano em que ele deveria ter sido posto em liberdade, sob a alegação de que a detenção é para sua segurança, uma vez que o exército israelense poderia voltar a prendê-lo.
Pouco antes da data oficial de sua soltura, a ANP enviou um comunicado à família de Hamed com informações de que havia possibilidade de que ele, por ter mãe brasileira, pudesse vir para o Brasil.
A Embaixada brasileira começou acompanhar o processo e providenciou o passaporte brasileiro para o filho de três anos e meio e um visto para a esposa dele.
Após o fim do prazo de soltura, a ANP começou a adiar a libertação de Hamed sem justificativas. Alguns meses depois, a família entrou com um processo no tribunal palestino, que emitiu, em novembro de 2014, um mandado pedindo que ele fosse libertado imediatamente.
Nadia, mãe do prisioneiro, afirma que a prisão é ilegal e que seu filho sobre pressões políticas dentro da Palestina. "Hamed é apoiador do Hamas, um partido político de resistência a uma ocupação desumana. Infelizmente, não podemos descartar a possibilidade de perseguição, o que é lamentável”, diz.
Atualmente nos territórios ocupados existe uma forte oposição entre o Movimento de Libertação Nacional da Palestina (Fatah), que governa a Cisjordânia, e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que tem o poder na Faixa de Gaza. A família Hamed identifica-se com o Hamas, que é considerada uma organização “terrorista” por Israel.
Desdobramentos
A ANP ofereceu liberdade a Hamed no início da semana sob a condição de que a família aceite assinar um termo se responsabilizando por sua segurança. Segundo Ibrahim Alzeben, embaixador palestino em Brasília, Hamed é procurado pelas autoridades israelenses, que dizem ter contas pendentes para acertar com ele. "Tememos pela vida dele [caso seja solto]”, afirma Alzeben.
A família alega que não pode se responsabilizar pela segurança de Hamed. Eles exigem que o governo brasileiro assuma esse papel garantindo que ele possa deixar a prisão em segurança e, assim, seguir em viagem para o Brasil.
Hamed continua recebendo visitas médicas duas vezes por dia. No entanto, está em uma cela com luz acessa 24 horas, o que é caracterizado como tortura.
Ao ser questionado sobre a prática, Alzbien justificou a punição como sendo por mau comportamento do prisioneiro. A declaração irritou a família. “Ficamos chocados com a declaração do embaixador palestino quando diz que se há tortura é porque houve mau comportamento. Esse é um claro sinal de apoio às práticas de tortura cometidas contra Hamed”, disse Nadia.
Segundo ela, a representação diplomática brasileira em Ramallah o visitou na prisão na última segunda-feira (27).
A família no Brasil formalizou um novo pedido de ajuda ao governo, desta vez ao assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. A assessoria da Presidência informou que não vai se pronunciar, já que as negociações estão sendo conduzidas pelo Ministério das Relações Exteriores.
Nadia conta que até o momento não há nenhuma posição concreta do governo brasileiro sobre o caso. “Reconhecemos e valorizamos o esforço que vem sendo feito e ficamos felizes com o posicionamento dado pelo Itamaraty à imprensa pela libertação do Islam. Mas entendemos que é preciso se posicionar firmemente por agilidade nas negociações. Desde 2013 estamos tentando via governo federal trazê-lo. Durante esse tempo não tivemos muitas respostas do governo, apenas 'aguarde que estamos negociando'. Diante da urgência, apelamos à presidente Dilma que se posicione e interfira diretamente nas negociações para uma conclusão positiva o mais rápido possível”, finaliza.
Os responsáveis pelas negociações com a ANP se recusam a dar mais informações para a família e a imprensa. Nas redes sociais, familiares e amigos começaram uma campanha para pedir que Hamed seja libertado. A página "Libertem o Islam" é ilustrada com uma foto de seu passaporte, que traz a nacionalidade do prisioneiro: brasileiro.
Foto de capa: Reprodução