Eleições no país, no próximo sábado (27), podem marcar o fim do governo de Goodluck Jonathan, acusado de ter falhado na luta contra o grupo insurgente islâmico Boko Haram
Por Vinicius Sartorato, de Viena
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Os dois principais candidatos são de direita e defendem a privatização do setor energético (Foto: Reprodução)[/caption]
A Nigéria é uma república presidencialista e possui uma população de aproximadamente 173 milhões de pessoas. O país é dividido em 36 estados; tem um parlamento bicameral representado pelo Senado e a Câmara dos Deputados. Com uma eleição presidencial primeiramente programada para acontecer no dia 14 de fevereiro de 2015, a eleição foi adiada por seis semanas para 28 de março (próximo sábado). Coordenada pela Comissão Eleitoral Independente Nacional, a eleição presidencial nigeriana conta com 14 candidatos, sendo que o cenário político do país é basicamente dominado por partidos de direita.
A Nigéria tem uma história marcada pela colonização britânica, ditaduras militares, guerra civil, mas também carrega a marca de seu gigantismo não só populacional (o primeiro na África, o sétimo no mundo, com aproximadamente 500 grupos étnicos), bem como seu gigantismo econômico, sendo considerado um mercado emergente, uma potência regional, que estará até 2050 entre as 20 maiores economias do mundo. O país possui o maior PIB africano e imensas reservas de petróleo (a 11ª do mundo, a 3ª da África, só atrás da Argélia e da Líbia).
Apresentando pesquisas eleitorais bastante contraditórias, que apontam tanto a reeleição do presidente Goodluck Jonathan, como sua derrota, a Nigéria vem nos últimos meses marcando presença na mídia mundial por causa do insurgente exército islâmico conhecido como Boko Haram.
Além da questão da segurança e do terrorismo, aparecem como questões centrais dessa eleição, a economia, a corrupção, o desemprego, a infraestrutura e a energia.
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O jovem economista Stevem Ategie: Nigéria enfrenta sua eleição mais urgente (Foto: Arquivo pessoal)[/caption]
Segundo Steven Ategie, economista da Universidade do Benin, em Benin-City, no estado de Edo, na Nigéria, “se Goodluck perder a eleição, a principal razão seria sua incapacidade de reduzir as atividades do Boko Haram. Essa é atualmente a questão mais urgente que o país enfrenta”.
De acordo com Ategie, “essa eleição significa muito para todos na Nigéria”. Para o economista, a Nigéria ainda sofre bastante com disputas étnicas e isso marcará certamente os resultados da eleição. Para ele, “o governo de Goodluck Jonathan tem feito alguns avanços na economia. É verdade que ainda há grande desemprego, fonte de alimentação instável e alta dívida externa, mas seu governo tem feito políticas e programas para melhorar a economia. Um exemplo é a agenda de transformação no setor agrícola, que vem conquistado progressos no sentido de tornar o setor mais produtivo e reduzir a dependência explícita do país em petróleo”.
Quem são os principais candidatos da eleição presidencial nigeriana?
Goodluck Jonathan
Com 58 anos de idade, Goodluck Jonathan é o atual presidente da Nigéria e busca a reeleição. Membro do Partido Democrático do Povo (PDP), que domina a política nigeriana desde o 1999 (fim do Regime Militar), é cristão, do Sul do país e originário de um grupo étnico minoritário chamado Ijaw.
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O atual presidente Goodluck Jonathan: criticado por "falhar" na luta contra o Boko Haram (Foto: Reprodução/Facebook)[/caption]
Zoólogo de formação, foi professor e militante das causas ambientalistas. Com forte ligação com os chamados “Super-Pastores” das igrejas cristãs pentecostais, Goodluck Jonathan vem sendo acusado de ter falhado na luta contra o grupo insurgente islâmico Boko Haram.
Além de ser criticado na luta contra o terrorismo do Boko Haram, Goodluck Jonathan tem sido acusado por seus adversários de compactuar com casos de corrupção, entre outros crimes como a pirataria.
Pela primeira vez, desde que seu partido governa país, Goodluck Jonathan perdeu a maioria absoluta que possuía na Câmara dos Deputados e ainda viu crescer o número de críticos no norte do país onde concentra-se a população muçulmana.
Apesar das críticas crescentes, Goodluck Jonathan conta com apoio internacional e de políticos do alto escalão da política nigeriana. Nesse sentido, vem em seus discursos enfatizando o combate que vem sendo feito contra o Boko Haram de forma internacional; vem também procurando argumentar a necessidade de diversificação da economia do país, ainda bastante dependente da indústria do petróleo; além de buscar mostrar que vem atuando contra a corrupção.
Com discursos parecidos no plano econômico, os dois principais candidatos defendem o fortalecimento da infraestrutura (de estradas e ferrovias), a privatização da matriz energética e programas para geração de empregos que produziriam cerca de dois milhões de novas vagas no próximo mandato.
General Mohammadu Buhari
Com 71 anos de idade, o general Mohammadu Buhari, da aliança de oposição Congresso de Todos Progressistas (APC), é
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General Mohammadu Buhari quer "disciplina" no país (Foto: Reprodução/Facebook)[/caption]
muçulmano e vem do norte do país.
Velho conhecido da política nigeriana, Buhari já foi presidente entre 1984 e 1985, quando assumiu o poder após um golpe de Estado e terminou deposto por um outro golpe que o levou à cadeia, permanecendo preso por quase quatro anos.
Já diante de um governo civil perdeu três eleições. Buhari, conhecido como linha-dura, tem criticado seu opositor, o atual presidente da Nigéria, principalmente, na questão da segurança. Buhari conhecido por seu estilo e trajetória militar adquiriu uma fama de ser um homem que não respeita direitos humanos e que perseguiu a mídia do país.
Com esse passado polêmico que inclusive conta com declarações favoráveis à implementação da lei islâmica no passado, Buhari promete combater severamente o grupo islâmico radical Boko Haram.
Com forte apoio dos estados do norte do país, Buhari vem liderando algumas pesquisas eleitorais, podendo tornar-se o provável vitorioso. Sem grandes diferenças sobre as propostas na dimensão econômica, a linha do discurso desempenhada pelo general é justamente a do combate linha-dura contra o exército islâmico Boko Haram e implantação da “disciplina” sobre o país, que segundo ele está desorganizado e sem uma liderança real.