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Instalação da Médicos Sem Fronteiras foi atingida por bombardeios em Kunduz mesmo após funcionários terem informados localização precisa do hospital; ONU fala em "crime de guerra"
Por Opera Mundi
Um bombardeio da Otan atingiu na madrugada deste sábado (03/10) um hospital da MSF (Médicos Sem Fronteiras) na cidade de Kunduz, localizada no norte do Afeganistão. O ataque resultou na morte de ao menos 19 pessoas — das quais 12 eram funcionários da organização humanitária — e deixou também quase 40 gravemente feridas.
Os Estados Unidos reconheceram que causaram possivelmente "danos colaterais" em uma instalação médica durante o bombardeio em Kunduz e disseram que estão investigando o incidente. De acordo com o porta-voz das tropas norte-americanas no Afeganistão, o coronel Brian Tribus, o ataque aéreo ocorreu "contra indivíduos que ameaçavam o contingente".
Já segundo a MSF, o bombardeio durou mais de 30 minutos após oficiais militares norte-americanos e afegãos em Cabul e em Washington serem primeiramente informados sobre o ataque. "MSF condena fortemente o ato contra seu hospital em Kunduz que estava lotado de profissionais e de pacientes", declarou em nota.
A ONG médica internacional ainda afirma que todas as partes do conflito "foram claramente informadas sobre a localização precisa (coordenadas geográficas) das instalações da organização – hospital, dormitório dos profissionais, escritório e uma unidade de estabilização ambulatorial".
Após o incidente, a ONU (Organização das Nações Unidas) condenou o ataque, pediu por uma "completa e transparente investigação" e ainda disse que o bombardeio pode ser considerado "crime de guerra" caso tenha sido deliberado.
"Esse acontecimento profundamente chocante será investigado de forma imediata, profunda e independente, e os resultados devem ser divulgados ao público", afirmou o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein.
Desde segunda-feira (28/09), Kunduz é cenário de combates entre os talibãs e as tropas afegãs, que contam com suporte aéreo dos EUA. Com a escalada de tensão na cidade, a Médicos Sem Fronteiras atendeu, nos últimos cinco dias, quase 400 feridos antes do bombardeio em seu hospital, que era o único que funcionava no município.
O secretário de Defesa dos EUA, Ash Carter, chamou o incidente de "trágico", afirmou que as Forças Armadas ainda estão tentando determinar exatamente o que aconteceu e que ocorrerá uma "completa investigação em coordenação com o Exército afegão".
"Estamos profundamente chocados com o ataque, a morte de nossos profissionais e pacientes e as duras consequências que ele infligiu sobre os cuidados de saúde em Kunduz”, disse Bart Janssens, diretor de operações de MSF.
“Ainda não temos os dados finais acerca das mortes, mas nossa equipe médica está prestando primeiros-socorros e tratando os pacientes e os profissionais de MSF feridos, além de buscar os desaparecidos", acrescentou Janssens.
Talibã
O Talibã condenou o ataque e acusou os Estados Unidos de "martirizar" a equipe médica e os pacientes do centro. Segundo a milícia, a agência de inteligência do Afeganistão teria passado informações falsas aos EUA, levando ao ataque ao hospital.
Em comunicado, o porta-voz do grupo, Zabihullah Mujahid, explicou que o bombardeio ocorreu quando não havia nenhum insurgente no interior do centro médico, "já que a situação de conflito não permite que nossos guerreiros sejam hospitalizados lá".
Em 2001, os talibãs foram expulsos do poder após uma invasão liderada pelos Estados Unidos no Afeganistão. Desde então, Washington mantêm uma missão de combate no país com cerca de 9.800 soldados que devem permanecer no local até final do ano.
Foto: Médicos Sem Fronteiras