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A violação dos direitos humanos na punição de crimes entre o califado islâmico e a monarquia saudita é diferente apenas aos olhos do Ocidente
Por Vinicius Gomes
Na esteira dos ataques contra a redação da semanal Charlie Hebdo, o embaixador da Arábia Saudita em Paris foi um dos presentes na marcha em nome da liberdade de expressão e contra o radicalismo islâmico no mundo. Dois dias antes, o blogueiro Raif Badawi levou suas primeiras 50 chibatadas – das mil a qual ele foi condenado – por ter usado da liberdade de expressão ao criticar o autoritarismo religioso de seu governo. Nenhum líder mundial condenou publicamente a ação saudita.
Laila Bint Abdul Muttalib Basim era uma mulher birmanesa (atualmente Myanmar) que residia na Arábia Saudita e teve a cabeça cortada com uma espada, depois de ter sido arrastada pelas ruas por quatro policiais sauditas. Ela havia sido condenada por abusar sexualmente com uma vassoura e assassinar sua filha de 7 anos. O vídeo da execução mostra Basim implorando por sua vida gritando "Eu não matei. Eu não matei"; elevando para sete o número de execuções realizadas pela Arábia Saudita apenas no primeiro mês de 2015. No ano passado, o número atingido foi 83. Nenhum líder mundial condenou publicamente a ação saudita.
Quando o Estado Islâmico foi atacado com bombardeios liderados pelos EUA, logo após o mundo se chocar com a decapitação de jornalistas e funcionários sociais, a Arábia Saudita teve um papel chave na campanha, contando com políticos do alto escalão e líderes religiosos se juntando ao coro internacional na condenação do grupo como uma "organização terrorista".
Diferentemente dos degoladores do Estado Islâmico, a Casa de Saud, em Riad, é um aliado do Ocidente; todavia, ambos permanecem semelhantes na severidade religiosa e na crueldade aos transgressores com que conduzem seus Estados.
Arábia Saudita x Estado Islâmico
Em dezembro passado, o Estado Islâmico publicou uma lista de crimes e punições que serviriam "como uma explicação e como um aviso" àqueles que vivem nos territórios sob seu controle em vastas partes da Síria e do Iraque. A Arábia Saudita, por sua parte, tem as mesmas prescrições para tais crimes, porém não são tão explícitos na publicidade mundial de sua aplicação da justiça divina – o policial que filmou a execução de Basim foi preso por violar as leis cibernéticas do país.
O documento lista os crimes hadd, considerados como "contra os direitos de Deus", e incluem punições contra furto, adultério, calúnia e roubo. Apesar de divergirem na aplicação das punições – a Arábia Saudita nunca executou ninguém por blasfêmia e adultério, por exemplo – a base legal para ambos os Estados deriva da doutrina Wahhab, uma interpretação ultraconservadora das escrituras islâmicas; e são os únicos que o fazem em toda a região.
[caption id="attachment_57944" align="alignleft" width="383"] (Middle East Eye)[/caption]
Blasfêmia / Homossexualidade / Traição / Assassinato - Condenação à morte
Calúnia / Consumo de Álcool - 80 chibatadas (na Arábia Saudita, o número de chibatadas é decidido por um juiz)
Adultério (se casado) - Morte por apedrejamento
Adultério (não casado) - 100 chibatas (no Estado Islâmico, soma-se exílio por um ano)
Furto - Amputação da mão (direita, na Arábia Saudita)
Roubo - Amputação da mão e do pé
Latrocínio (roubo e morte) - Condenação à morte (crucificação no Estado Islâmico)