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Enquanto são demonizados pelos EUA e pela mídia conservadora do Ocidente, o Equador transformará bases militares em hospitais, Cuba alfabetiza milhares de pessoas em outros países e Venezuela abrigará órfãos palestinos de Gaza
Por Vinicius Gomes
“Nós lideramos o mundo combatendo males imediatos e promovendo o bem […] A América é a última, a maior esperança da Terra […] O maior propósito da América no mundo é promover e espalhar a liberdade”.
A frase acima foi de Barack Obama, ainda como candidato à presidência, em abril de 2007. Alguns anos depois, uma pesquisa realizada em 66 países revelou que o mundo considera os Estados Unidos sob o comando de Obama como a maior ameaça para a paz no planeta. Motivos para tal não faltariam: em 2011, os EUA apoiaram os rebeldes da Líbia para derrubar o regime de Muammar Qaddafi. Três anos depois, o país está à beira de uma guerra civil. Em fevereiro desse ano, os EUA deram suporte a um golpe de Estado na Ucrânia por neonazistas, revivendo, dessa maneira, antigas paixões anti-Rússia que estavam adormecidas desde o fim da Guerra Fria, fazendo o máximo para torná-la quente dessa vez.
Seu novo super inimigo, desde a morte de Osama Bin Laden, são os insurgentes do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (Isis, sigla em inglês) – que, se ao mesmo tempo em que no Iraque são um mal “além de qualquer coisa vista antes”, logo ali em cima, na Síria, eles são seus aliados na guerra civil para derrubar o presidente Bashar al-Assad. Como se isso não fosse contradição o suficiente, foram os próprios EUA que abriram caminho para a criação e o fortalecimento de “novo” grupo terrorista.
Sem mencionar os assassinatos por drones no Iêmen e Paquistão, o enorme aparato de vigilância da NSA e a perseguição da Casa Branca ao jornalismo, pois nunca tantos jornalistas foram coagidos nos Estados Unidos quanto na era Obama.
Enquanto o mais ardoroso defensor da liberdade e da democracia faz tudo isso, seus principais antagonistas na América Latina, o “eixo do mal bolivariano”, composto pelos governos de esquerda do Equador, Venezuela e, obviamente, Cuba, realizam ações que de fato promovem a cooperação internacional entre nações e a busca pela paz.
Venezuela oferece abrigo para órfãos palestinos de Gaza
[caption id="attachment_50803" align="alignleft" width="275"] Presidentes Mahmoud Abbas e Nicolás Maduro. Em 2009, a Venezuela já havia rompido relações com Israel por conta de seus ataques desmedidos contra a Faixa de Gaza (AVN)[/caption]
No primeiro dia de agosto desse ano, o Congresso norte-americano aprovou o repasse de 225 milhões de dólares para Israel recarregar seu estoque de mísseis para o sistema de defesa Domo de Ferro, que, segundo o governo de Benjamin Netanyahu, era o grande responsável pelo número de civis israelenses mortos desde o início do confronto com o Hamas ser tão baixo: apenas 3, comparados com os 1.600 civis palestinos mortos pelas bombas de Israel na Faixa de Gaza.
A decisão dos EUA em oferecer tal ajuda financeira para Israel proteger seus civis é gritante para com o tratamento reservado aos palestinos. Principalmente pelo anúncio dos 225 milhões de dólares a Israel ter acontecido exatamente um dia depois de o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciar que seu país criaria uma “casa de abrigo” para acolher crianças palestinas feridas e órfãs, além da possibilidade de elas serem adotadas por cidadãos venezuelanos.
“Vamos trazê-los à Venezuela e vamos acolhê-los com amor; e, com o acordo com o Estado palestino, alguns destes meninos e meninas poderão ter pais e mães venezuelanos e venezuelanas”, anunciou Maduro.
A Venezuela é o maior antagonista latino-americano de Washington, ficando atrás apenas de Cuba. As tentativas dos EUA em desestabilizar e derrubar o governo socialista do país sul-americano data desde a presidência do antigo presidente, o falecido Hugo Chávez. Sendo que a mais recente foi no início desse ano, ao mesmo tempo em que a administração Obama apoiava o golpe de Estado na Ucrânia.
Equador transformará terras do exército em parques e hospitais
O governo equatoriano de Rafael Correa anunciou que pelo menos 600 hectares de espaços urbanos estarão disponíveis até 2025. Essas terras se adicionam aos 30 mil hectares de área rural já entregues pelos militares ao Ministério da Agricultura e Meio-Ambiente para se tornarem áreas protegidas. “Muitos dos espaços liberados serão transformados em parques urbanos, lugares de serviços à cidadania e as zonas em áreas rurais serão destinadas a áreas de conservação”, afirmou Maria Fernanda Espinosa, ministra da defesa do Equador.
A instituição governamental responsável pelo gerenciamento de terras públicas é a Inmobiliar, e caberá a ela decidir se tais terras serão convertidas em parques, novas escolas, hospitais ou centros para crianças. A única certeza é que elas não serão utilizadas para o uso privado ou especulação imobiliária.
Além disso, Espinosa disse que o país cortará em 51% seu orçamento militar pelos próximos dez anos e que as 516 unidades das forças armadas do país serão reduzidas para 252: “Nós sabemos o que temos, como manter e o que precisamos”, disse ela a respeito da disposição militar do Equador. Isso significa abaixar o número de homens e mulheres nas forças armadas para 34.500 soldados. Ainda segundo a ministra, a decisão de reorganizar as forças militares não prejudicaria a defesa das fronteiras do país, principalmente no que tange às unidades que operam na problemática fronteira com a Colômbia, onde, no momento, se agrupam 11 mil militares.
Medida semelhante – mas com as devidas proporções – aconteceu há 65 anos, quando a Costa Rica decidiu abolir suas forças armadas, substituindo bases militares por escolas: “O Exército Regular da Costa Rica [...] entrega a chave deste quartel às escolas, para que seja convertido num centro cultural”, anunciou o presidente José Figueres Ferrer, na manhã de 1 de Dezembro de 1948. De acordo com o investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS), Andrés Malamud, o país sem o exército de nada perdeu, mesmo inserido em uma das regiões mais conturbadas do planeta: “Em contraste com a maioria da América Central, [a Costa Rica] não teve mais guerras civis e, em contraste com a maioria da América Latina, não teve mais golpes de Estado”.
Enquanto isso, os EUA, maiores defensores da paz mundial, possuem um orçamento militar maior do que todos os próximos oito países combinados:
Cuba ensina milhares de pessoas a ler e escrever
[caption id="attachment_50804" align="alignright" width="276"] Segundo o governo cubano, o “Yo Si Puedo” já beneficiou quase quatro milhões de pessoas ao redor do mundo (Reprodução)[/caption]
Não é segredo para ninguém que Cuba, além de possuir um dos melhores sistemas de saúde pública do mundo, possui também um dos melhores sistemas de educação, tendo uma taxa de alfabetização de 99,8% no país – a maior da América Latina, segundo a UNESCO. Desde 1999 que o governo dos irmãos Fidel e Raul Castro exporta seu modelo de ensino para diversos lugares do mundo, desde a Nigéria (África) até Austrália (Oceania). No entanto, os países vizinhos da América Latina são os que mais recebem o auxílio de Cuba para desenvolver a educação e erradicar o analfabetismo de suas populações.
Na última quinta-feira (28/08), a coordenadora nacional do programa na Guatemala, Vielma Monteagudo, afirmou que quase 20 mil cidadãos guatemaltecos aprenderam a ler e escrever por meio do programa cubano “Yo Si Puedo” (Sim, eu posso), desde que o país passou a receber ajuda de Cuba, sete anos atrás. O programa tem cerca de 30 voluntários cubanos que operam por todos os seis estados do país, incluindo a capital Cidade da Guatemala, e utiliza o modelo único desenvolvido em Cuba, que se adapta às peculiaridades geográficas dos estudantes, usando de recursos audiovisuais e combinações entre números e letras e inclusive o vocabulário local.
No final de julho, o vice-ministro da educação alternativa da Bolívia, Noel Aguirre, declarou que a Unesco aceitou o relatório enviado pelo governo apontando que o país andino estava livre do analfabetismo.“Podemos dizer orgulhosamente que o Estado Plurinacional é um estado livre do analfabetismo”, declarou Aguirre à época.
A Bolívia também utilizou o sistema cubano.
Foto de Capa: Erik Cleves Kristensen/Wikimedia