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Como as mudanças estruturais na economia global e a ascensão da Ásia impulsionaram uma tentativa desesperada dos políticos norte-americanos de manterem o poder instigando uma guerra na Europa
Por The Vineyard of the Saker e Counterpunch | Tradução: Vila Vudu
Para se entender o que ainda está acontecendo na Ucrânia – e por consequencia, no mundo -, essa entrevista de 15 minutos com Sergei Glaziev, conselheiro político e amigo do presidente russo Vladimir Putin, é essencial.
Glaziev é nascido na Ucrânia e formado em Economia. Por seu cargo, possui um entendimento soberbo dos jogos de poder por trás das cenas na Ucrânia e na Rússia. Esse homem realmente sabe o que está acontecendo. Além do mais, ele é um dos principais defensores da “soberania eurasiana” – o que o transforma como odiado tanto nos círculos pró-Ocidente na Rússia, quanto nos EUA, onde foi colocado na lista de sanções da Casa Branca, por nenhuma outra razão além do fato de não gostarem do que ele tem a dizer.
Como o jornalista Mike Whitney, que transcreveu o vídeo, disse: “Mesmo que os leitores concordem ou não com essa análise, eles concordarão que Glaziev é brilhante, erudito e apaixonado pelo que acredita. Só por isso, o vídeo vale a pena”.
Mudanças Estruturais na Economia Global são frequentemente precedidas por Grandes Crises e Guerra
O mundo hoje passa por uma superposição de séries de crises cíclicas. A mais séria delas é uma crise tecnológica que é associada a mudanças nos comprimentos de onda do desenvolvimento econômico. Vivemos num período em que a economia está mudando de estrutura. A estrutura econômica que comandou o crescimento econômico nos últimos 30 anos exauriu-se. Temos de fazer uma transição para um novo sistema de tecnologias. Esse tipo de transição, infelizmente, sempre aconteceu mediante guerra.
Foi o que aconteceu nos anos 1930, quando a Grande Depressão deu lugar à corrida armamentista e, na sequência, à 2ª Guerra Mundial. Foi assim durante a Guerra Fria, quando uma corrida armamentista cedeu lugar a complexas tecnologias de informação e comunicação que se tornaram a base da estrutura tecnológica que vem comandando a economia mundial nos últimos 30 anos. Hoje, enfrentamos crise similar. O mundo está mudando para um novo sistema tecnológico.
Putin promove a Zona de Livre Comércio, para facilitar a transição para a Nova Economia Global
O novo sistema tem natureza humanitária e, assim, pode evitar uma guerra, porque os grandes geradores de crescimento nesse comprimento de onda são tecnologias humanitária. Dentre essas, as indústrias de atenção à saúde e de medicamentos, que são baseadas na biotecnologia. Incluem-se aí também tecnologias de comunicação baseadas na nanotecnologia, que está mudando o mundo como o conhecemos. Todas essas mudanças envolvem tecnologias cognitivas, que definem um novo contexto para o conhecimento humano.
Como o presidente Putin tem dito repetidas vezes, conseguimos construir e propor um programa de desenvolvimento conjunto, uma zona de desenvolvimento para todos com um regime comercial preferencial de Lisboa a Vladivostok. Para fazê-lo operar, basta acertar com Bruxelas os termos para criar um espaço econômico comum, uma área de desenvolvimento comum. Podemos propor número suficiente de projetos novos, do campo da saúde à proteção contra ameaças espaciais, para mobilizar nosso potencial científico e técnico e criar demanda estável, a partir do estado. Assim se daria forte estímulo ao novo sistema tecnológico.
Washington vê uma guerra na Europa como melhor meio para reservar sua hegemonia
Os EUA, contudo, já estão fazendo o que fazem sempre. Para manter sua dominância sobre o mundo, estão provocando nova guerra na Europa. Guerra é sempre bom negócio para os EUA. Dizem até que a 2ª Guerra Mundial, que matou 50 milhões de pessoas na Europa e na Rússia, teria sido uma boa guerra. Foi boa para os EUA, porque os EUA emergiram daquela guerra como principal potência mundial. A Guerra Fria, que terminou com o fim da União Soviética, também foi boa guerra, para os EUA.
Agora, os EUA outra vez querem manter sua liderança à custa da Europa. A liderança dos EUA está sendo ameaçada pela China, que cresce sem parar. E o mundo está entrando em novo ciclo que, agora, é ciclo político. Esse ciclo dura séculos e está associado com as instituições globais da economia regulatória.
Agora nos movemos, do ciclo norte-americano de acumulação de capital, para um ciclo asiático. É outra crise que desafia a hegemonia dos EUA. Para manter sua posição de comando frente à concorrência que lhe impõe uma China que não para de crescer e outros países asiáticos, os EUA estão inventando uma nova guerra na Europa. Querem enfraquecer a Europa, rachar a Rússia, e subjugar todo o continente eurasiano.
É o mesmo que dizer que, em vez de uma zona de desenvolvimento para todos de Lisboa a Vladivostok – que é a proposta do presidente Putin – os EUA querem iniciar uma guerra caótica e alucinada nesse mesmo território, envolver toda a Europa numa só guerra, desvalorizar os capitais europeus, cancelar por milagre a dívida pública nos EUA, dívida sob cujo peso os EUA, sim, já estão praticamente sucumbindo, riscar do mundo o que os EUA devem para a Europa e Rússia, subjugar nosso espaço econômico e estabelecer controle sobre os recursos do gigantesco continente eurasiano. Para os EUA, esse seria o único modo para conseguirem manter sua hegemonia e derrotar a China.
Infelizmente a geopolítica dos EUA que vemos hoje é exatamente idêntica à do século XIX. Eles ainda pensam nos termos das lutas geopolíticas do Império Britânico: dividir para conquistar. Lançar nações contra nações, empurrá-las umas contra outras, iniciar uma guerra mundial. Desgraçadamente, os EUA ainda insistem naquela velha política britânica, para tentar resolver seus problemas. A Rússia é o alvo selecionado dessa política, e o povo ucraniano é usado como bucha de canhão numa nova guerra mundial.
Primeiro, os EUA decidiram tomar como alvo a Ucrânia e separá-la da Rússia. É tática inventada por Bismarck. É a velha tradição anti-Rússia, com o objetivo de envolver a Rússia em conflito, para conseguir tomar conta de todo o espaço da Eurásia. Foi estratégia que Bismark usou, depois adotada pelos britânicos, depois por Zbigniew Brzezinski, pensador e cientista político norte-americano que disse incontáveis vezes que a Rússia não poderia ser uma superpotência sem a Ucrânia, e que criar guerra entre Rússia e Ucrânia seria benéfico [sic] para os EUA e o Ocidente.
Há 20 anos os norte-americanos alimentam o nazismo ucraniano orientado contra a Rússia.
Todos sabem que os EUA hospedaram os seguidores remanescentes de [Stepan] Bandera, depois da 2ª Guerra Mundial. Dezenas de milhares de nazistas ucranianos foram levados para os EUA e cuidadosamente cevados e treinados durante o pós-guerra. Essa leva de imigrantes desceu sobre a Ucrânia depois do colapso da União Soviética. A ideia de uma parceria ocidental foi usada como isca. Quem primeiro falou disso foram os poloneses; na sequência, os EUA abraçaram a ideia. Essa é a essência da parceria ocidental, da qual a Geórgia foi a primeira vítima.
Agora, a nova vítima está sendo a Ucrânia, e depois virá a vez da Moldávia, para ir cortando laços com a Rússia.
Todos sabem que na Rússia estamos construindo a União Aduaneira e um espaço econômico comum com Bielorrússia e Cazaquistão, ao qual serão integrados, na sequência, o Quirguistão e a Armênia. A Ucrânia sempre foi nação parceira dos russos, há muito tempo. A Ucrânia continua a ter um acordo comercial com a Rússia, que está em fase de ratificação – e que até hoje não foi cancelado por ninguém na Ucrânia. A Ucrânia é importante para nós como parte de nosso espaço econômico e por séculos de laços e cooperação entre nossos países.
Nosso complexo científico e industrial foi criado como realidade comum. Daí que a participação da Ucrânia na integração da Europa seja processo vital e natural. Mas o projeto da “parceria ocidental” foi inventado para impedir que a Ucrânia participasse no projeto de integração da Eurásia. O significado da parceria ocidental é criar uma associação com a União Europeia – e “boicotar” a integração da Eurásia.
Qual a associação que Poroshenko assinou com líderes europeus? Uma “associação” que converte a Ucrânia em colônia. Por aquele acordo de associação com a União Europeia, a Ucrânia perde até a própria soberania: transfere para Bruxelas o controle do próprio comércio, aduana, regulação técnica e financeira e até a representação pública.
A junta nazista ucraniana é instrumento da política dos EUA
Ucrânia deixa de ser estado soberano na economia e na política: está claramente escrito e assinado no acordo, que a Ucrânia converte-se em parceiro “júnior” na União Europeia. A Ucrânia compromete-se a seguir uma defesa comum e a política exterior da União Europeia. A Ucrânia fica obrigada a participar na resolução de conflitos regionais, sempre sob a liderança da União Europeia. E assim Poroshenko está convertendo a Ucrânia em colônia da União Europeia e empurrando a Ucrânia para uma guerra contra a Rússia como bucha de canhão, com a intenção de, assim, iniciar uma guerra na Europa.
O objetivo do acordo de associação é permitir que países europeus governem a Ucrânia sempre que se tratar de decidir conflitos regionais. É o que está acontecendo no Donbass, que é conflito regional armado. O objetivo da política dos EUA é criar o maior número possível de mortos. A junta nazista que governa a Ucrânia é instrumento dessa política dos EUA. Estão cometendo atrocidades inimagináveis e crimes sem conta, bombardeando cidade, matando civis, mulheres e crianças, e forçando-os a abandonar as próprias casas, exclusivamente para provocar a Rússia e, na sequência, lançar toda a Europa numa mesma grande guerra. Essa é a missão de que Poroshenko foi encarregado.
Por isso, precisamente, é que Poroshenko rejeita todas e quaisquer negociações de paz e bloqueia todos e quaisquer acordos de paz. Cada “declaração” de Washington sobre qualquer “desescalada” no conflito é decodificada, por Poroshenko, como ordem para escalar o conflito. Cada rodada de conversações chamadas “de paz” desencadearam nova rodada de violência.
É preciso compreender que estamos lidando com um estado nazista, que está determinado a conseguir entrar em guerra contra a Rússia e que já decretou recrutamento universal obrigatório. Toda a população do sexo masculino entre 18 e 55 anos de idade foi automaticamente alistada. Quem se recusar ao alistamento, receberá pena de 15 anos de cadeia. Esse poder nazista criminoso já converteu em criminosos toda a população ucraniana.
Washington trabalha a favor de seus interesses, quando empurra a Europa para a guerra
Calculamos que a economia europeia perderá cerca de 1 trilhão de euros por causa das sanções que os norte-americanos impuseram contra os europeus. É muito dinheiro. Os europeus já começam a sentir as perdas. Já houve acentuada redução nas vendas para a Rússia. A Alemanha está perdendo cerca de 200 bilhões de Euros. Os estados do Báltico sofrerão as maiores perdas. A perda de vendas na Estônia será superior ao PIB do país. Na Letônia, será equivalente a metade do PIB do país. Mas nem isso os detêm. Políticos europeus seguem os norte-americanos sem nem questionar o que estão fazendo. E agridem-se eles mesmos, ao provocar o nazismo e a guerra.
Já disse que Rússia e Ucrânia são vítimas dessa guerra que está sendo fomentada pelos EUA. Mas a Europa também é vítima, porque a guerra visa a destruir o estado de bem-estar europeu [o que resta dele] e a desestabilizar a Europa. Os norte-americanos contam com que, assim, prosseguirá o êxodo de capitais e cérebros europeus para os EUA. Por isso estão incendiando a Europa inteira. É muito estranho que governos europeus estejam alinhados com esse tipo de “projeto” mortal dos EUA.
A Alemanha ainda é território ocupado
Não podemos continuar a simplesmente esperar que os líderes europeus desenvolvam política independente: temos de trabalhar com políticos europeus de outra geração, capaz de manter-se independente do diktat dos EUA. Fato é que nos anos da Guerra Fria formou-se na Europa uma elite política obcecadamente antissoviética. E esses rapidamente se converteram em anti-Rússia. Apesar da expansão dramática de laços econômicos e dos vastíssimos interesses econômicos mútuos entre Europa e Rússia, a russofobia ainda é baseada em antissovietismo e sobrevive na mente de muitos políticos europeus. Será preciso esperar que uma nova geração de políticos europeus pragmáticos compreenda quais são seus reais interesses nacionais.
O que vemos hoje na Europa são políticos que agem contra os seus próprios interesses nacionais. Isso se explica em grande parte pelo fato de que a Alemanha, que é o motor do crescimento da Europa ainda é país ocupado. Ainda há tropas norte-americanas na Alemanha, e cada chanceler alemão ainda é obrigado a jurar fidelidade aos EUA e àquela política externa. A geração de políticos que ainda está no poder na Europa ainda não conseguiu livrar-se do cabresto da ocupação pelos EUA.
O nazismo está em ascensão
Embora já não haja União Soviética, aqueles políticos europeus continuam a obedecer Washington de forma maníaca, na expansão da OTAN e na tentativa de capturar novos territórios – por mais “alérgicos” que já sejam aos novos membros orientais da União Europeia.
A União Europeia já está estourando nas costuras, mas nem por isso suspende a agressiva expansão na direção de território pós-soviético. Espero que uma próxima geração de políticos seja mais pragmática.
As recentes eleições para o Parlamento Europeu mostraram que nem todos estão sendo completamente enganados pela propaganda pró-EUA e anti-Rússia, e pelo fluxo ininterrupto de mentiras que não para de ser lançado contra o povo europeu. Partidos europeus tradicionais perderam em recentes eleições no Europarlamento.
Quanto mais se diga a verdade, maior será a reação, porque o que está acontecendo na Ucrânia é o renascimento do nazismo. A Europa conhece bem e não esqueceu os sinais do renascimento do nazismo, por causa das lições da 2ª Guerra Mundial. Temos de despertar essa memória histórica, de modo que consigam ver nos nazistas ucranianos que estão no governo em Kiev, os seguidores de Bandera, Shukhevych e outros colaboradores nazistas. A ideologia das atuais autoridades ucranianas tem raízes na ideologia dos cúmplices de Hitler que atiraram contra judeus em Babi Yar, queimaram vivos ucranianos e bielorrussos e aniquilaram populações inteiras sem distinção de etnias. Esse é o nazismo que está em crescimento hoje.
Os europeus têm de reconhecer, nos mortos na Ucrânia, mortos europeus. É disso, afinal, que se trata.
Espero que, se continuarmos a explicar a verdade, conseguiremos salvar a Europa de mais essa ameaça de guerra.