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O uso de crianças do sexo masculino como combatentes e do feminino como escravas sexuais ainda é uma realidade em diversos países no mundo
Por Lizabeth Paulat, em Care2 | Tradução: Vinicius Gomes
A existência de crianças soldados, ou crianças combatentes, pode parecer um problema longínquo. No entanto, a verdade é que o quanto elas ainda são comuns pode surpreender. Em 14 países ao redor do mundo – da Ásia à África para América do Sul – crianças com apenas 10 anos estão sendo treinadas, armadas e enviadas às linhas de frente em conflitos. Caso essas crianças sobreviveram ao combate, elas geralmente desenvolvem um conjunto ímpar de problemas psicossociais que raramente são tratados em seus países.
Abaixo estão listados cinco países onde o uso de crianças como combatentes ainda é uma realidade
Filipinas
Confrontos nesse país insular entre o governo e forças rebeldes têm resultado em um recrutamento de crianças de todos os lados. Grupos como a Frente Nacional Moro, os Combatentes Islâmicos pela Liberdade Bangsmoro, o Novo Exército do Povo e as próprias forças armadas filipinas colocaram crianças de até 11 anos de idade para lutar. E apesar de muitas das notícias a respeito do conflito em curso nas Filipinas terem se esvaziado, em janeiro desse ano, três crianças foram encontradas entre mais de 50 cadáveres, resultado de combates na ilha de Mindanao.
Ainda pior do que isso, as forças governamentais são conhecidas por prenderem crianças usando de razões arbitrárias e as expuseram para a mídia como sendo “crianças guerreiras”. A razão para isso é para mostrar a “desumanidade” dos grupos rebeldes – mesmo com as denúncias de que o próprio exército também as usa. Quando a organização Human Rights Watch investigou essas “crianças guerreiras”, elas descobriram que a maioria dessas crianças deitadas pelo governo não tinham qualquer relação com os grupos rebeldes.
Índia
No norte da Índia, o Partido Popular Revolucionário de Kangleipak (Prepak, sigla em inglês), um grupo rebelde banido, tem seqüestrado crianças do sexo masculino que procuram oportunidades de trabalho. Levados para treinarem em remotas vilas ao longo da fronteira com Myanmar, estimativas mostram que existam de 500 a 3 mil crianças soldados na região.
Esses garotos, forçados a viver nas duras condições da vida na selva, recebem uma lavagem cerebral, enquanto são ensinadas a lutar, atirar e torturar. Em 2008, um vídeo postado pelo Prepak, mostrou-se grupos de crianças marchando em frente a câmera, totalmente armados.
Jovens garotas também têm desaparecido de suas vilas. Um pai alegou ter recebido um telefonema após sua filha ter sumido, dizendo que ela estava em um campo de treinamento em Myanmar. Se essas garotas são levadas para combater ou para servir como escravas sexuais, ainda é desconhecido.
Ainda assim, pelo fato de a maioria dos combates acontecerem no norte do país, longe dos centros financeiros poderosos ao sul, poucos no governo estão notando ou se importando por esse alastramento no uso de crianças como soldado – o que significa que as oportunidades para a reabilitação são extremamente limitadas.
República Centro-Africana
A atual guerra civil na República Centro-Africana (RCA) tem tido um efeito devastador em diversas comunidades do país. Os dois grupos rebeldes, o Seleka (muçulmano) e o anti-Balaka (cristão), tem se alternado nas atrocidades em massa na capital e nas vilas do interior do país, pelos últimos dois anos. Todavia, esse descontrolado uso de crianças como soldados, torna o conflito particularmente brutal.
A ONU estima que pelo menos 6 mil crianças estão envolvidas no conflito, incluindo meninos e meninas. Geralmente, as garotas da região não são levadas para a frente de batalha – apesar de algumas delas participarem – e sim, para serem usadas como trabalho escravo e sexual.
No entanto, os abusos sexuais são raramente limitados à crianças do sexo feminino. Altas taxas de estupro e escravização sexual entre os meninos foram reportadas nas regiões de conflito. O uso descontrolado de drogas também foi denunciado, com adultos dopando as crianças para coibirem seus sentidos de certo e errado. E enquanto a vizinha Uganda existam diversos programas para ajudarem essas crianças que foram combatentes, – devido ao seu passado com o grupo rebelde Exército da Resistência do Senhor – colocar essas crianças em tais programas é praticamente impossível devido às restrições para a viagem. Ao invés disso, aquelas crianças que conseguem escapar são deixadas para viver em esquálidos campos de refugiados.
Somália
O grupo terrorista somali Al Shabaab tem recrutado crianças por diversos anos. As práticas mais comuns incluem a coerção de crianças em se tornarem homens-bomba e também de usá-las em suas missões mais perigosas. Atualmente, por conta de as forças do Al Shabbab estarem diminuindo, devido ao combate com a missão da União Africana, mais crianças do que nunca foram raptadas para se unirem à suas fileiras. Além disso, o sequestro de mulheres e o “casamento” forçado com elas para “produzirem” mais soldados também se tornaram comum.
Um ancião de uma vila explicou que o Al Shabaab prefere crianças na linha de frente porque elas não entendem quando uma batalha está sendo perdida ou ganha, e assim irão apenas continuar a lutar. Fora o fato de que, após anos e anos de lavagem cerebral e doutrinação, muitas crianças terminam por acreditar que a guerra do Al Shabaab é uma causa justa.
Colômbia
Na Colômbia, milhares de crianças lutaram pelas forças guerrilheiras como as Farc e as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Algumas vezes ludibriadas por membros da família simpáticas à rebelião, ou através de sequestro com drogas, as crianças na Colômbia logo tiveram sua inocência roubada. Garotas são usadas como escravas sexuais e como prostitutas; enquanto os garotos são rapidamente forçados a matar, torturar e mutilar, tirando deles qualquer resquício de piedade.
Vivendo nas duras selvas colombianas, muitas crianças estiveram sujeitas à constantes treinamentos ao passo em que estava mal nutridas. Para aquelas que conseguiram escapar, a situação é tremendamente frágil, pois a deserção é punida com morte. De qualquer maneira, com crianças tão jovens com 11 anos sendo recrutadas para a luta, muitas delas jamais chegarão à idade adulta.
Foto de Capa: Gabriel Galwak/IRIN