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A ignorância coletiva do país pavimenta o caminho para políticos extremistas validarem suas posições perante a opinião pública - como um senador dizer que foi escolhido por deus...
Por CJ Werleman, em Alternet
A saúde de uma democracia depende de cidadãos educados. Analfabetismo político é o esterco que aduba apelos políticos baseados em pura ignorância.
Apresenta-se então o porta-voz da maioria republicana na Casa dos Representantes dos EUA, o congressista David Brat, da Virginia. A primeira coisa a se saber sobre esse novo político de extrema-direita é que ele é um professor universitário, o que significa que ele provavelmente não é nenhum idiota. Ele também se identifica com a linha mais conservadora do partido republicano, o chamado Tea Party, o que, paradoxalmente, significa que ele é de fato um idiota. E por idiota, quer se se dizer que ele é totalmente ignorante da história dos EUA e de sua constitucionalidade.
Na realidade, em seu discurso de vitória a seus partidários, na semana passada, Brat demonstrou que ele faz parte da maioria dos norte-americanos quando o assunto é analfabetismo político e cultural. “Eu quero restaurar a América a suas raízes cristão-judaicas”, disse Brat. “Deus agiu através do povo a meu favor”.
Mesmo ignorando a ilusão de grandeza da segunda parte na frase acima, Brat agora se une a nada mais nada menos do que 200 milhões de norte-americanos que acreditam que a Constituição dos EUA, assim como suas leis, são baseadas em valores judeus e cristãos. A qualquer hora do dia, você pode ouvir políticos cristãos e de direita dizendo de maneia absurda que as leis norte-americanas são baseadas na bíblia. Spoiler à frente: eles estão completamente errados. A escrita secular da Constituição dos EUA nasceu graças aos chamados “pais fundadores”, que compartilhavam uma enorme desconfiança tanto em religiosos quando no sobrenatural. O documento foi forjado com a consciente omissão da palavra “deus” e a proibição de qualquer teste religioso para concorrer ao serviço público. Ainda mais, a declaração presente na Primeira Emenda dizendo que “o Congresso não deve aprovar qualquer lei baseada em religião”, demonstra que os fundadores do país acreditavam que não havia espaço para religião no domínio politico.
O fato de que nenhum veículo de imprensa se incomodou em corrigir a ignorância de Brat mostra o contínuo declínio na consciência civil e cultural dos norte-americanos.
A ignorância coletiva de uma nação pavimenta o caminho para políticos extremistas a convencer o público da validade de suas posições extremadas.
Respondendo a uma pesquisa se os cidadãos entrevistados se lembravam de qualquer um dos direitos que lhes eram garantidos de acordo com a Primeira Emenda, a maioria só conseguia se lembrar da "liberdade de expressão". Outros números mostravam que 42% das pessoas achavam que a Constituição do país dizia explicitamente que "o primeiro idioma dos EUA era inglês" e 25% acreditavam que o cristianismo era estabelecido pela Constituição como a religião oficial do governo.
E a ascendente maré de ignorância ameaça a própria fundação da democracia. O poeta e escritor alemão Bertold Brecth escreveu: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala e não participa dos eventos políticos. Ele não conhece o custo da vida, o preço do feijão, do peixe, do açúcar, do aluguel, dos sapatos e dos remédios e, que tudo isso, depende de decisões políticas. O analfabeto político é tão estúpido que ele tem orgulho e infla o peito dizendo que odeia política. O imbecil não sabe que, de sua ignorância, nascem as prostitutas, as crianças abandonadas e o piores ladrões de todos, os políticos ruins e as companhias nacionais e multinacionais corruptas”.
Existem diversas razões para o declínio da consciência política nos EUA. Uma que não pode ser ignorada é a ausência de padrões nacionais, o que faz com que muitas crianças não conheçam tão bem a história de seu país. Outra é o colapso dos padrões jornalísticos.
Segundo de Henry Giroux, autor de Políticas e culturas zumbis na era do capitalism de cassinos, “Os EUA é um país que cada vez mais definido pela crônica e mortal forma de analfabetismo cívico que resultam nas falhas tanto de seus sistema educacional quanto a crescente habilidade de forças antidemocráticas em usar a força da cultura para promover novas formas de analfabetismo – e, ao ponto em que tal situação vem a dominar a cultura norte-americana, os EUA deixaram de ter uma cultura de questionamento para uma cultura de “grito” e, fazendo isso, transformou sua política de maneiras improdutivas e antidemocráticas”.
Em outras palavras, quando os republicanos dizem que não existe algo como gravidade, os democratas respondem dizendo que ela é real. É a vez então da CNN olhar para a situação e dizer “Democratas e republicanos estão brigando novamente”, o que não apenas eleva a irracionalidade do país, como também aumento a possibilidade de visões extremistas e falsidades tomarem conta do eleitorado nacional.