Guerra civil na Ucrânia cada vez mais próxima

Escrito en GLOBAL el
O governo de Kiev, apoiado pelos EUA e pela UE, lançou o exército numa ofensiva militar contra o leste do país, predominantemente pró-russo Por Esquerda.netUma guerra real” A guerra estende-se a todo o leste e sudeste da Ucrânia entre, por um lado, o exército de Kiev e os apoiantes do seu governo e, por outro lado, os manifestantes e as chamadas “forças de auto-defesa” pró-russos, apoiados pela maioria da população local. O responsável máximo do chamado Centro Anti-Terrorista do governo de Kiev, Vasil Krutov, afirma que é “uma guerra real”. Mais de 40 mortos em Odessa Os confrontos mais dramáticos deram-se em Odessa, onde terão morrido mais de 40 pessoas. Ao longo da tarde de sexta-feira (2), manifestantes pró-russos e apoiantes do governo de Kiev envolveram-se numa batalha campal, que terá provocado cinco mortos, pelo menos. Depois os pró-russos refugiaram-se na sede dos sindicatos da cidade, que foi cercada por apoiantes do governo de Kiev, que lançaram um ataque com cocktails molotov, e em que usaram também armas de fogo, contra o edifício onde se tinham refugiado centenas de pessoas. A sede dos sindicatos ficou em chamas, provocando a morte a, pelo menos, 36 pessoas, que morreram sobretudo asfixiadas pelos gases libertados no incêndio. Segundo o “Russia Today”, o assalto dos apoiantes de Kiev terá sido organizado pelas brigadas do agrupamento nazi Setor Direito. O departamento de Situações de Emergência de Odessa libertou mais de 120 pessoas do edifício, enquanto mais de 200 pessoas conseguiram sair por si próprias e outras dezenas salvaram-se porque fugiram para o telhado do edifício. Segundo o correspondente do jornal britânico “The Guardian”, cinco pessoas jaziam no solo com ferimentos provocados por balas. Neste primeiro e curto vídeo pode ver-se a sequência do ataque contra a sede dos sindicatos e o deflagrar do incêndio.
  Neste segundo vídeo, com 24 minutos, veem-se episódios do ataque dos apoiantes do governo de Kiev, entre os quais um indivíduo dispara pistola contra o edifício.
  Três helicópteros derrubados em Slaviansk A ofensiva do exército de Kiev para tomar de assalto a cidade Slaviansk já provocou, pelo menos, nove mortos, quatro das forças governamentais e cinco de pessoas da região. Nos confrontos foram derrubados três helicópteros e o presidente em exercício em Kiev reconheceu que a ofensiva está a ser mais complicada do que esperava. Segundo o publico.es, o presidente da Câmara de Slaviansk disse que das cinco pessoas que morreram, três são membros das forças de autodefesa pró-russas e duas são civis. O ministro do Interior de Kiev, Arsén Avakov, disse que as forças armadas do governo controlavam já nove postos de controle antes controlados pelas forças pró-russas locais. Avakov declarou também que “têm lugar verdadeiros combates com armas pesadas” e afirmou que a “fase ativa da operação anti-terrorista na zona de Slaviansk-Krematorsk começou às 4.30 da madrugada por parte das forças armadas, da guarda nacional e das forças do ministério do Interior". Ainda segundo o publico.es, o chefe das “forças de auto-defesa pró-russas, Igor Strelkov, disse ao canal Rússia 24: “Todas as estradas estão cortadas e de todas as direções chegam blindados e soldados... Usaram contra nós 20 helicópteros, o inimigo bloqueou a cidade por completo, as entradas e as saídas”. Tropas de Kiev à beira de tomar o controle de Kramatorsk Um porta-voz das milícias pró-russas que têm controlado vários edifícios oficiais na cidade que faz parte da região de Donetsk declarou à agência russa RIA-Novósti: “Só resistimos na praça central. O resto foi tomado pela Guarda Nacional e pelo Setor Direito”. Os insurretos disseram que no ataque das forças de Kiev morreram dez pessoas “todas pacíficos civis que não levavam armas”. O ministério do Interior de Kiev anunciou, entretanto, que as suas forças tinham tomado o controle da sede das forças de segurança de Kramatorsk, enquanto a televisão ucraniana mostrava imagens de blindados a circular na cidade. Em Donetsk, manifestantes ocupam sede das forças de segurança Alberto Sicilia conta no blogue Principia Marsupia, através do twitter, que centenas de pessoas se manifestaram na cidade de Donetsk neste sábado, dirigiram-se à sede das forças de segurança ucranianas (SBU) na cidade e ocuparam o edifício e depois dirigiram-se à empresa do governador de Donetsk, Taruta, um dos mais ricos e principais oligarcas da região e ocuparam também a empresa.  
Sicilia assinala que os manifestantes gritavam “Rússia, Rússia”, queimaram uma bandeira ucraniana e considera que a ocupação da empresa de Taruta “era impensável há umas semanas”e envia uma mensagem “clara”: “o oligarca nomeado por Kiev como governador perdeu o controle de Donetsk”. Durante a manifestação algumas das frases mais gritadas foram "Glória à resistência de Slavyansk" e "Nunca esqueceremos Odessa". Pró-russos de Slaviansk libertam inspetores europeus da OSCE A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) confirmou neste sábado (3) que os seis inspetores e o intérprete, que tinham sido sequestrados há uma semana, foram libertados. Juntamente com os inspetores foram também libertados cinco oficiais ucranianos que os acompanhavam no momento da captura. O auto-proclamado presidente da Câmara de Slaviansk, Viacheslav Ponommariov, já tinha anunciado: “Vou libertá-los. São meus convidados e não quero que fiquem feridos”. O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros agradeceu “do coração” o esforço realizado pelo enviado do presidente russo, Vladimir Lukin, para a libertação dos inspetores. Os revoltosos pró-russos acusavam os seis inspetores europeus de estarem a fazer espionagem para a OTAN. O presidente russo, Vladimir Putin, criticou a atuação dos inspetores militares por não coordenarem a sua chegada à região de Donetsk com as forças de “auto-defesa” da região. O governo russo disse que a sua influência sobre as forças “pró-russas” é muito menor do que se pensa, mas Putin aceitou o pedido alemão e enviou Vladimir Lukin para as negociações que demoraram uma semana até os inspetores serem libertados. Os insurretos já tinham libertado um inspetor sueco, devido ao seu estado de saúde e pelo facto da Suécia não ser membro da OTAN. Rússia exige aos EUA que obrigue o governo de Kiev a parar as ações militares no leste da Ucrânia O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, dirigiu-se neste sábado ao secretário de Estado dos EUA e exigiu-lhe que use a sua influência para parar um “conflito mortal entre irmãos” e acusou o governo de Kiev de instigar o incêndio de Odessa.  
  Segundo as agência russas, Lavrov conversou por telefone com Kerry e disse-lhe: “A operação de castigo no sudeste da Ucrânia afundará o país num conflito mortal entre irmãos”. Lavrov falou também com o presidente em funções da OSCE, Didier Burkhalter, e pediu-lhe para velar pelo cumprimento do acordo de Genebra assinado por Ucrânia, Rússia, EUA e UE. Segundo o “Russia Today”, Dimitri Peskov, porta-voz do Kremlin, divulgou um comunicado onde afirma: “A tragédia de Odessa foi produto da conivência de aqueles que se consideram autoridade de Kiev, que permitiram que os extremistas e os radicais tenham queimado pessoas vivas, sendo preciso sublinhar, que estavam desarmadas”. Peskov declarou ainda que “as autoridades de Kiev não só são responsáveis diretas, mas também cúmplices destas atividades criminosas”. Ban Ki-Moon apela ao diálogo Em comunicado, o porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, declarou que “o secretário-geral está profundamente triste pela trágica perda de vidas nos confrontos violentos de ontem na cidade de Odessa” e que apresentou as condolências às famílias. Ban Ki-Moon pede também uma “investigação rápida e conclusiva” sobre a morte de, pelo menos, 36 pessoas no incêndio de Odessa e voltou a insistir que “a única saída para a crise é uma solução política e diplomática”. Obama e Merkel juntos contra a Rússia O presidente norte-americano e a chanceler alemã, nesta sexta-feira num encontro na Casa Branca, voltaram a ameaçar a Rússia com novas sanções se não alterar a sua política sobre a Ucrânia. Obama e Merkel ocuparam a maior parte do tempo a falar da Ucrânia, tendo a chanceler defendido que a UE atue em conjunto “de forma coordenada” e considerou inevitável a aplicação de novas sanções contra a Rússia se a Ucrânia não estabilizar ou se Moscou interferir nas eleições de 25 de Maio. É sinistro que Obama e Merkel se mostrem tão preocupados com eleições num país dividido e em guerra. Tal atitude dos representantes máximos dos EUA e da Alemanha só tem paralelo com o que tem acontecido relativamente ao Iraque e ao Afeganistão.