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Conheça detalhes sobre os cinco meses de manifestações no país europeu por quem esteve lá
Por Vitor Sion, do Opera Mundi
[caption id="attachment_45893" align="alignleft" width="300"] Na Maidan, em Kiev, manifestantes não dão sinais de que deixarão praça e, inclusive, criaram uma plantação (Vitor Sion/Opera Mundi)[/caption]
1) Dois países em um: Ao visitar Kiev e Donetsk hoje, a sensação é de estar em dois países diferentes. Dezenas de bandeiras da União Europeia estão espalhadas pela capital ucraniana, enquanto na cidade do leste do país há homenagens e discursos saudosos a Vladimir Lenin e Josef Stalin e à URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Além disso, de um lado há predominância de forte discurso anticomunista, em contraposição ao antiamericanismo de Donetsk, ambos os traços típicos da Guerra Fria.
2) Organização de acampamentos: Após cinco meses do começo dos protestos que derrubaram Viktor Yanukovich, a Praça Maidan segue ocupada. Diferentemente do que se pode imaginar, porém, os acampados mantêm o local limpo, sem mau cheiro. A disciplina também pode ser vista na proibição de álcool dentro das manifestações, tanto na capital ucraniana como em Donetsk. Dentro dos acampamentos visitados por Opera Mundi, o uso de máscaras era mais forte em Donetsk, onde há medo de futura retaliação judicial, enquanto Kiev há uma maior quantidade de armas de fogo.
3) Idioma: A tentativa de Kiev de se afastar de Moscou esbarra, inclusive, numa característica cultural de sua população: o idioma. A maior parte dos ucranianos costuma utilizar o russo para se comunicar. As duas línguas são ensinadas na escola, mas o ucraniano é mais aplicado na escrita. Os próprios políticos do governo interino preferiram, em sua maioria, dar entrevistas a Opera Mundi em russo.
4) Diferenças entre Crimeia e Donetsk: A tomada de controle da Crimeia pela Rússia após o referendo de 16 de março chamou a atenção pela rapidez. Moscou considera a região fundamental para a segurança de seu território e expulsou os militares ucranianos, mais fracos militarmente. Ao evitar conflito com a Rússia, Kiev pesou não apenas a desproporção das Forças Armadas, mas a importância da península para cada país. Economicamente, sem a Crimeia, a Ucrânia perdeu menos de 3% de seu PIB (Produto Interno Bruto).
[caption id="attachment_45894" align="alignleft" width="300"] Barricadas com pneus são frequentes em Donetsk apenas perto de prédios ocupados; em Kiev, todo centro da cidade tem interrupções do trânsito (Vitor Sion/Opera Mundi)[/caption]
5) Lideranças e hierarquia: O movimento da Praça Maidan levou à formação de um governo interino, composto por países que defendem a integração à União Europeia. No entanto, a maior praça da Ucrânia permanece ocupada por membros desses mesmos grupos, divididos em barracas com bandeiras e os nomes de sua cidades de origem, acompanhados de representantes da extrema direita e apartidários. Hoje não é possível apontar uma liderança entre os manifestantes, mas a entrada em prédios públicos depende sempre de um chefe.
6) Roupas camufladas. Nos anos de governo Yanukovich, o Exército da Ucrânia teve seus orçamento e contingente reduzidos. A fraqueza das Forças Armadas é um dos motivos para o surgimento de voluntários que usam roupas camufladas e se proclamam do Exército nacional, sem estar subordinados a qualquer comando.
7) Tratamento da imprensa: Há uma diferença clara na forma como a imprensa internacional trata os movimentos de Kiev e Donetsk. De maneira semelhante ao que ocorre no governo interino da Ucrânia, manifestantes de Kiev são considerados heróis e, em Donetsk, criminosos ou infiltrados russos. Assim, as notícias muitas vezes nos levam a conclusões erradas, como a de que Kiev está mais calma que Donetsk. Pelo contrário, Donetsk vive uma normalidade maior do que a capital, onde barricadas estão espalhadas pela cidade, deixando o trânsito caótico.