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Para o presidente, intervenção militar russa na Crimeia é uma violação do "direito internacional"
Original de Norman Solomon, do Common Dreams. Traduzido por DCM
O direito internacional tornou-se de repente muito popular em Washington. O presidente Obama respondeu à intervenção militar russa na Crimeia acusando a Rússia de uma “violação do direito internacional”. O secretário de Estado John Kerry declarou que a atitude russa é “uma violação direta, aberta, do direito internacional.”
Infelizmente, durante os últimos cinco anos, nenhum líder mundial tem feito mais para minar o direito internacional do que Barack Obama. Ele o trata com adulação retórica e desprezo comportamental, ajudando a normalizar uma abordagem “quem-pode-pode” sobre assuntos globais que é a antítese do direito internacional.
Cinqüenta anos atrás, outro ex- professor de direito, o senador Wayne Morse, condenou tal arrogância do poder. “Eu não sei por que nós pensamos que, só porque somos poderosos, temos o direito de substituir o direito pela força”, disse Morse na televisão em 1964. “E essa é a política norte-americana no Sudeste Asiático”.
Hoje, o Tio Sam continua no papel de grande xerife do mundo, mesmo quando funciona como o maior bandido do mundo.
Ao invés de lutar por uma avaliação imparcial do direito internacional a mídia dos Estados Unidos está agora paralisada com a vilania do ??Kremlin.
Na noite de domingo, a primeira página do New York Times dizia: “O presidente russo Vladimir Putin continua com sua estratégia de subterfúgios, propaganda e ameaças militares, tendo como objectivo tanto os Estados Unidos e a Europa como a própria Ucrânia”. Essa era a notícia.
Logo depois, um editorial do Times chamado “A agressão da Rússia” condenava “a exploração cínica e escandalosa de Putin da crise ucraniana para assumir o controle da Criméia.” O jornal liberal disse que “os Estados Unidos e a União Europeia devem deixar claro para Putin que ele tem ultrapassado os limites do comportamento civilizado”.
Tais demandas são justas, mas faltam integridade e credibilidade quando os mesmos padrões não são aplicadas ao presidente Obama, cuja continuação da “guerra ao terror” de Bush tem ignorado a lei internacional, bem como o “comportamento civilizado”.
Nestas circunstâncias, a cobertura da mídia dos EUA raramente se aprofunda ou destaca a hipocrisia na Casa Branca.
Em outubro passado a agência de notícias McClatchy informou que “a administração Obama violou o direito internacional com operações de assassinato seletivo ultra-secretos que custaram dezenas de vidas civis no Iêmen e no Paquistão”, segundo relatórios divulgados pela Anistia Internacional e a Human Rights Watch.
Na semana passada, pouco antes de Obama demonstrar sua grande indignação com a “violação do direito internacional” de Putin, o Los Angeles Times publicou um artigo que dava o contexto dessa arrogância presidencial.
“Apesar da insistência do presidente em colocar limites à guerra e ao orçamento de defesa, seu estilo de guerrear ajudou a lançar as bases para um estado permanente de guerra mundial através de campanhas com drones 'e operações de forças especiais’”, escreveu Karen J. Greenberg, diretor do Centro para a Segurança Nacional na faculdade de Direito da Universidade Fordham.
Greenberg insiste no desprezo permanente do governo dos EUA pelo direito internacional. “De acordo com o senador Lindsey Graham, o governo Obama já matou 4 700 pessoas em vários países, incluindo Paquistão, Iêmen e Somália. Obama tem investido nos assassinatos através de drones autorizados pelo Poder Executivo, de tal forma que qualquer futuro presidente herdará, junto com a Casa Branca, uma ‘lista de mortos’. A guerra global agora é parte do que significa ser presidente”.
Mas, especialmente em tempos de crise, como acontece com a atual situação da Ucrânia, tais contradições inconvenientes aparecem. O que resta é um substrato orwelliano, fundindo ideologia conformista e nacionalismo em hipocrisia vermelha-branca-e-azul.