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Os condenados haviam participado dos protestos contra o golpe militar que depôs o presidente eleito, Mohammed Mursi, em agosto de 2013
Por Vinicius Gomes
[ATUALIZAÇÃO] Após a indignação pública internacional após a condenação à morte em massa de 529 apoiadores do presidente deposto Mohammed Mursi, a corte egípcia decidiu por adiar o julgamento de outros 683 supostos membros da Irmandade Muçulmana que ajudou a eleger Mursi, em 2013.
Um oficial do Departamento de Estado em Washington questionou a imparcialidade e validade da condenação à morte de mais de 500 pessoas em um julgamento que durou apenas dois dias: "Enquanto as apelações ainda são cabíveis, simplesmente não parece ser possível que um revisão justa das evidências e testemunhos consistentes com os padrões internacionais possam ter sido cumpridos com 529 réus em um julgamento de dois dias".
Muitos advogados reclamaram não terem sido permitidos à apresentarem seus casos. [FIM DA ATUALIZAÇÃO]
Uma corte do Cairo, capital do Egito, sentenciou 529 membros da Irmandade Muçulmana à morte nesta segunda-feira (24). Os condenados eram parte de um grupo de 545 réus no julgamento pela morte de um coronel e a tentativa de assassinato de outros dois durante um ataque a um quartel da polícia, respondendo ainda por outros atos de violência.
A maioria dos sentenciados foi presa durante os violentos confrontos que eclodiram na província de Mínia, quando as forças militares atacaram dois protestos da Irmandade Muçulmana, em agosto passado. Apesar de a Irmandade alegar ser um movimento de paz, o novo governo militar declarou o grupo como “terrorista”.
Após a onda da Primavera Árabe atingir o Egito, que propiciou a queda do ditador Hosni Mubarak, Mohamed Mursi foi eleito presidente no primeiro pleito democrático em décadas. Como o jornalista Tom Hayden apontou, nada do que Mursi possa ter feito como presidente justificaria o violento golpe militar em 2013, que até agora já resultou em pelo menos 1,4 mil pessoas mortas nos conflitos desencadeados pela deposição, com milhares de presos, de acordo com a Anistia Internacional.
A principal alegação para o descontentamento do povo egípcio seria a de que Mursi estava representando apenas os interesses de seu partido (Partido da Justiça e da Liberdade), um braço político da Irmandade Muçulmana. Este teria sido o seu grande erro. O presidente não teria levado em consideração que a grande maioria dos que participaram dos protestos de 2011 não fazia parte da Irmandade – e eram, na realidade, uma juventude liberal, que se revoltou ao perceber uma “islamização” conservadora no governo
O presidente Barack Obama havia, em um primeiro momento, hesitado em reconhecer a legalidade da ação dos militares – o que, por consequência, suspenderia a ajuda militar de 1,5 bilhão de dólares anuais aos militares egípcios. No entanto, o lobby triangular de republicanos, sauditas e israelenses enfraqueceu uma possível condenação de Washington ao golpe.
De acordo com Hayden, o pior que aconteceu em função da atual situação política do país– fora as prisões e mortes – foi a deterioração nas negociações Palestina-Israel, já que Mursi havia se tornado um mediador importante por conseguir dialogar com o Hamas. Com o egípcio saindo de cena, o Hamas se viu ameaçado novamente na Faixa de Gaza, fazendo com que jihadistas mais radicais voltassem a atacar Israel. Especialistas em segurança israelenses já admitiram que pode ser do interesse do país ter o Hamas como força estabilizadora, pois o grupo seria a “melhor das piores opções”.
Os condenados desta segunda-feira ainda podem recorrer da sentença. Apesar das prisões e mortes de centenas de pessoas por causa da repressão policial, a Irmandade Muçulmana tem mantido os protestos desde julho.