O que também está por trás, e além das fronteiras nacionais, na queda das ações da Petrobras

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Como a Arábia Saudita tem forçado a queda no valor do barril do petróleo e como isso está impactando nas empresas energéticas do mundo e em diversos países, principalmente Rússia e Irã Por Vinicius Gomes Existem muito mais coisas a respeito das manchetes pessimistas que destacam a queda nas ações da Petrobras que em um exercício de preguiça intelectual, associam a desvalorização da estatal exclusivamente às investigações de corrupção escancaradas pela operação Lava Jato da Polícia Federal, sem levar em consideração que a Petrobras, assim com todas as outras companhias petrolíferas, está à mercê da especulação do mercado e às inconstâncias dos movimentos geopolíticos de diversos personagens que envolvem o “ouro negro”. oil_stocksUma rápida checada pelas notícias matinais de hoje (16), revelam que as ações da Bolsa de Valores de Dubai fecharam com suas maiores baixas no ano. Assim como a bolsa de índices de futuro dos EUA. Segundo o portal Bloomberg, o mercado europeu teve seu sétimo dia consecutivo de queda, as ações de mercados emergentes recuaram e o rublo se desvalorizou 80 para 1 em relação ao dólar, mesmo com o banco central russo decidindo por elevar sua taxa de juros de 10,5% para 17%. Entre ontem e hoje, as ações de três de empresas estrangeiras como ExxonMobbil, Chevron e Shell também sentiram os efeitos da inconstância do mercado (figura ao lado). Muitos interpretam a decisão da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) ee manter a sua meta de produção em 30 milhões de barris ao dia, mesmo diante de preços mais baixos nos últimos meses, como uma tentativa de conter o avanço da exploração de petróleo dos EUA por fracking - o que fez com que o país atingisse seu maior nível de produção em 30 anos, e assim, diminuindo a importação de petróleo por parte dos norte-americanos. Mas seria apenas isso que explicaria a ansiedade para com a queda nos preços do petróleo? Quais seriam então as reais forças por trás dessa queda? Arábia Saudita: o país por trás da cortina Desde final de outubro desse ano, os preços do petróleo despencaram, fazendo com que os países produtores viram seus investimentos ameaçados quando as cotações nos grandes centros tombaram aos níveis mais baixos desde novembro de 2010, ao mesmo tempo em que os governos viram aumentar muito a pressão sobre os equilíbrios comercial e fiscal das contas públicas. Em artigo publicado no The Guardian, Larry Elliot afirma que a manobra de os EUA usarem a Arábia Saudita para inundarem o mercado com petróleo, a fim de derrubar o seu preço, tem dois alvos: Rússia e Irã. De acordo com Elliot, os especialistas apostam que a nova manobra tem como objetivo colocar pressão em Teerã e Moscou, que são economicamente dependentes de exportações de petróleo, para que estes diminuam seu apoio ao regime de Bashar al-Assad – no caso da Rússia a ação também visa enfraquecer sua vontade política na questão da Ucrânia. A manobra arriscada assume que os sauditas possam viver com o preço baixo do barril do petróleo por mais tempo que os russos e os iranianos possam. A Arábia Saudita, que produz cerca de 10 milhões de barris por dia (um terço do que todos os países da Opep produzem) já havia afirmado estar “confortável” com o preço do petróleo abaixo de 90 dólares, e talvez abaixo de 80 dólares, por até dois anos. Outros países que ainda continuariam superavitários – levando em consideração o seu preço de equilíbrio fiscal - com o preço baixo do barril seria Kuwait, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Já o Irã... O preço de equilíbrio fiscal é o preço mínimo de petróleo que mantém equilibradas as contas públicas dos principais países exportadores de petróleo. De acordo com o professor André Ghirardi, a importância de se levar isso em consideração se dá porque quando os preços estão acima do nível de equilíbrio fiscal, os países exportadores acumulam reservas; o contrário ocorre quando petróleo cai abaixo desse nível: “Nos países onde o petróleo é a principal fonte de receitas tributárias e produto de exportação, a arrecadação com a venda do produto garante o pagamento de salários, de benefícios previdenciários, e os investimentos na infraestrutura de serviços públicos. A queda brusca na receita pode frear o gasto público e gerar insatisfação, ou mesmo instabilidade social e política”. É possível, uma vez que a Arábia Saudita usar o petróleo como arma diplomática está longe de ser novidade: aconteceu em 1973 durante a guerra do Yom Kippur; em 1980 para desestabilizar o regime de Saddam Hussein e agora, tal ação teria sido acordada entre o secretário de estado dos EUA John Kerry e o rei saudita Abdullah em setembro passado, para que a Arábia Saudita vendesse seu petróleo com preços abaixo do mercado. “Isso ajudaria a explicar por que os preços continuaram a cair em uma época, onde o caos, causado pelo Estado Islâmico no Iraque e na Síria, faria com que o preço subisse”, escreveu Elliot. Os efeitos destrutivos e desestabilizadores dessa ação por enquanto está limitada à queda nas ações de diversas empresas petrolíferas como ExxonMobbil, Chevron, Shell e, claro, a Petrobras – entre outras. Para o jornalista Mike Whitney, os sinais de “contágio” no mercado financeiro já se tornaram claros, quando “na última semana a queda nos preços passaram a ter impacto em mercados de créditos, onde os investidores estão se livrando de qualquer coisa que pareça ‘instável’”. Conforme escreveu Whitney, a insurgência liderada pelos sauditas colocou as ações globais em queda vertiginosa e disparado um pânico nos mercados de créditos, “enquanto Washington mantém um resoluto silêncio [...] naquilo que só pode ser descrito como um ato deliberado de terrorismo financeiro”.