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Governo e os grupos rebeldes concordaram em congelar suas posições, abrindo corredores para as organizações que tentam enviar alimentos e medicamentos aos que necessitam
Por Andrew Green, da IPS/Envolverde
A gigantesca tarefa de levar assistência aos mais de 500 mil refugiados e feridos no Sudão do Sul poderá ser um pouco facilitada com a assinatura em Adis Abeba de um acordo de cessar-fogo, que entrou em vigor no dia 24. O governo e os grupos rebeldes, que travam combates há mais de cinco semanas, acordaram na capital etíope congelar suas posições e abrir corredores para as organizações humanitárias que tentam desesperadamente enviar alimentos e medicamentos aos que necessitam.
[caption id="" align="alignleft" width="480"] Um barco com mulheres e crianças chega a Mingkaman, no condado de Awerial. Em menos de um mês, cerca de 84 mil pessoas cruzaram o Nilo fugindo dos combates
(Foto Mackenzie Knowles-Coursin/IPS)[/caption] Agora que têm acesso, os trabalhadores dedicados à ajuda temem descobrir uma crise humanitária ainda maior do que a que imaginavam. Enquanto isso, permanecem as dúvidas quanto ao acordo efetivamente ser respeitado nesse país da África oriental, que ficou independente apenas em 2011. Os primeiros enfrentamentos no Sudão do Sul ocorreram em 15 de dezembro dentro de quartéis militares de Juba, e rapidamente se propagaram para o resto da capital. O presidente, Salva Kiir, acusou seu rival político, Riek Machar, que foi vice-presidente de seu governo, de orquestrar um golpe de Estado. Machar negou, mas desde então lançou abertamente uma rebelião contra o governo. Nas primeiras semanas do conflito ocorreram enfrentamentos entre o exército e as forças opositoras em ao menos sete Estados do país. Os rebeldes tomaram o controle de três capitais estaduais, embora o governo as tenha recuperado rapidamente. Organizações assistenciais suspeitam que milhares de pessoas teriam morrido e outras tantas ficado feridas, mas é impossível confirmar neste momento porque o acesso a várias áreas do país é limitado. O que está claro é que as cinco semanas de combates criaram uma grave crise humanitária. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que haja ao menos 494 mil refugiados, cerca de um décimo da população. Menos da metade recebeu assistência até agora. Outros 86 mil sul-sudaneses teriam fugido para países vizinhos. Jacob Kurtzer, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ressaltou que a necessidade é enorme. “Vimos refugiados sem quaisquer pertences pessoais, deixando suas casas sem terem nenhum abrigo elementar e com pouquíssima comida”, disse à IPS. “Sempre estamos preocupados pelo saneamento, e o mínimo que as pessoas feridas necessitam é cuidado médico. Estamos tentando cobrir todas essas necessidades de forma simultânea”, acrescentou. Nos dias anteriores ao acordo de Adis Abeba, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lançou por aviões 70 toneladas de suprimentos de emergência e medicamentos, para distribuição entre mulheres e crianças de todo o país. Pelo menos 70 mil pessoas procuraram abrigo nas bases da ONU, mas as limitações de espaço e escassez de serviços sanitários ameaçam provocar doenças. O Unicef alertou para um foco de sarampo em alguns dos acampamentos, e decidiu lançar duas campanhas de vacinação de emergência. O subdiretor de operações de emergência do Unicef, Dermot Carty, disse à IPS que a imprevisibilidade dos combates torna praticamente impossível antecipar uma resposta sustentada. Os planos do Unicef para alcançar 70 mil refugiados na semana passada no condado de Awerial, nordeste do Estado de Jonglei, tiveram que ser adiados no último minuto quando aconteceram combates de surpresa, informou. “Estávamos todos prontos para partir e, de repente, a situação de segurança mudou e tivemos que ficar”, acrescentou. Agora que está em vigor o cessar-fogo, o governo sul-sudanês, a ONU e as organizações humanitárias esperam que essas interrupções não aconteçam mais e que centenas de milhares de pessoas possam receber ajuda. Mas um melhor acesso poderia revelar uma necessidade ainda maior de ajuda. Paul Akol, legislador de Jonglei e membro do Comitê de Manejo de Crise do governo de Kiir, viajou com uma equipe para a capital desse Estado, Bor, que o governo conseguiu recuperar na semana passada. Akol contou que ainda havia muitos cadáveres abandonados nas ruas da cidade. “São cidades em teoria, agora nada existe nelas. As casas estão destruídas. As lojas estão destruídas. A pouca infraestrutura construída no período interino está completamente destruída”, ressaltou à IPS. O legislador estimou em meses, quando não em anos, o prazo para os habitantes de todas essas regiões poderem reconstruir suas vidas. Akol suspeita que as equipes de resposta de emergência encontrarão a mesma situação quando chegarem a outras áreas que foram cenário de intensos combates. Com poucas ruas pavimentadas e grande parte do território propenso a sofrer inundações, nesse país já era difícil transitar e a destruição em grande escala durante o conflito tornou mais difícil e caro o transporte. Kurtzer disse que sua organização já previa que a resposta de ajuda ao Sudão do Sul seria “uma das mais caras do ano”. E acrescentou que “até certo grau, isso reflete o desafio de operar nesse ambiente particular. Mas creio que também reflete a escala das necessidades” da população. A ONU lançou um pedido de emergência de US$ 209 milhões só para atender a crise intermediária, mas calculou que o país precisa de uma ajuda total de US$ 1,14 bilhão durante o ano. E isso se a situação política não se agravar ainda mais. O diretor da Oxfam, José Barahona, disse à IPS que não havia garantia disso. “Não esperamos que o cessar-fogo signifique que no outro dia não haverá mais disparos. Há muita gente com armas. Há todo tipo de grupos armados. Creio que não podemos ser ingênuos”, advertiu. Tampouco está claro se todas as forças rebeldes que combatem no país são leais a Machar e se respeitarão o acordo. Isso poderia supor um contínuo perigo para centenas de milhares de pessoas em todo o país, e mais dificuldades para as organizações que procuram ajudá-las.
(Foto Mackenzie Knowles-Coursin/IPS)[/caption] Agora que têm acesso, os trabalhadores dedicados à ajuda temem descobrir uma crise humanitária ainda maior do que a que imaginavam. Enquanto isso, permanecem as dúvidas quanto ao acordo efetivamente ser respeitado nesse país da África oriental, que ficou independente apenas em 2011. Os primeiros enfrentamentos no Sudão do Sul ocorreram em 15 de dezembro dentro de quartéis militares de Juba, e rapidamente se propagaram para o resto da capital. O presidente, Salva Kiir, acusou seu rival político, Riek Machar, que foi vice-presidente de seu governo, de orquestrar um golpe de Estado. Machar negou, mas desde então lançou abertamente uma rebelião contra o governo. Nas primeiras semanas do conflito ocorreram enfrentamentos entre o exército e as forças opositoras em ao menos sete Estados do país. Os rebeldes tomaram o controle de três capitais estaduais, embora o governo as tenha recuperado rapidamente. Organizações assistenciais suspeitam que milhares de pessoas teriam morrido e outras tantas ficado feridas, mas é impossível confirmar neste momento porque o acesso a várias áreas do país é limitado. O que está claro é que as cinco semanas de combates criaram uma grave crise humanitária. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que haja ao menos 494 mil refugiados, cerca de um décimo da população. Menos da metade recebeu assistência até agora. Outros 86 mil sul-sudaneses teriam fugido para países vizinhos. Jacob Kurtzer, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ressaltou que a necessidade é enorme. “Vimos refugiados sem quaisquer pertences pessoais, deixando suas casas sem terem nenhum abrigo elementar e com pouquíssima comida”, disse à IPS. “Sempre estamos preocupados pelo saneamento, e o mínimo que as pessoas feridas necessitam é cuidado médico. Estamos tentando cobrir todas essas necessidades de forma simultânea”, acrescentou. Nos dias anteriores ao acordo de Adis Abeba, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lançou por aviões 70 toneladas de suprimentos de emergência e medicamentos, para distribuição entre mulheres e crianças de todo o país. Pelo menos 70 mil pessoas procuraram abrigo nas bases da ONU, mas as limitações de espaço e escassez de serviços sanitários ameaçam provocar doenças. O Unicef alertou para um foco de sarampo em alguns dos acampamentos, e decidiu lançar duas campanhas de vacinação de emergência. O subdiretor de operações de emergência do Unicef, Dermot Carty, disse à IPS que a imprevisibilidade dos combates torna praticamente impossível antecipar uma resposta sustentada. Os planos do Unicef para alcançar 70 mil refugiados na semana passada no condado de Awerial, nordeste do Estado de Jonglei, tiveram que ser adiados no último minuto quando aconteceram combates de surpresa, informou. “Estávamos todos prontos para partir e, de repente, a situação de segurança mudou e tivemos que ficar”, acrescentou. Agora que está em vigor o cessar-fogo, o governo sul-sudanês, a ONU e as organizações humanitárias esperam que essas interrupções não aconteçam mais e que centenas de milhares de pessoas possam receber ajuda. Mas um melhor acesso poderia revelar uma necessidade ainda maior de ajuda. Paul Akol, legislador de Jonglei e membro do Comitê de Manejo de Crise do governo de Kiir, viajou com uma equipe para a capital desse Estado, Bor, que o governo conseguiu recuperar na semana passada. Akol contou que ainda havia muitos cadáveres abandonados nas ruas da cidade. “São cidades em teoria, agora nada existe nelas. As casas estão destruídas. As lojas estão destruídas. A pouca infraestrutura construída no período interino está completamente destruída”, ressaltou à IPS. O legislador estimou em meses, quando não em anos, o prazo para os habitantes de todas essas regiões poderem reconstruir suas vidas. Akol suspeita que as equipes de resposta de emergência encontrarão a mesma situação quando chegarem a outras áreas que foram cenário de intensos combates. Com poucas ruas pavimentadas e grande parte do território propenso a sofrer inundações, nesse país já era difícil transitar e a destruição em grande escala durante o conflito tornou mais difícil e caro o transporte. Kurtzer disse que sua organização já previa que a resposta de ajuda ao Sudão do Sul seria “uma das mais caras do ano”. E acrescentou que “até certo grau, isso reflete o desafio de operar nesse ambiente particular. Mas creio que também reflete a escala das necessidades” da população. A ONU lançou um pedido de emergência de US$ 209 milhões só para atender a crise intermediária, mas calculou que o país precisa de uma ajuda total de US$ 1,14 bilhão durante o ano. E isso se a situação política não se agravar ainda mais. O diretor da Oxfam, José Barahona, disse à IPS que não havia garantia disso. “Não esperamos que o cessar-fogo signifique que no outro dia não haverá mais disparos. Há muita gente com armas. Há todo tipo de grupos armados. Creio que não podemos ser ingênuos”, advertiu. Tampouco está claro se todas as forças rebeldes que combatem no país são leais a Machar e se respeitarão o acordo. Isso poderia supor um contínuo perigo para centenas de milhares de pessoas em todo o país, e mais dificuldades para as organizações que procuram ajudá-las.