Caso Neymar e a matemática da corrupção boleira

O problema não é o preço de Neymar, mas sim, omiti-lo. Isso é sinal de que alguém levou um dinheiro a mais e quis escondê-lo

(Christopher Johnson/Wikimedia Commons)
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O problema não é o preço de Neymar, mas sim, omiti-lo. Isso é sinal de que alguém levou um dinheiro a mais e quis escondê-lo Por José Roberto Torero, na Carta Maior Neymar não dribla apenas zagueiros. Também dribla contratos e leis. Na verdade, todos os envolvidos na sua ida para o Barcelona são grandes dribladores. Ou pensam que são. Como foram descobertos, não são tão bons assim. Vamos aos números: Oficialmente os direitos federativos de Neymar custaram 17,1 milhões de euros. Mas o total gasto pelo Barcelona, segundo o próprio clube, teria sido 57 milhões de euros. Para entender esta diferença, um sócio do Barcelona entrou na justiça pedindo esclarecimentos. E aí descobriu-se que Neymar, na verdade, tinha custado 95 milhões de euros. [caption id="attachment_40859" align="alignleft" width="420"] Transação torna Neymar o jogador mais caro da história, passando Cristiano Ronaldo, que custou 94 milhões de euros ao Real Madrid (Christopher Johnson/Wikimedia Commons)[/caption] Isso o transforma no jogador no mais caro da história, passando Cristiano Ronaldo, que custou 94 milhões de euros ao Real Madrid. Dinheiro escondido é dinheiro sujo O problema não é o preço de Neymar, mas sim, omiti-lo. Isso é sinal de que alguém levou um dinheiro a mais e quis escondê-lo. As táticas para driblar a lei foram variadas. O pai de Neymar, por exemplo, recebeu três comissões estranhas: dois milhões de euros para que ele busque “novas promessas no Santos” (sendo que ele nunca descobriu nenhum outro jogador), quatro milhões por um suposto trabalho de captação de “contratos de publicidade com empresas brasileiras” (o que não é sua especialidade), e mais 2,5 milhões (sempre de euros) para fins sociais (sem que se especifique que fins são esses). O curioso é que estes 8,5 milhões de euros não pedem qualquer tipo de contrapartida. Se ele não trouxer novos craques, novos contratos ou se não investir um centavo em programas sociais, não faz a menor diferença. Ou seja, é apenas um jeito de pagar por fora. DIS que diz Há alguns anos, ainda na gestão de Marcelo Teixeira, a DIS (braço esportivo do grupo Sonda) comprou por R$ 5,5 milhões 40% do craque. Uma pechincha espetacular, até suspeita, que certamente prejudicou o clube. Provavelmente o Santos achou que era a hora de dar o troco, e aí maquiou a venda. Diz que vendeu o craque por 17,1 milhões de euros, com o que pagaria 6,8 mi à DIS (22,2 milhões de reais, um lucro de apenas 300%). Mas o contrato diz que o Barcelona pagará 9 milhões de euros por dois amistosos com o Santos (o que significa que o Santos vale três vezes mais que a seleção brasileira). Ou seja, foi um modo de pagar mais ao Santos pelo jogador. E ainda houve uma estranha compra de prioridade na contratação de três jogadores santistas (Gabigol, Giva e Victor Andrade) por quase oito milhões de euros. Compra que não precisaria estar ligada à venda de Neymar. N&N ou $&$? Mas os números mais estranhos da venda são para a empresa N&N. Os enes são de Neymar e Nadine, pais do jogador. A empresa recebeu nada menos do que 40 milhões de euros. Mais do que o dobro dos 17,1 milhões pagos pelos direitos federativos do jogador. Não é curioso uma empresa que não é dona dos direitos de Neymar receber mais de 120 milhões de reais? Segundo Jordi Cases, torcedor que pediu vistas ao contrato e é um dos líderes da oposição dentro do Barcelona, parte do 40 milhões seria repassada aos bolsos de Sandro Rosell, o presidente do Barcelona que contratou Neymar. Quando o teor do contrato foi divulgado pelo jornal “El Mundo”, Rosell rapidamente realizou o movimento de defesa padrão dos corruptos: fez ar de indignado e pediu demissão. Rosell não cheira bem Sandro é um velho conhecido do Brasil. Por exemplo, você se lembra do contrato da CBF com a Nike, quando a empresa praticamente ficou dona da seleção brasileira, o que até gerou uma CPI? Pois quem cuidava da seleção para a Nike do Brasil era justamente Sandro Rosell. E uma de suas empresas, a Uptrend, é acusada de receber R$ 25 milhões desviados de recursos provenientes de 24 amistosos da seleção brasileira. Você se lembra do amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008, que custou R$ 9 milhões? O dinheiro foi parar na conta da Ailanto, outra empresa de Rosell, que por coincidência tinha sede na fazenda de Ricardo Teixeira. Aliás, a amizade de Rosell e Teixeira é muito grande. O primeiro chamou o segundo de “amigo de verdade” em sua biografia “Bienvenido al mundo real”, lançada em 2010. E, prova maior de amizade, fez um depósito bancário de R$ 3,8 milhões na conta da filha caçula do brasileiro. Um belo presente. O quê? Você acha que é divisão de propina? Ah, as pessoas não confiam em ninguém hoje em dia...