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Imagens gravadas com celular mostram tratamento de "desinfecção de sarna" dispensado a estrangeiros ilegais que tentam entrar no continente
Por Ítalo Piva
Imagens feitas com telefone celular divulgadas na RAI2, emissora estatal italiana, chocaram os europeus ao mostrar imigrantes na ilha de Lampedusa sendo forçados a ficarem nus e serem "lavados" com mangueira por funcionários do centro de acolhimento. O local é usado para deter refugiados da África e Oriente Médio que fazem a perigosa travessia do Mediterrâneo para Itália, em tentativas desesperadas de entrar na Europa. O "tratamento", de acordo com a empresa que gerencia o estabelecimento, é para "desinfecção contra sarna".
As imagens mostram homens e meninos fazendo fila, tirando toda a roupa. Dois deles são vistos em pé totalmente nus. Um está de braços abertos sendo "lavado" com mangueira enquanto outros tentam cobrir as partes intimas com as mãos. O vídeo foi gravado por um imigrante enquanto outro fazia o comentário. Um dos dois, identificado apenas como ‘Khalid’, diz que ele e os companheiros refugiados foram tratados “como animais”.
[caption id="attachment_38535" align="alignleft" width="400"] Vídeo mostra imigrantes submetidos à "desinfecção contra sarna" (Reprodução)[/caption]
Segundo o jornal Corriere della Serra, 26 dos asilados que levaram o banho de mangueira são aparentemente sobreviventes do naufrágio perto de Lampedusa ocorrido em outubro, que matou 350 pessoas. O jornal acrescenta que "o vídeo foi gravado no dia 13 de dezembro, mas os presos afirmam que isso acontece uma vez por semana”.
Campos de concentração
A organização que gerencia o centro, a cooperativa Lampedusa Accoglienza, foi rápida em culpar os imigrantes. Seu diretor executivo, Cono Galipo, sustenta que os presos decidiram tirar as roupas de livre espontânea vontade. “O tratamento que estávamos realizando, que está de acordo com os termos de um protocolo, estava demorando uma hora e meia e em algum momento alguns dos imigrantes perderam a paciência e tiraram as roupas. Obviamente eles encenaram o que é visto”.
O prefeito de Lampedusa, Giusi Nicolini descreveu as imagens como “parecidas com um campo de concentração...". "Deve envergonhar Lampedusa e a Itália...Precisa mudar...Não era isso que esperávamos ver apenas dois meses depois do acidente que gerou tantas lágrimas e promessas”, disse. Já o primeiro ministro italiano Enrico Letta afirmou que ficou “chocado” com a gravação. “O governo irá conduzir um inquérito detalhado e levará à Justiça aqueles responsáveis.”
Cecilia Malmstrom, chefe da comissão de relações internas da União Europeia, relatou que “as imagens divulgadas do centro de detenção em Lampedusa são grotescas e inaceitáveis”. “Já lançamos uma investigação das condições horrorosas em vários centros de detenção Italianos, inclusive o de Lampedusa.” Ontem (19), o governo italiano anunciou a rescisão do contrato com a empresa que gerenciava os centros de acolhimento de imigrantes em Lampedusa, por conta das denúncias.
Nesta quinta e sexta feira, líderes da União Europeia se encontram para discutir o futuro da política de migração, mas nada que está na pauta de debates diz respeito aos direitos de migrantes ou àqueles que estão procurando asilo. Uma das medidas discutidas propõe aumentar a vigilância das fronteiras contra a imigração ilegal.
Com informações de World Socialist Website