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Blackwater, a maior empresa militar privada dos EUA, foi contratada por governos do Golfo Pérsico para apoiar a luta dos rebeldes contra Bashar Al-Assad
Por Correio do Brasil
O portal libanês de notícias Lebanon Press publicou, nesta quinta-feira, denúncia sobre a contratação da empresa militar privada norte-americana Blackwater, pelo príncipe Bandar Bin Sultan, chefe da Inteligência Geral e secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional da Arábia Saudita, e pelo governo do Catar. O destino das tropas de mercenários, segundo a denúncia, é o apoio aos grupos paramilitares que lutam na Síria contra o governo do presidente Bashar Al-Assad, em mais uma evidência da ingerência externa no conflito.
De acordo com o Lebanon Press, seus governos têm empregado mercenários estrangeiros, como os da Blackwater, para eliminar os comandantes do Exército árabe-sírio e para realizar operações terroristas no território libanês, na tentativa de enfraquecer o Movimento de Resistência Islâmica, o Hezbollah, que apoia as tropas oficiais sírias no combate aos grupos armados. Além das tropas da Blackwater, a Arábia Saudita e o Catar estariam financiando e mobilizando também outros grupos compostos por soldados dos Exércitos dos EUA, do Reino Unido e de Israel para apoiar os paramilitares na Síria.
[caption id="attachment_38463" align="alignleft" width="360"] Fonte: PressTV[/caption]
De acordo com a matéria, a empresa norte-americana tem desempenhado um papel secreto na piora da situação nos países árabes afetados pela crise síria, que já transbordou as suas fronteiras. Exemplos são o Egito, a Tunísia e a Líbia, com ações como o assassinato dos opositores ao regime destes países e do ataque a instalações do Exército e da polícia.
A eliminação do Hezbollah e a derrubada do governo sírio são considerados os principais objetivos da Arábia Saudita e do Catar na região, principalmente depois da suspensão de uma intervenção militar dos Estados Unidos contra a Síria, decisão que os sauditas criticaram pública e reiteradamente. Além disso, o emprego da Blackwater no conflito já foi denunciado, em 2012, o envolvimento dos mercenários norte-americanos no treinamento paramilitar, com campos montados na Turquia.
Terror nas cadeias
Com o apoio dos mercenários contratados nos EUA, militantes islâmicos estão perpetrando “um chocante catálogo de abusos” em prisões secretas no norte da Síria, incluindo torturas, açoites e execuções sumárias, disse a Anistia Internacional nesta quinta-feira. Em relatório, a entidade de direitos humanos disse que o Estado Islâmico no Iraque e no Levante, um grupo afiliado à Al Qaedae ativamente envolvido na guerra civil contra o presidente Bashar al-Assad, está operando sete prisões clandestinas em áreas controladas por rebeldes.
Os prisioneiros são acusados de crimes que variam de furto a ofensas contra o islamismo, como o tabagismo e o adultério. Outros são presos simplesmente por contestar a autoridade do grupo ou por pertencer a grupos armados rivais, diz o relatório.
– Entre os capturados e detidos há crianças a partir de 8 anos, mantidas juntas com adultos nas mesmas condições cruéis e desumanas – disse Philip Luther, diretor da Anistia para o Oriente Médio e Norte da África.
De acordo com o relatório, várias crianças receberam açoites severos, e em uma ocasião um pai precisou escutar os gritos de seu filho num cômodo próximo. Dois detentos disseram ter testemunhado um menino de cerca de 14 anos recebendo 90 chibatadas na prisão de Raqqa. Outro adolescente, mais ou menos da mesma idade, acusado pelo grupo de furtar uma moto, também foi repetidamente açoitado por vários dias.
– Açoitar qualquer um, ainda mais uma criança, é cruel e desumano, e um flagrante abuso dos direitos humanos – disse Luther.
A Anistia pediu ao mundo que contenha o fluxo de armas para o grupo islâmico e para outros movimentos armados acusados de abusos e crimes de guerra, e que a Turquia em especial deve impedir que jihadistas e armas se infiltrem no norte da Síria. Países árabes que apoiam os rebeldes e são vistos como a principal fonte de financiamento para os grupos radicais armados também deveriam restringir o fluxo de armas e equipamentos, segundo a Anistia.
O domínio do Estado Islâmico no Iraque e no Levante e de outros grupos radicais está ofuscando a atuação de rebeldes mais moderados, apoiados pelo Ocidente, e causando divisões na campanha militar contra Assad. Muitos países ocidentais veem com alarme a criação de um reduto da Al Qaeda no norte da Síria.
Os grupos islâmicos rejeitam a conferência de paz da Síria a ser realizada no mês que vem em Genebra, reunindo pela primeira vez o governo de Assad e seus adversários desde o início da guerra civil, em 2011.