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Da Casa Branca ao Parlamento Europeu, da Rússia a Brasília: como a espionagem voltou para as manchetes no mundo
Por Vinicius Gomes
A novela sobre a espionagem norte-americana ao redor do planeta realizada pela Agência Nacional de Segurança (NSA) tem tido importantes episódios, e possíveis reviravoltas, desde o início dessa semana.
Ainda no domingo (15), vieram a público algumas declarações do principal oficial da NSA ligado ao caso Snowden sobre uma possível anistia concedida pela agência ao ex-analista, em troca da devolução de todas as informações retiradas pela agência. No entanto, logo em seguida a hipótese foi descartada pela Casa Branca, que reiterou sua posição de não considerar nada fora o retorno de Snowden aos EUA para julgamento.
No dia seguinte, segunda-feira (16), um juiz federal de Washington ganhou as manchetes ao validar o pedido de processo contra a coleta e armazenamento de informações pessoais feitos pela NSA. O juiz Richard Leon sugeriu que as ações da agência são inconstitucionais, duvidando da eficiência de tais programas de vigilância, uma vez que “o governo não conseguiu citar um único caso onde a coleção de informações da NSA conseguiu impedir um ataque terrorista iminente”. Foi então a vez de Edward Snowden voltar a se pronunciar, após um longo silêncio, na segunda-feira, quando disse ter recebido bem a decisão do juiz Leon, argumentando que ela “justificava suas revelações”.
[caption id="attachment_38364" align="alignleft" width="339"] A novela da espionagem da NSA promete novos capítulos (Fonte:Uipi)[/caption]
Ontem (17), veio a público uma “carta aberta ao Brasil” escrita por Snowden, na qual ele se oferecia para ajudar a CPI da Espionagem no Senado, sugerindo que atuaria melhor se estivesse em solo brasileiro, ou, o que praticamente todos os jornais do mundo interpretaram – provavelmente de maneira correta – como uma troca de ajuda por asilo político. O timing não poderia ter sido melhor, já que para o mesmo dia estava marcada uma sessão da CPI em Brasília e o assunto “asilo para Snowden”, entrou na pauta.
Na mesma terça, o presidente estadunidense Barack Obama se reuniu com diretores das principais empresas de tecnologia como Google, Apple, Facebook, entre outras, após ter recebido uma carta pedindo à Casa Branca uma reforma nos programas de espionagem, com uma maior transparência no monitoramento virtual.
Enquanto isso, na Europa...
A semana começou com a publicação de que a chanceler alemã Angela Merkel teria comparado, em conversa pouco amistosa com Obama, a NSA à antiga agência de espionagem da Alemanha Oriental que ficou conhecida por vigiar a vida de sua população: “Isso é como a Stasi!”.
O irônico é que Merkel não seria totalmente contra a espionagem praticada pelos EUA – como deu a entender sua aliança com a presidente Dilma Rousseff, na ONU. Além disso, Berlim parece procurar apenas um acordo bilateral de “não-espionagem” com os EUA entre aliados.
O grande problema é que a Europa se encontra dividida no tópico espionagem. Enquanto o jornalista Glenn Greenwald comparece no Parlamento Europeu e, de certa forma, acusa grande parte dos países europeus de “apatia e indiferença” – apesar das recentes declarações – é de conhecimento público que a inteligência britânica espionou – sistematicamente – o governo italiano com o auxílio da NSA e que os governos da França e da Espanha também usaram de seus próprios serviços de inteligência para ajudar os EUA. Até mesmo a Noruega trabalhou para a NSA contra a Rússia. Ou seja, a espionagem é amplamente aceita por todos, de fato, ela é quase tão antiga quanto a própria guerra. O grande problema foi que finalmente a opinião pública tomou conhecimento do quão invasivo essas agências podem ser.
Mesmo assim, o Parlamento Europeu votou para que Edward Snowden fizesse um depoimento sobre a espionagem da NSA por videoconferência, que provavelmente será marcado para janeiro de 2014.