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Depois da tragédia em Lampedusa, União Europeia aumenta vigilância; para Anistia Internacional, líderes deveriam se envergonhar de como têm tratado as pessoas que fogem do conflito
Por Vinicius Gomes
[caption id="attachment_38075" align="alignleft" width="300"] Campo de refugiados na Bulgária: segundo a ONU, 2,3 milhões de sírios deixaram o país desde 2011 (Foto: Reprodução/Amnesty International)[/caption]
Nesta sexta-feira (13), a Anistia Internacional liberou um relatório intitulado “Uma falha internacional: a crise dos refugiados na Síria”. A ONG não mediu palavras ao afirmar que os líderes europeus deveriam estar envergonhados de como estão lidando com os refugiados fugindo do conflito brutal que dura há mais de dois anos.
“A União Europeia tem falhado miseravelmente em cumprir sua parte de prover um lugar seguro para os refugiados que perderam tudo, exceto suas vidas”, disse o secretário-geral da organização, Salil Shett. A UE ofereceu apenas 12.340 lugares dos 30 mil que o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (UNHCR) tinha como objetivo. Apenas dez países membros se ofereceram para receber os refugiados de acordo com o relatório, sendo que pela Alemanha, 10 mil.
Muitos refugiados chegam às “portas de entrada” da Europa, que são Grécia e Bulgária. Entretanto, como é praticamente impossível para eles chegarem ao continente “legalmente”, a organização alega que as condições de vida para os refugiados são horríveis: “É deplorável que muitos daqueles que arriscaram suas vidas para chegar à Europa são forçados a retornarem ou detidos em condições repulsivas com alimentação, água ou tratamento médico insuficientes”.
Um refugiado descreveu como as autoridades gregas o trataram junto a outras 35 pessoas, assim que chegaram às praias gregas, em outubro: “Eles deitaram todos os homens no barco, depois pisaram em nós e nos bateram com suas armas por três horas. E então, após terem removido o motor de nosso barco e nos colocado em nosso barco de plástico, nos levaram de volta às águas turcas e nos deixaram no meio do mar”.
A “Fortaleza Europeia”
A ONU estima que quase 2,3 milhões de sírios deixaram para trás suas casas desde março de 2011, a maioria se concentrando nos países vizinhos Líbano, Jordânia, Turquia e até Iraque. Pelo menos 55 mil conseguiram romper a “Fortaleza Europeia” em busca de refúgio, sendo que a Suécia foi o país que mais ofereceu residência permanente, pelo menos 14 mil até o momento.
Nos últimos anos, a União Europeia tem endurecido a vigilância em suas fronteiras – principalmente após a tragédia em outubro, onde mais de 300 pessoas perderam suas vidas, vindas do norte da África, tentando chegar à Itália.
A Comissão Europeia passou a pressionar os países membros para que se estabeleçam patrulhas cobrindo todo o Mar Mediterrâneo, "do Chipre à Espanha", como noticiou o "The Telegraph".
As patrulhas, segundo Bruxelas, servirão para salvar vidas e evitar tragédias como a de Lampedusa, mas também é possível dizer que a ala defensora de leis de imigração mais rígidas dentro do bloco, use o episódio como desculpa para fechar ainda mais suas fronteiras.
Maior vigilância funciona?
Segundo o relatório da Anistia Internacional, entre 2011 e 2013, a UE entregou para a Grécia uma quantia de quase 230 milhões de euros, com o propósito de ampliar o controle de suas fronteiras e a capacidade para detenção. Paradoxalmente, eles ofereceram – durante o mesmo período – apenas 12 milhões de euros para apoiar a Grécia a receber refugiados.
Seria essa medida - de maior patrulha nas fronteiras - a resposta? Análises apontam que não. Logo no dia seguinte da tragédia de Lampedusa, por exemplo, importantes jornais europeus como o italiano La Stampa, o britânico The Guardian e o espanhol El País disseram, que na realidade, justamente o contrário pode acontecer.
Endurecer os controles de fronteira, aumentar a vigilância, colocar cercas, mais barcos no mar, entre outras medidas de "segurança", não irão evitar que pessoas fugindo de guerra e pobreza, risquem a Europa da sua lista de "terras prometidas" e sim, farão com que elas se arrisquem ainda mais – como se continuar vivendo em uma zona de guerra não fosse arriscado o suficiente - em seu desespero para encontrar uma condição melhor de vida.