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Há três semanas, colonos israelenses de assentamentos em terras palestinas incendiaram mesquitas na aldeia de Lubban Ash Sharqiya. Administração israelense nega atentado, mas tensão com palestinos aumentou desde então
Por Mel Frykberg
Lubban Ash Sharqiya, Palestina – “Há uma imensa raiva bem como um sentimento de vulnerabilidade e temor quando um lugar de culto é alvo de violência indiscriminada”, afirmou Issa Hussein, porta-voz desta aldeia na Cisjordânia. Os palestinos “vivem sob uma brutal ocupação militar e sofrem ataques regulares de colonos israelenses há décadas, mas os locais sagrados nunca forma afetados”, disse Hussein à IPS, em Lubban Ash Sharqiya, perto da cidade cisjordaniana de Nabuls. “As pessoas podiam deixar de lado suas dificuldades econômicas, a opressão política e seus problemas pessoais durante algumas horas na semana rezando na mesquita”, acrescentou.
Tudo mudou de forma drástica há algumas semanas nesta aldeia agrícola de três mil habitantes, quando colonos israelenses de um dos três assentamentos judeus construídos em terras palestinas incendiaram a mesquita local. A administração civil israelense, que dirige a Cisjordânia, negou que os colonos estivessem envolvidos, e alegou que a origem do fogo foi um curto-circuito. Mas os bombeiros israelenses que investigaram o caso descartaram essa explicação.
“A parte da mesquita onde começou o fogo estava em reforma e a eletricidade desligada”, disse Hussein. “Além disso, algumas pessoas ouviram veículos por volta das três da madrugada do dia do ataque e viram colonos entrando na mesquita”, acrescentou à IPS, enquanto mostrava os restos carbonizados do lugar. Foi preciso arrancar as cortinas das janelas para ajudar a apagar o fogo. Várias versões do Alcorão, normalmente empilhadas em um lugar da mesquita foram jogadas no extremo oposto, perto do banheiro.
Acima e ao lado dos livros sapatos formavam a estrela de David, um dos símbolos do judaísmo. Na cultural islâmica, o calçado é considerado sujo e colocar a sola em alguém ou caminhar sobre algo é um dos maiores insultos. A destruição de um lugar de culto em uma sociedade profundamente religiosa, somado ao uso ofensivo e provocativo dos símbolos não passou despercebida para a população local. “Nunca guardamos o Alcorão perto do banheiro nem colocamos sapatos nas proximidades. Todos têm de tirá-los antes de entrar na mesquita”, afirmou Hussein.
Membros da Autoridade Nacional Palestina visitaram Lubban Ash Sharqiya no mesmo dia que a IPS e prometeram reconstruir a mesquita rapidamente. O próprio Mahmoud Abbas, presidente da ANP, deu a luz verde.
O atentado é apenas um dos muitos ataques contra a população palestina e suas propriedades, por parte dos ocupantes. Os colonos ameaçaram lançar ataques contra a população palestina, suas casas, seus negócios, seus carros, suas terras cultiváveis, seu gado e suas mesquitas para cada assentamento desmantelado, cada ordem de restrição ou cada judeu detido na Cisjordânia. Não passa um final de semana sem que um palestino seja agredido, uma oliveira cortada ou arrancada, campos incendiados e veículos apedrejados ou incendiados.
Em dezembro, uma mesquita perto da aldeia de Yasu foi incendiada. Em abril, apareceram pintadas a estrela de David e frases racistas contra os árabes em um local sagrado da aldeia de Huwarra. Vários automóveis também foram incendiados. Em represália, os palestinos apedrejam e lançam coquetéis Molotov contra os colonos que circulam perto de suas aldeias em seus carros. Investigadores das Forças de Defesa Israelenses acreditam que os ataques contra as mesquitas fazem parte de uma política deliberada dos colonos e têm informação de que há mais agressões previstas.
Numerosos colonos foram detidos pelo serviço de inteligência israelense, o departamento judeu de Shin Bet, mas a medida derivou em mais ataques contra os palestinos. Não fica claro se haverá acusações. Robert Serry, coordenador especial das Nações Unidas para o Processo de Paz do Oriente Médio, condenou os ataques cometidos pelos colonos. “É fundamental que o governo israelense imponha a ordem e que os condenados compareçam à justiça”, disse Serry. Também se mostrou preocupado com a “quantidade de ataques contra mesquitas nos últimos meses, bem como pelas destruições sofridas pelas propriedades palestinas por parte de judeus extremistas”.
“Não é a primeira vez que nos agridem. Costumam queimar nossas colheitas. Além disso, mataram a tiros um casal de idosos palestinos após a morte de Meir Kahane em Nova York nos anos 90”, disse Hussein à IPS. Kahane fundou a Liga de Defesa Judia e o ultradireitista partido Kach, que defende a expulsão dos palestinos de Israel e dos territórios ocupados. Este grupo foi proscrito do parlamento israelense por ser racista, mas continua atraindo partidários no Estado judeu.
Com informações da IPS/Envolverde.