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Estudo alerta que explosão de projetos imobiliários na Costa Rica tem ameaçado biodiversidade do país, um dos 25 pontos do planeta com maior concentração de biodiversidade
Por Daniel Zueras [30.04.2010 12h30]
San José – A explosão de projetos imobiliários na costa do Pacífico da Costa Rica ameaça a biodiversidade do país e torna obscuro o futuro do turismo ecológico que tanto promove, alerta um estudo de cientistas nacionais e norte-americanos. O informe foi elaborado durante dois anos pelo não governamental Center for Responsible Travel (Crest), da Universidade de Standorf, nos Estados Unidos, e desnuda os problemas do modelo turístico costarriquenho, no qual se destaca o descontrolado auge de resorts e casas de veraneio. “A prioridade é ficar rico, sem importar quem cai pelo caminho”, disse à IPS Gady Amit, presidente da organização ambientalista Confraternidade Guanacasteca.
O crescimento da infraestrutura turística prejudicou irreversivelmente a província de Guanacaste, no Pacífico norte, e vai contra as bases do turismo verde que a Costa Rica promove na área. E em sua voracidade também ameaça a península de Osa, no Pacífico sul, um dos 25 pontos do planeta com maior concentração de biodiversidade, 2,5% do total. “É um tesouro em biodiversidade incomum, dos poucos que restam no mundo”, alertou a pesquisadora do Crest, Margarita Penón. O estudo “O impacto do desenvolvimento associado ao turismo na costa do Pacífico da Costa Rica” foi apresentado este mês em San José pelo diretor do Crest, Willihamn Durham, e por vários dos pesquisadores envolvidos.
Nele se recomenda “repensar” o desenvolvimento turístico e imobiliário associado, antes que seja tarde. Mas o governamental Instituto Costarriquenho de Turismo (ICT), que dirige o setor, não concorda com seus argumentos. María Amalia Revelo, subgerente e diretora de mercado do ICT, assegurou à IPS que o modelo de desenvolvimento turístico interno se baseia, há 15 anos, “em pequenas hospedarias, que se complementam com hoteis de porte médio”. É mantida a média de 17 quartos por hotel, “o que indica que o modelo turístico do país se sustenta no tempo”, acrescentou.
Revelo admitiu que há alguns grandes hoteis na costa do Pacífico, mas disse que isso não é o comum e que “grande não é sinônimo de mau”. A seu ver, o país conseguiu a coexistência de ambos modelos hoteleiros. Mas os ambientalistas locais e o Crest concordam que o maior problema está no setor imobiliário, com urbanizações de grandes dimensões na própria linha costeira, campos de golfe e centros comerciais. “Pelo menos o setor hoteleiro representa postos de trabalho, mas o residencial, quando a construção acaba, não”, disse Amit.
O Crest ressalta que estes excessos vão condenar a área a sofrer deslizamentos de terra, contaminação e deterioração dos mangues, arrecifes e florestas características de seus ecossistemas, bem como a futura carência de água potável. De fato, algumas localidades começam a ter problemas com o abastecimento de água, diante do alto consumo com os turistas e os campos de golfe. A comunidade de Sardinal, que fica em Guanacase, começou um aberto confronto com o governo central para defender os seus direitos sobre a água. Em outras localidades, como Tamarindo, o turismo residencial afastou os seus habitantes locais. “Não ficam moradores, nem quase empresários”, disse Amit.
A razão é que os preços do solo, dos bens imobiliários e dos serviços dispararam, e a maioria dos costarriquenhos carece de renda para pagá-los. Em Papagayo, um dos maiores pólos turístico-imobiliários do país, os terrenos foram vendidos a US$ 100 o hectare e, atualmente, “com esse dinheiro só se pode comprar um metro quadrado”, disse o dirigente ambientalista. Além disso, a superpopulação associada a um desordenado desenvolvimento multiplicou a contaminação costeira. “As pessoas estão se banhando em pura merda”, disse Amit claramente. A praia de Tamarindo teve de ser fechada várias vezes por causa das altas concentrações de material fecal.
Os grandes complexos hoteleiros e residenciais carecem de unidades de tratamento de esgoto, e quando as têm, são usadas apenas para economizar os custos de manutenção. Por outro lado, em Osa “a ameaça está latente e cada vez mais se nota de perto”, disse Merlyn Oviedo, dono de um pequeno hotel em Puerto Jiménez, uma localidade do concentrado mostruário de ecossistemas do trópico úmido. Ele explicou que os empresários do setor de turismo da península sentem que sua oferta de habitat natural é ameaçada pelo desenvolvimento oposto ao ecoturismo.
Novas estradas ligam San José e o Pacífico central com Osa, no extremo sul da província de Puntarenas. Assim é facilitado e encurtado o acesso à área promovida como a última fronteira selvagem costarriquenha. “Estamos a favor destas infraestruturas, mas dá medo o que podem trazer”, disse Oviedo, que deu como exemplo negativo uma “via exagerada”, que chega a três quilômetros de seu estabelecimento. Os planos para transformar o aeroporto local de Osa em internacional dispararam os alarmes. O diretor do Crest foi enfático em recomendar que se esqueça essa ideia, porque favoreceria “desenvolvimentos monstruosos e depredadores. A ameaça seria enorme”, ressaltou Oviedo.
Por seu lado, Revelo negou que em Osa se vá imitar o modelo de Guanacaste porque seus ecossistemas e suas ofertas são muito diferentes. Na península existe variedade de florestas e mangues, enquanto no norte domina a paisagem tropical seca. O estudo critica a pouca regulamentação, o pouco ordenamento territorial e a existência de 35 órgãos escassamente coordenados, envolvidos na concessão de autorização para os projetos imobiliários e turísticos no Pacífico. A pesquisa confirma que na Costa Rica, a cada dia, mais dois interesses se enfrentam: o do setor turístico, que gera US$ 2 bilhões, e dois milhões de visitantes por ano, e os da conservação ambiental em um país que em pouco mais de 51 mil quilômetros quadrados abriga 4,5% da biodiversidade mundial.
Com informações da IPS/Envolverde.