Petrobras precisa voltar a investir em refinarias e fertilizantes, diz economista

Rodrigo Leão, do INEEP, explica por que o preço do combustível aumentou e fala sobre o papel da empresa brasileira para o desenvolvimento do país

(Foto: Facebook FUP/facebook.com/fupetroleiros)
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Para o economista Rodrigo Leão, do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP), a greve dos caminhoneiros que culminou com a demissão de Pedro Parente, nesta sexta-feira (1), é resultado dos efeitos deletérios da política que vem sendo implantada na Petrobras. A falta de investimentos nas refinarias revela os impactos negativos dessa política. Segundo Leão, a Petrobras hoje subutiliza a sua capacidade de refinar. “A Petrobras poderia refinar 2,4 milhões de barris/dia. O Brasil consome isso hoje. Só que refina 1,6 milhão. Por que a Petrobras faz o sucateamento do refino e opta pelas importações? Essa é a questão central”, questiona. De acordo com Leão, o preço do combustível no posto é composto por uma série de elementos, o único que teve um aumento alto foi o da refinaria. “O Ministério de Minas e Energia usa a seguinte distribuição: preço da refinaria – ou preço do produtor, que é um pedaço da refinaria mais um pedaço da importação –; os tributos, o custo de transporte, e as margens (da distribuição e da revenda)”, explica. “Outro preço que estamos apontando é o preço da refinaria: quanto sai o preço da refinaria para o posto. Esse é o preço que está aumentando e que é o grande causador desse aumento do preço no posto. Se a gente comparar outubro de 2017 para abril de 2018, o preço médio do diesel saltou de R$ 3,21 para R$ 3,48”, aponta. Ainda conforme Leão, os outros componentes (margem da distribuição, margem da revenda, custo de transporte e os impostos) não variaram nesse período. “Tudo isso é alteração que tem a ver com o preço da refinaria e o preço da importação.” Como o preço do barril internacional disparou chegando a US$ 80, valor mais alto desde 2014, o preço do refino também subiu muito. “A empresa que importa obrigatoriamente segue o preço internacional. A questão é por que a Petrobras segue? Este é ponto central do debate. O custo da Petrobras refinar hoje no Brasil é 0,92 centavos o litro. Esse mesmo preço importando é 1,47. Uma diferença de 0,55 centavos. No entanto, nós temos petróleo e temos refinaria.” Mudança na política da Petrobras Essa lógica de privilegiar a entrada dos importados mostra o desmonte que está sendo feito na empresa, segundo José Maria Rangel coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Para ele, desde o golpe que tirou Dilma Rousseff da presidência do Brasil, a empresa vem ganhando um papel secundário. “A Petrobras já está sendo privatizada, com um discurso que ganhou eco na sociedade, de combate à corrupção." Rangel lembra que nos governos Lula e Dilma foi reativada a indústria naval, desenvolvida a capacidade de pesquisa e houve a descoberta do pré-sal, que abriu muitas oportunidades. Hoje, ele lamenta o desmonte da empresa e a sua opção de reduzir o refino. “As refinarias têm investimentos pífios.” Ele defende que para a empresa ser um motor de desenvolvimento nacional é preciso mudar a orientação política da empresa. Leão concorda que é necessária uma mudança política, e elenca outros pontos fundamentais para a Petrobras voltar a ser uma empresa para os brasileiros. Entre as medidas estão retomar o investimento no refino, para ter uma capacidade de refinar tudo que o Brasil precisa, e retomar investimentos em fertilizantes. “Dessa forma a Petrobras estava garantindo o uso do gás natural. A gente queimava muito gás porque não tinha forma de uso. Hoje a gente importa 80% de fertilizantes”, comenta. Leão ainda chama a atenção para a importância de se repensar a política de conteúdo local. “A empresa é capaz de desenvolver setores de bens de capital e produção, como máquinas, equipamentos e a indústria naval”, conclui. O INEEP é um instituto criado e mantido pelos petroleiros com o objetivo de fazer a discussão sobre o petróleo pelo viés nacionalista e soberano.  Nasceu uma das greve mais fortes da categoria, em 2015, e homenageia Zé Eduardo Dutra - ex-senador e ex-presidente da Petrobras. "Foi escolhido para demonstrar como ações de cunho nacionalistas e que consideram a Petrobrás uma empresa do país, e não do mercado, culminam em resultados importantes para o país, como a reconstrução da indústria naval (que os golpistas querem destruir de novo); a descoberta do Pré-Sal e o crescimento da participação da Petrobras no PIB nacional, que saiu de 2 para 13% em 2013", diz a FUP. Leão e Rangel, ao lado do coordenador do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, concederam entrevista a blogueiros na última quarta-feira (30), onde tiraram dúvidas sobre o preço dos combustíveis. Assista abaixo: https://youtu.be/0c9GfKXHjG8