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FÓRUMWEEK
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Para a pesquisadora e diretora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as pessoas precisam entender “como funciona a fábrica de produção e simulação de fatos e notícias” Mais do que carimbar se uma notícia é falsa ou verdadeira, é preciso avaliar seus efeitos e investir na “formação para as mídias e pelas mídias”. Em entrevista à Fórum, Ivana falou sobre a “histeria” que envolve o debate sobre as fake news, principalmente em tempos de “comunicação massiva automatizada”. Confira.
Fake news sempre existiram
O debate é superimportante, mas não se pode criar uma histeria em torno das fake news e tentar achar uma solução mágica e/ou oportunista a toque de caixa a partir de um discurso falacioso que “as fake news são os outros”: a produção de conteúdo e de mídia realizada pelos muitos, pelos cidadãos, pelas mídias livres. Não se pode cair nessa simplificação. Há no momento um esforço de conceituação e definição do que são fake news, chamando atenção para o fato de não serem um fenômeno novo.
Por isso me parece que mais do que definir, conceituar, categorizar (notícias falsas, boatos, fabricação de fatos com intenção de destruir reputações, etc.), algo que sempre existiu, é mais produtivo focar nos seus efeitos. Que tipo de dano, dolo, as fake news produzem socialmente, individualmente, como interferem em processos democráticos, como nas eleições, seu potencial de violação de direitos e que diferentes formas de prevenção, combate, pedagogia, checagem podem ser utilizadas para reduzir danos ou, em último caso, judicializar a questão.
Velocidade de difusão e danos
O que preocupa é não apenas o grau de inverdades e manipulações nas notícias, mas a sua comunicação massiva automatizada, essa velocidade de difusão que produz danos irreversíveis muitas vezes.
A questão é não criminalizar práticas e aplicativos com poder de automação que proporcionaram uma nova ecologia midiática ou distinguir as mídias “profissionais” e corporativas (a chamada grande mídia), das mídias ativistas, de opinião, mídias livres. Esse é o risco, uma campanha que associe fake news com mídias e jornalismo cidadão.
Acho que uma excessiva normatização, classificação, carimbo, chancela não resolve. Como disse, mais que carimbar o que é ou não fake news é preciso avaliar os seus efeitos. Porque difundir que “a Terra é plana” não tem o mesmo efeito fulminante que a destruição de uma reputação ou a fabricação de fake news para demonizar campos, atores, pontos de vista em uma eleição ou na disputa de ideias e valores.
Quem checa os checadores?
As agências checadoras de fatos são importantíssimas nesse contexto que o relatório, produzido pela Comissão Europeia descreveu como uma nova desordem informacional. Mas não são suficientes. Afinal, quem checa os checadores?
É necessário investir em uma formação para as mídias e pelas mídias, uma nova alfabetização midiática que explicite como funciona a fábrica de produção e simulação de fatos e notícias. Os factoides e fake news. Operações que têm inclusive um alto componente psicológico. Pois a disseminação automática e massificada de notícias falsas e boatos podem produzir o pânico, violência, estados mentais.
Além do mais, as pessoas continuam a difundir notícias falsas que são produzidas para validarem suas crenças. Como combater crenças? Existem também as soluções legislativas, punitivas, a judicialização da questão, que pode ser pedagógica em certa medida, mas pode ser também manipulada para censurar e punir apenas certos grupos e atores. Ou seja é preciso uma justa medida e múltiplas ações que preservem a liberdade de expressão, criem políticas públicas, invistam em formação, disseminem as checagens que neutralizam e reequilibram a nova desordem informacional.
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