A paixão do povo brasileiro pelo futebol mobiliza o comércio em tempos de Copa do Mundo. Termômetro do gosto popular, o camelódromo da Uruguaiana, no centro do Rio de Janeiro (RJ), indica baixa procura da camisa amarela da seleção canarinho e vendedores avaliam que associação com o ainda presidente Jair Bolsonaro (PL) é o principal motivo.
Derrotado nas urnas pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sua imagem não anda muito prestigiada. "A cada 50 camisas que vendemos, só 10 são amarelas. Não tem como não ligar isso ao Bolsonaro", afirmou a vendedora Patrícia, de 42 anos.
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Sucesso
O que tem feito sucesso mesmo é o modelo azul do uniforme. "A camisa do Brasil é nossa muito antes do presidente. Inclusive, deveria ser proibido ele usar a camisa em eleições. Nascemos brasileiros antes, mas agora, está muito ligado a ele, e precisamos explicar às pessoas que é um símbolo da nossa cultura, do nosso futebol. Mesmo assim, a azul vende mais, muita gente evitou o amarelo em 2022. Ficou mais claro depois das eleições, porque aí sim a camisa amarela passou a vender um pouco mais", completou Patrícia.
É o que também relata o vendedor Renan. Para ele, as vendas estão melhores que em 2018 e o bom momento da equipe estimula os torcedores, mas a preferência é pela camisa azul.
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"Está vendendo bem, apesar das eleições. A amarela demorou a engrenar as vendas, enquanto a azul falta até estoque. Vendemos mais em 2022 que em 2018, o time é melhor e acho que empolga mais o torcedor. A camisa também é diferente, bonita, mas a amarela vende menos, ficou ligada ao Bolsonaro. Quem diz o contrário ou é eleitor dele, ou é exceção, porque as pessoas chegavam aqui e diziam que não queriam a amarela por causa dele, infelizmente", contou o comerciante.
Bolsonaro em baixa
“Foi claramente uma motivação política". Assim Wallace, que também trabalha em um box da Uruguaiana, explica o sucesso da camisa azul. Ele diz que embora ela já fosse procurada em outras Copas, neste ano a motivação política para a preferência é clara. Ele ainda diz que durante as eleições também houve procura pelas peças nas cores branca e preta, "mais neutras", em sua opinião.
O resultado é que os camelôs estão cheios de camisas amarelas da seleção brasileira encalhadas. Ainda assim, há quem não veja relação entre o sucesso do modelo e as eleições, atribuindo-o ao novo design da camisa azul e à proximidade da Copa do Mundo. "Realmente a azul está vendendo mais. Mas não vejo tanta relação com as eleições. Acho que na verdade todas as camisas demoraram a engrenar as vendas, mas estão vendendo bem. A última semana, antes da estreia, foi de ótimas vendas. E hoje, depois da vitória contra a Sérvia, estamos faturando bem. Acho que os torcedores estão bem confiantes", avaliou o vendedor ítalo.
Torcedoras
Outro dado é que as mulheres são as que mais buscam por uma camisa da seleção brasileira. É o que dizem a maioria dos 32 ambulantes entrevistados pelo UOL. "A que mais sai é a feminina. Mais do que em 2018. As vendas aumentaram bastante", contou a vendedora Luana Silva.
Não foi difícil encontrar torcedoras em busca de sua indumentária. "Lá em casa, as mulheres gostam mais de futebol que os homens. Quero levar três femininas, mas está difícil achar", afirmou Maria do Carmo, de 53 anos.
A reportagem apurou ainda que a avaliação dos comerciantes da Uruguaiana é que o interesse feminino pelo futebol tem crescido, não só em período de Copa do Mundo. De acordo com o portal UOL, na sexta (25), as camisas femininas estavam em falta na Uruguaiana.
Réplicas
Com valores entre R$ 20 e R$ 150, das mais simples às que imitam com algum grau de sucesso as originais, os preços são bem mais atrativos que a camisa oficial da CBF. A peça de vestuário chega a custar R$ 699,90
As réplicas que imitam a camisa oficial da CBF são tailandesas e vendem bastante. "A tailandesa passa por original com tranquilidade. Vendeu que nem água, mesmo sendo mais cara, porque a camisa original está muito cara. Vendemos todas as azuis, mas também recebemos bem menos do que as amarelas. Acho que saiu muita amarela também", declarou o vendedor Fernando.