Um dos maiores enigmas do atletismo mundial, especialmente das Olimpíadas, intriga o mundo desde as Olimpíadas de Seul 1988. Por que a mulher mais rápida do mundo, medalha de ouro e recordes mundiais nas provas de 100m e 200m correu das pistas depois das Olimpíadas?
As Olimpíadas anteriores haviam sido frustrantes para os amantes do esporte e do chamado espírito olímpico do Barão de Coubertin.
Em 1980, os Jogos Olímpicos de Moscou, disputados na capital da antiga União Soviética (Rússia, mais 19 outros países) sofreu boicote dos Estados Unidos e vários outros aliados.
Em 1984, nos jogos Olímpicos de Los Angeles, EUA, foi a vez da União Soviética e outros países boicotarem, em represália.
Os Jogos Olímpicos de Seul 1988 seriam os primeiros em que os melhores atletas daquela época poderiam ver quem era o maioral em cada esporte.
Foi quando surgiu o fenômeno Florence Griffith Joyner, conhecida por Flo-Jo. Com uma carreira instável, Flo-Jo havia sido medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles (sem várias atletas do bloco soviético). Logo em seguida, abandonou as pistas e se dedicou à dupla carreira de bancária e cabeleireira.
Em 1987, um ano antes das Olimpíadas de Seul, decidiu voltar ao atletismo. Participou do Mundial de Atletismo de Roma, onde foi campeã na equipe de revezamento 4x100 metros e ficou com a prata nos 200 metros, marcando 21s96. Na ocasião, ela apareceu pela primeira vez com o corpo transformado, muito mais forte e musculoso.
Mas a explosão de Flo-Jo veio um ano depois, nas Olimpíadas de Seul 1988, quando ela surpreendeu o mundo não apenas vencendo disparada as provas de velocidade do atletismo, 100 e 200m, como batendo os recordes mundiais nas duas provas.
Para um atleta que nunca fora de ponta, suas vitórias com grande vantagem na pista, quando detonou as adversárias, foram impressionantes. Mais impressionante ainda é que seus recordes de 10,49 segundos nos 100 metros e 21,34 segundos nos 200 metros não foram batidos até hoje, 36 anos depois.
Mas essas não foram as únicas surpresas que Flo-Jo aprontou no mundo dos esportes. Após as vitórias consagradoras nas Olimpíadas, Flo-Jo abandonou mais uma vez as pistas, dessa vez para sempre. Nunca mais competiu.
Para seus fãs, apenas mais uma idiossincrasia dela — afinal já havia feito o mesmo antes. Para outros, apenas para disfarçar a evidência de que teria feito uso de estimulantes.
"Os recordes da Florence Griffith-Joyner nos Jogos Olímpicos de Seul assombraram o mundo simplesmente. Era muito grande a discrepância dos tempos nas distâncias dos 100 e 200 metros. Olha, 10s49 (recorde mundial de Flo-Jo nos 100m) na época era índice de alguns países para levar atletas homens para uma Olimpíada. Qualquer pessoa em sã consciência coloca em dúvida as marcas da Florence Griffith-Joyner. Apesar de ter alguns 'relativamente' bons resultados anteriores, ela escancarou o que os Estados Unidos vinham fazendo em termos de doping" — afirma Lauter Nogueira, ex-comentarista de atletismo do Grupo Globo e treinador olímpico.
Lauter correlacionou o uso de doping aos problemas de saúde pelos quais Flo-Jo passou e que podem ter levado à sua morte prematura, aos 39 anos.
"Ela morreu em 1998, mas em 1996 ela teve uma síncope, um problema em que a deixou por bastante tempo inconsciente ou 'semi' inconsciente. Já eram os problemas circulatórios decorrentes do uso e abuso dos 'fármacos' que ela usou. Ai pouco tempo depois, como diziam os próprios americanos, 'ela não morreu, ela explodiu', porque o coração dela não suportou."
Assista às vitórias de Flo-Jo em Seul nos 100m e 200m com recordes mundiais não batidos até hoje.