Simone Biles está de volta. Dona de sete medalhas olímpicas e considerada a maior ginasta de todos os tempos, ela voltará à arena nas Olimpíadas de Paris e vai enfrentar a atual campeã olímpica de salto, a brasileira Rebeca Andrade.
A ginasta estadunidense retomou as competições em agosto de 2023, quando obteve sua classificação para os jogos na capital francesa. Ela ficou fora das disputas desde os Jogos Olímpicos Tóquio 2020 em 2021, quando desistiu da final feminina por equipes e de quatro finais individuais para priorizar sua saúde. Naquela época, lidava com os 'twisties', momento quando o corpo e a mente da ginasta não estão em sincronia.
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A atleta de 27 anos ganhou tudo que é possível na ginástica, e mais de uma vez. Com 25 medalhas em Mundiais, incluindo 19 ouros, ela tem praticamente todos os recordes do esporte.
Ela voltou com uma nova habilidade - o salto duplo Yurchenko, que foi chamado de Biles II no ano passado depois que ela se tornou a primeira mulher a fazê-lo em uma competição, e que é um dos cinco elementos de ginástica que receberam seu nome.
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A Netflix lançou um documentário em dois episódios, "O Retorno de Simone Biles", que explora sua jornada de volta às competições. O filme detalha tanto seu destaque antes das Olimpíadas de Tóquio quanto os desafios pessoais que enfrentou, destacando sua luta com a saúde mental que ganhou atenção mundial.
Medo de Rebeca
A ginasta dos EUA admite no documentário que a brasileira Rebeca, forte candidata a ouros nos Jogos Olímpicos de Paris, que a disputa das duas pelo pódio é algo que a preocupa. Simone admite que a brasileira é a rival que mais lhe dá medo. Mesmo assim, ela se recorda com carinho de quando as duas dividiram um pódio no Mundial de Ginástica em 2023.
Rebeca não está para brincadeira. Ela enviou para o Comitê Técnico Feminino da Federação Internacional de Ginástica um novo elemento, o salto triplo de Yurchenko ou Triplo Twist Yurshenko (TTY), nunca executado em qualquer competição internacional.
Saúde mental e casamento
Saindo da disputa no topo, Simone alcançou um nível de vitória em 2016 que até então considerava impossível. A euforia, no entanto, não foi com ela até em casa. Todo o êxtase foi embora quando ela foi confrontada com as acusações contra o ex-médico da seleção de ginástica dos EUA, Larry Nassar.
Nassar foi condenado por múltiplos crimes de abuso sexual contra ginastas sob sua supervisão. O escândalo veio à tona em 2016 após denúncias de atletas, incluindo membros famosos da equipe olímpica. Ele foi condenado a uma pena de prisão de 40 a 175 anos em um dos casos por abuso sexual, e em outro caso, recebeu uma sentença de 60 anos por posse de pornografia infantil.
Ele também foi condenado em outro julgamento a uma pena adicional de 40 a 125 anos. Essas sentenças são cumulativas, significando que ele passará o resto de sua vida na prisão.
Este caso desencadeou uma ampla discussão sobre a segurança e o bem-estar dos atletas em programas esportivos.
Simone acabou enfrentando um estado profundo de depressão quando precisou olhar para o próprio passado e reconhecer que também foi vítima de abuso. À época em que abandonou os jogos olímpicos, ela recebeu apoio de ativistas da saúde mental, que elogiaram a decisão dela de priorizar seu bem-estar.
Enquanto cuidava da própria saúde mental, Simone e casou como o jogador da NFL, liga profissional de futebol-americano, Jonathan Owens, uma união que a deixou próxima do esporte. Eles se casaram em uma cerimônia no tribunal no Texas no dia 21 de abril de 2023.
Críticas à aparência
A despeito de ter cinco acrobacias com seu nome, sete medalhas olímpicas, sendo quatro de ouro, uma de prata, duas de bronze e mais de 30 medalhas em campeonatos mundiais, além da coragem em interromper a carreira nos Jogos Olímpicos de Tóquio para cuidar da saúde mental, as principais críticas que Simone recebe são sobre sua aparência. Ela fez esse desabafo na série documental da Netflix.
“Os comentários sobre meu cabelo, em 2016, me incomodaram. Disseram que era um cabelo bagunçado, duro, fora do lugar. As pessoas ficam confortáveis comentando coisas e por isso eu silencio [nas redes sociais]. O padrão de beleza é demais”, comenta a ginasta.
O documentário destaca a importância da aparência física na ginástica: cabelo loiro e liso era considerado o ideal. Para Simone, essa realidade revela um padrão de beleza eurocêntrico e discriminatório que excluía as mulheres negras da possibilidade de serem reconhecidas como belas e talentosas na ginástica.
“Sei como é ser a única mulher negra na equipe e não ter nenhuma referência para seguir. Felizmente, tivemos Betty Okino, Dominique Dawes, Gabby Douglas e muitas outras, mas foi um pouco tarde”, observou Biles no documentário.
Simone recorda ainda de um momento recente que marcou a história do esporte: o pódio do Campeonato Mundial de Ginástica Artística, realizado em Antuérpia, na Bélgica, em outubro de 2023. Nesse dia, o pódio foi dominado por atletas negras – além dela estavam Rebeca Andrade e Shirley Jones –, um feito inédito em um campeonato mundial.
“É algo que você só sonharia em ver ou testemunhar, e muitas meninas precisam ver. As três juntas no pódio, sendo as melhores do mundo. Espero que isso inspire outras meninas a perseguirem seus sonhos e acreditar em si mesmas”, compartilhou a ginasta.
As competições de ginástica artística nas Olimpíadas de Paris ocorrerão a partir do próximo domingo (27) e prosseguem até 10 de agosto. Os eventos de ginástica artística e de trampolim serão realizados na Bercy Arena, enquanto a ginástica rítmica acontecerá na Porte de la Chapelle Arena, junto com o badminton .
Quando a arena encher no próximo domingo para a rodada de qualificação feminina, haverá um duelo que vai despertar a atenção do mundo: Simone Biles e Rebeca Andrade.
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Com informações da Alma Preta Jornalismo