Júlio Casares comandou, enquanto presidente do São Paulo, campanha para uma mudança de estatuto que permitiria, ao contrário de antes, a reeleição. Disse sempre que seria muito bom para o clube e que nem sabia - o que todo mundo sabia - se seria candidato à reeleição. Em resumo, a mudança seria boa para o São Paulo e não necessariamente para ele.
Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, ele anunciou o segredo de alcova: será, sim, candidato a um novo mandato. Ele imita Fernando Henrique e se apresenta como beneficiário de uma mudança incentivada por ele mesmo. Não é boa apenas para o clube, ficou claro. É golpe.
O que não muda, se depender de Casares, é a forma da eleição. Os mais de 10 milhões de torcedores - ele gosta de falar em 20 milhões - serão eleitos por 260 conselheiros. Torcida, sócio-torcedor e sócio apenas olham. Nada de participação. Casares diz que é tão democrático como as eleições dos Estados Unidos. Na verdade, é tão democrática quanto foram as eleições dos generais brasileiros no período ditatorial.
Casares é dono de frases marcantes. Chegou a dizer, há mais de dez anos, quando era diretor de marketing, que o São Paulo passaria a ter, em uma década, uma torcida maior que a do Corinthians. A falácia nunca se concretizou. Ele disse que isso se deu porque ele deixou o cargo e suas ideias não foram levadas em frente.
Agora, afirmou que o São Paulo é protagonista do futebol brasileiro atual, mesmo o clube tendo vencido apenas um campeonato paulista desde 2012 e tendo sido eliminado do Paulista e da Sul-americana. Vera Magalhães, âncora do programa, o confrontou e lembrou que Palmeiras e Flamengo eram dominantes atualmente. "O Palmeiras está na final da Copa do Brasil? Nós estamos", foi a resposta, mostrando como é difícil quem já se apelidou de "Soberano" ter um pouco de humildade.
O ego de Casares - presente diuturnamente no Instagram - foi insinuar que a enorme procura de ingressos para a final da Copa do Brasil contra o Flamengo seria sinal de aprovação de sua gestão.
E, enfim, ele foi firme ao dizer que não está contente com a Adidas, fornecedora de material esportivo do clube. Que deseja um tratamento exclusivo e que já há negociações com outra fornecedora. Na verdade, são duas possibilidades: a New Balance, mais forte e a Castore, marca inglesa.
Casares pode falar o que quiser, repetir pela milésima vez que "veio da arquibancada", mas o que interessa, esportivamente falando, é chegar novamente à Libertadores. Já perdeu a oportunidade com a Su-americana e agora depende da Copa do Brasil ou do Brasileiro, onde o time está fora da zona da classificação. Se conseguir a vaga, melhor com título, aí sim, poderá começar a falar em protagonismo.