Neymar será intimado a depor, na condição de testemunha, na Operação Huitaca da Polícia Civil do Distrito Federal (PC-DF). A investigação apura crimes de extorsão, agiotagem, lavagem de dinheiro e receptação de joias e é conduzida pela Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF). Durante a ação, deflagrada nesta sexta-feira (27), três pessoas foram presas.
O esquema fraudulento é supostamente comandado pelo empresário Eduardo Rodrigues Silva, amigo de Neymar e muito conhecido em Brasília por ostentar rotina semelhante à de jogadores de futebol, que atuam nos principais clubes do mundo. Ele se apresenta como “Eduardo Joias” e seria proprietário de uma empresa especializada no design de peças forjadas em ouro e diamantes. Por enquanto, ele está sendo considerado foragido da polícia, de acordo com reportagem de Carlos Carone e Mirelle Pinheiro, no Metrópoles.
Eduardo tem quase 75 mil seguidores no Instagram e publicou fotos com Neymar logo depois de entregar ao jogador um colar de ouro branco cravejado de diamantes, com pingente desenhado no formato do nome do jogador. A peça custou, conforme a nota fiscal, R$ 106,4 mil.
A nota foi emitida em nome de Neymar, em março de 2019, por uma das empresas investigadas por lavagem de dinheiro, sem a respectiva entrada da mercadoria ou matéria-prima para confeccionar as peças.
As investigações da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri) indicaram que a empresa Conceito Comércio de Joias Eireli, cujo nome é EJ Joias, movimenta quantias muito inferiores ao dinheiro que entra na conta de Eduardo e de Vitor Duarte Nunes, seu braço direito, que também está sendo investigado.
A transação envolvendo a joia de Neymar representou mais de 81% das operações de venda da empresa, conforme as investigações. Outras 11 notas fiscais eletrônicas de joias foram emitidas para o próprio Eduardo Rodrigues, sem a respectiva entrada de mercadoria ou matéria-prima.
Eduardo e Neymar se seguem nas redes sociais e há uma relação pessoal entre ambos. Além da corrente de ouro e diamantes, o empresário presenteou o jogador com uma placa dourada acompanhada de um anel exclusivo forjado em ouro e pedras preciosas.
Uma das fotos postadas pelo empresário, no dia 8 de fevereiro de 2017, mostra Neymar com uma corrente de diamantes.
Outras duas fotos, publicadas em 22 de março de 2018, em São Paulo, mostram Eduardo entregando um anel de ouro ao jogador, com a legenda: “Mais uma joia feita com muito carinho para o gênio da bola, Neymar. Obrigado pela atenção e confiança no trabalho!”, diz o empresário.
Eduardo esteve na festa de aniversário de Neymar em Paris
As demonstrações de amizade não param por aí. Os agentes localizaram fotos publicadas por Eduardo que confirmam a presença do suspeito no aniversário de Neymar, em Paris, França, no dia 4 de fevereiro de 2019.
Segundo a polícia, o empresário viajou a Paris no dia 4 e retornou em 8 do mesmo mês. As apurações da PC-DF descobriram, também, o fato de não ser a primeira vez que Neymar adquire ou recebe joias de pessoas envolvidas com lavagem de dinheiro.
Investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro apontou, em maio de 2017, que o jogador adquiriu, em 2015, uma corrente de diamantes de Tiego Raimundo dos Santos Silva, vulgo TH, envolvido com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Tiego foi preso, acusado de ser um dos principais articuladores do tráfico de drogas e de armas do Rio de Janeiro, com atuação nas três facções criminosas do estado. Além disso, ajudava a lavar dinheiro do tráfico.
Empresário já foi preso e condenado
Eduardo já foi condenado, em 2017, a cinco anos e quatro meses de reclusão, em regime inicialmente semiaberto, pelo crime de extorsão. O empresário e um sócio emprestaram R$ 160 mil a um homem, cujo débito principal deveria ser quitado em fevereiro de 2015, além do pagamento de sete parcelas de R$ 9 mil a título de juros.
Depois do pagamento de algumas parcelas dos juros, as demais prestações ficaram em débito, quando o homem passou a sofrer cobranças. A vítima entrou em depressão e, em outubro de 2015, cometeu suicídio. Eduardo e o comparsa passaram a cobrar a dívida de parentes, sendo valores abusivos, entre o mínimo de R$ 440 mil até a quantia de R$ 900 mil.
Os agiotas chegaram a constranger e ameaçar as vítimas. Ambos foram julgados e condenados.