ESPERANÇA NOS GRAMADOS

Richarlison, melhor em campo de Brasil e Chile, é politizado e crítico de Bolsonaro

Atleta quebra o paradigma do boleiro despolitizado, fútil e evangélico que virou marca das últimas safras no país. Seria ele uma nova liderança dentro de campo?

Atacante Richarlison (CBF/Reprodução).
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O atacante da seleção brasileira Richarlison, que joga pelo Everton, da Inglaterra, foi um dos principais nomes do confronto entre Brasil e Chile realizado na noite desta quinta-feira (24), válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo do Catar. Ele marcou o último dos quatro gols da vitória elástica sobre os chilenos.

Figura diferente no mundo do futebol atual, o jovem de 24 anos gosta de ser irreverente nas suas comemorações, como a do pombo, que já virou uma marca, mas faz questão de frisar que não chegou ao topo na carreira porque faz gracinhas.

"Estamos falando de seleção brasileira. Todo dia surge um atacante novo aí, na minha posição a disputa está bem grande. Mas eu estou na seleção não é porque fico de gracinha ou porque fico brincando com meus companheiros. É porque jogo meu futebol lá no Everton e quando venho aqui dou minha vida, faço meus gols, faço meu melhor. Por isso eu visto essa camisa com a maior alegria e faço meu melhor trabalho possível”, disparou o atacante durante entrevista coletiva na segunda-feira (21), na Granja Comary, em Teresópolis (RJ).

Numa entrevista ao diário esportivo argentino Olé, em setembro do ano passado, Richarlison fez críticas ferozes ao governo de Jair Bolsonaro e se mostrou bastante politizado, ainda que tenha evitado citar diretamente o nome do presidente. Ele quebra o paradigma do boleiro despolitizado, fútil e evangélico que virou marca das últimas safras no país.

“Duvido muito que hoje um brasileiro possa aplaudir, com tudo o que acontece. À medida que os preços, a inflação, a fome e o desemprego disparam, muitos políticos estão preocupados com suas próprias causas. E eles são sempre os mesmos, fazendo as mesmas coisas. As pessoas devem estar cientes de que se não mudarem para eleger seus representantes locais para Presidente da República, tudo continuará como está. O poder está em nossas mãos quando se trata de votar e escolher quem nos representará. A maioria é soberana. Mas realmente precisa ter esse desejo de mudança e exigir com firmeza seus escolhidos”, falou o atleta do Everton.

Nascido em Nova Venécia, no Espírito Santo, e de origem humilde, o engajado jogador que estourou no Fluminense e foi abrilhantar uma das principais equipes do futebol inglês conta que sempre quer agir para mudar a realidade das pessoas em condições socioeconômicas difíceis.

“Vejo a situação das pessoas e quero tentar mudar alguma coisa. Eu sei que o que faço é muito pouco para o que eles precisam. Não posso mudar a realidade de todos, mas se conseguir mudar a mentalidade das pessoas que podem ajudar e não ajudam, vou me sentir vitorioso. Eu quero ser um exemplo positivo. A maior alegria que tenho é ver o sorriso no rosto das pessoas e saber que fiz algo de bom por alguém. Isso não tem preço”, falou.

Diante da perda de rendimento de Neymar, ainda o maior craque da seleção e em ritmo decadente no estrelado do futebol, seria Richarlison, um rapaz que rompe com a lógica do analfabetismo político, com indústria do consumo desembestado dos milionários chutadores de bola e com a futilidade como padrão de vida, uma nova liderança carismática e consciente para o esporte mais popular do Brasil?