ELEIÇÕES 2024

Campanha de Boulos redesenha estratégia contra Marçal, que é criticado por aliados por laudo fajuto

Crime de Marçal ao divulgar laudo fajuto dará o tom em provável segundo turno contra Boulos e mostra que Lula estava certo sobre nacionalizar a eleição paulistana contra o fascismo, que ganhou nova face e dividiu a horda bolsonarista

Marta, Lula e Boulos na Paulista e Marçal com o selo de "imbrochável" de Bolsonaro.Créditos: Ricardo Stuckert / Reprodução Instagram Pablo Marçal
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A campanha de Guilherme Boulos (PSOL) já começou a desenhar uma estratégia para um possível segundo turno contra Pablo Marçal (PRTB), que virou alvo de críticas até entre aliados pela divulgação do laudo fajuto sobre uso de cocaína contra o adversário às vésperas da votação.

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O desespero do ex-coach pode ser visto pelas ruas de São Paulo neste sábado (5), em uma corrida desnorteada para tentar tirar o foco do erro crasso da campanha.

Entre aliados que aderiram à candidatura mais recentemente, especialmente a horda mais radical do núcleo duro de Jair Bolsonaro (PL), a avaliação é que a emenda ficou ainda pior que o soneto.

A explicação de Marçal, que havia prometido "provar" a acusação feita contra Boulos no primeiro debate, na Band, em 8 de agosto, de que apenas recebeu e publicou o documento deixou a situação do ex-coach ainda mais complicada.

A análise é que a mentira escancarada, com a investigação pela Polícia Federal, dificulta a redução da rejeição do candidato do PRTB, que bateu em 53% na última pesquisa Datafolha e explodiu entre as mulheres: 59% não votariam no ex-coach de jeito nenhum, ainda segundo o estudo, divulgado neste sábado.

Além disso, Marçal terá que dividir o foco entre a campanha e a investigação num provável segundo turno. Ainda terá que se ocupar com Alexandre de Moraes, que detectou o uso irregular do Twitter pelo ex-coach, na sanha de avançar sobre a claque radical do bolsonarismo que desafia a justiça.

Uma outra questão ainda preocupa a campanha marçalista: o passado criminoso de Luiz Teixeira da Silva Junior e da esposa, Liliane Bernardo Rios da Silva, donos da Clínica Mais Consultas, de onde saiu o laudo forjado.

Marçal tem uma relação muito próxima com o casal, que já foi preso por corrupção em um esquema que envolvia desvio de dinheiro público de hospitais do interior de São Paulo. 

Silva Júnior também foi condenado por falsificação de diploma de Medicina. Liliane, que foi condenada em 2017 por uso de documento falso, teria ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Segundo informações do jornal O Estado de S.Paulo, em 2017,  o então ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Felix Fischer, ao negar um habeas corpus citou trecho de investigação da PF que fala do elo de Liliane com o PCC.

“Já a petição de folhas 731 traz aos autos documento, cuja juntada defiro, do qual se infere que pessoa identificada como ‘Kaio’ revela a pessoa identificada como ‘Toninho’ que a ré Liliane Bernardo Rios da Silva teria ligação com o PCC e estaria tramando o assassinato de pessoa identificada como ‘Leda’. Trata-se da ligação n° 20 de interceptação realizada pela Polícia Federal”, citou Fischer.

Ainda segundo o Estadão, a Clínica Mais Consulta, cujo papel timbrado foi usado no laudo - embora o médico que assine, morto em 2021, nunca tenha trabalhado lá - está fechada há cerca de três anos.

Estratégia redesenhada

A mentira deslavada do falso laudo, já comprovada pela Polícia Civil de São Paulo, redesenhou a estratégia da campanha de Boulos para um eventual segundo turno contra Marçal.

Na última semana, Boulos conseguiu se antecipar ao ex-coach e o exame toxicológico mostrado no debate da Globo foi considerado um grande acerto, que derrubou a estratégia já pensada de Marçal de divulgar um falso laudo às vésperas da votação, quando a campanha do psolista não teria mais chances de rebater a fake news.

A mentira, no entanto, não parou em pé e deve ser levada ao centro do debate político, com Boulos mostrando que Marçal se cerca de uma quadrilha, que tenta a todo custo tomar de assalto a prefeitura de São Paulo.

Além das ligações do ex-coach com facções criminosas, que ficam cada dia mais evidentes para o eleitorado, a campanha de Boulos contará com Lula para reeditar a "frente ampla" contra o fascismo, articulada pelo ex-presidente na vitoriosa campanha de 2022.

A presença de Lula no último ato de campanha, levando uma multidão à avenida Paulista, foi comemorado pela campanha e pode ser repetido num segundo turno.

O presidente também deve embarcar de vez na campanha para barrar o avanço da nova face do fascismo, já que Jair Bolsonaro (PL) deve se reaproximar de Marçal com a narrativa de barrar o "comunismo".

Mesmo diante de tantas surpresas na disputa, a análise inicial de Lula deve se concretizar: São Paulo terá a eleição nacionalizada, em um ensaio para 2026.

A boa nova para o campo progressista, no entanto, é que o fator Marçal implodiu a unidade da ultradireita radical, que terá que lidar com um disputa interna sangrenta. 

Em um muito provável segundo turno contra Marçal, Boulos e Lula terão a oportunidade de rever a estratégia eleitoral, o discurso político e até o foco das ações do governo para que o campo progressista entre com força na disputa presidencial em 2026.