As eleições de 2024 chegam às últimas horas, em um 2º turno que vem sendo considerado um dos mais violentos dos últimos anos. Para as mulheres que seguem na disputa, a pressão política é intensificada pela violência de gênero que marcou toda a campanha. Alvos de insultos e ataques misóginos, as candidatas enfrentam um ódio que vai muito além das críticas do campo político, evidenciado 68,2% dos comentários ofensivos que receberam até aqui.
O estudo que revela essa informação foi realizado pelo Instituto AzMina, através do observatório de violência política de gênero online do Instituto AzMina, InternetLab, Núcleo Jornalismo e Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (LABHD-UFBA).
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Entre as candidatas que mais sofreram ataques de ódio na campanha nessa reta final, estão as deputadas Maria do Rosário (PT-RS) e Natália Bonavides (PT-RN). Ao todo, 13 cidades brasileiras, sendo sete capitais, têm mulheres disputando o cargo de prefeita. Em cinco capitais – Curitiba, Campo Grande, Porto Alegre, Natal e Porto Velho – foram analisados os debates transmitidos no YouTube.
Em plataformas como o YouTube, termos depreciativos como “mentirosa”, “louca”, “despreparada” e “fraca” foram dirigidos frequentemente a candidatas de diferentes cidades. A palavra “mulher” é a mais comum em comentários ofensivos (961 vezes), enquanto “homem” aparece apenas 222 vezes, sendo “esquerdista” a ofensa mais usada contra eles (294 menções), destacando que, nesse caso, as críticas envolvem mais a ideologia que o gênero.
As estatísticas ainda mostram que 36,2% dos ataques contra mulheres buscam inferiorizá-las, seguidos de comentários misóginos (36,1%). No caso dos homens, os ataques são majoritariamente por etarismo (34%), inferiorização (24,3%) e homofobia (23,1%). Contudo, muitos dos comentários homofóbicos não são dirigidos a candidatos gays, mas questionam sua masculinidade com estereótipos de gênero, desqualificando-os a partir da suposição de homossexualidade.
Os dados revelam que 27% dos ataques foram direcionados a mulheres candidatas, enquanto 15% atingiram candidatos homens. Quando não se faz a distinção de gênero, os comentários considerados insultos totalizam 33,2%. Palavras como “burra”, “canalha” e “incompetente”, além de expressões sexistas como “gostosa” e “vadia”, evidenciam a retaliação à ascensão das mulheres na política, que vai além dos círculos conservadores.
Em Curitiba, o debate entre a bolsonarista Cristina Graeml (PMB-PR) e Eduardo Pimentel (PSD) foi o mais comentado, com 2.584 interações. Graeml, candidata do “Partido da Mulher Brasileira” e conservadora, ela promove uma campanha de extrema direita, apoiada por Jair Bolsonaro (PL) e Pablo Marçal (PRB-SP). Outras cidades em destaque foram Campo Grande (1.892 comentários), Natal (1.349), Londrina (790), Porto Alegre (35) e Porto Velho (23), sendo que todas, menos Porto Velho, superaram 60% de comentários ofensivos.
Combate à violência de gênero é constante
De acordo com a deputada Natália Bonavides, desde o primeiro turno, sua equipe tem identificado e denunciado práticas como compra de votos e assédio eleitoral. No segundo turno, a campanha de seus adversários intensificou os ataques virtuais, utilizando montagens, memes e informações manipuladas. "Não se trata de opinião ou crítica. Eu aceito o debate franco e aberto, mas o que estamos enfrentando é crime", disse em um vídeo gravado nas redes sociais.
"Eu decidi há muito tempo, e agora nesta campanha mais do que nunca, que não vou ficar assistindo a isso. Quero que quando eu saia da política, eu tenha contribuído para deixar um ambiente menos hostil e violento para as mulheres"
Bonavides, candidata do PT à prefeitura de Natal (RN), fez uma arrancada surpreendente no segundo turno e, segundo pesquisa do instituto Seta divulgada pela Band no dia 12 de outubro, já empata tecnicamente com o candidato de Jair Bolsonaro na capital potiguar, Paulinho Freire (União), que terminou o primeiro turno na liderança.
Segundo o levantamento, Natália, que teve 28,45% dos votos válidos no 1º turno, já conta com 49,6% das intenções de votos válidos para a segunda volta. Já Freire, que terminou a primeira etapa da eleição com 44,08% dos votos, soma 50,4% das intenções na pesquisa. Como a margem de erro da sondagem é de 3,5 pontos percentuais para mais ou menos, ambos estão em situação de empate técnico.
Há alguns dias atrás, José Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e um dos maiores nomes da esquerda latino-americana, declarou apoio a Maria do Rosário, candidata do PT à prefeitura de Porto Alegre (RS). A petista enfrenta no segundo turno o atual prefeito da capital gaúcha e candidato à reeleição Sebastião Melo (MDB). “Desejo o maior apoio possível a Maria do Rosário, uma candidata popular que luta para representar o povo trabalhador de Porto Alegre. Quero lhe dar um abraço à distância. Um abraço de um compatriota oriental do Sul, que não pode se esquecer jamais do que significa o Brasil e do que significa, com certeza, Porto Alegre. Até sempre", declarou Mujica nas redes sociais.