Em uma semana de reveses para os interesses da classe trabalhadora no Congresso Nacional, o PT decidiu reforçar a comunicação direta com a população para defender uma de suas bandeiras mais simbólicas: cobrar mais de quem tem mais.
Com o mote “Taxação BBB: bilionários, bancos e bets”, a nova campanha, lançada nas redes sociais nesta sexta-feira (27), aborda um tema historicamente espinhoso no Brasil: o sistema tributário, conhecido por ser desigual.
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Em um vídeo curto, com linguagem didática, o partido destaca a proposta do governo Lula para o novo Imposto de Renda, que promete isentar quem ganha até R$ 5 mil por mês — algo que pode beneficiar mais de 20 milhões de brasileiros.
Quem recebe entre R$ 5 mil e R$ 7 mil também terá redução na alíquota. Para compensar a renúncia de arrecadação, o governo propõe aumentar a cobrança sobre quem sempre pagou pouco ou quase nada: os super-ricos, o setor bancário e as plataformas de apostas.
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“Porque imposto é necessário, mas justiça também é”, diz o vídeo, que termina com o slogan: “Novo IR é justiça histórica. Justiça de verdade.”
Congresso na contramão
A ofensiva digital do PT ocorre em um momento sensível para o Planalto. Nesta semana, os interesses da maioria da população sofreram derrotas seguidas no Congresso, entre elas a aprovação de mudanças na desoneração da folha de pagamento para setores empresariais e o avanço de projetos que fragilizam a meta fiscal construída pelo governo Lula.
Não é de hoje que o Congresso Nacional, dominado por uma maioria conservadora — fortemente influenciada pelo centrão, pela bancada empresarial e por grupos ruralistas — resiste a qualquer proposta que aumente a carga tributária sobre os mais ricos.
Desde o início do terceiro mandato de Lula, em 2023, o Planalto vem tentando avançar em medidas para tornar o sistema tributário mais justo: menos peso para quem ganha pouco, mais cobrança para os super-ricos.
Entre as propostas centrais estão a tributação de fundos exclusivos de bilionários, que acumulam grandes fortunas pagando menos impostos que aplicações tradicionais; cobrança sobre offshores, paraísos fiscais onde brasileiros de alta renda mantêm lucros fora do país, muitas vezes sem pagar impostos no Brasil; e regras para taxar apostas esportivas (bets), um setor bilionário que até recentemente não tinha cobrança específica de Imposto de Renda.
Essas medidas fazem parte do ajuste fiscal liderado por Fernando Haddad, que busca equilibrar as contas públicas sem sacrificar quem ganha menos. A estimativa é arrecadar até R$ 20 bilhões extras por ano com essas correções.
Na prática, porém, o governo já teve de ceder e suavizar propostas, como no caso dos fundos exclusivos, cuja versão aprovada saiu mais branda do que a defendida pelo Ministério da Fazenda. A taxação de offshores também enfrenta sucessivos adiamentos.
Nos bastidores, parlamentares justificam a resistência alegando que tributar grandes fortunas poderia “afugentar investimentos” e gerar insegurança para o mercado — argumento reforçado por lobbies do setor financeiro.
Um recado que vai além de Brasília
Diante desse bloqueio, a nova campanha “Taxação BBB: bilionários, bancos e bets” funciona como contrapeso: reforça o discurso de justiça fiscal, mobiliza a base social do PT e pressiona parlamentares a assumirem posição em torno de um tema popular — isentar a classe média baixa e cobrar mais de quem ganha bilhões.
Além do apelo econômico, a peça conecta a agenda fiscal ao discurso histórico do PT de redistribuição de renda e inclusão social. O objetivo é mostrar que a proposta não é apenas uma mudança técnica, mas um passo simbólico para corrigir distorções de décadas.
“É a hora de dizer sim a um Brasil onde todos contribuem de forma justa”, convoca o material, incentivando a militância a divulgar a ideia e pressionar o Congresso.
Milionários do Brasil
De acordo com o Relatório de Riqueza Global 2024 do banco suíço UBS, o Brasil ocupa o topo do ranking de países com mais milionários da América Latina. O documento indica que há 433 mil brasileiros com patrimônio superior a US$ 1 milhão, o que posiciona o país na 19ª colocação global em número absoluto de milionários.
Apesar da concentração de riqueza, o Brasil também se destaca negativamente no levantamento: entre os 56 países analisados, é o que apresenta a maior desigualdade de renda. O índice de Gini ajustado pelo UBS confirma que a disparidade entre os mais ricos e os mais pobres no país é a mais acentuada do estudo.
Outro dado relevante mostra que o Brasil é o segundo país com o maior volume de riqueza a ser herdada nas próximas décadas, com estimativas que reforçam a tendência de manutenção das desigualdades patrimoniais entre gerações.
O relatório reacende o debate sobre justiça tributária, especialmente em meio à discussão das propostas do governo Lula para taxar grandes fortunas e lucros de aplicações financeiras.
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