ECONOMIA

Haddad fala em "otimismo" com corte de juros e rebate mentira em evento de jornal da Globo

Valor econômico, da família Marinho, usou a velha tática da conjunção adversativa para distorcer fala de Haddad e gerar especulação e pânico no mercado financeiro. Ministro teve que ir às redes para acalmar financistas

O ministro da Fazenda Fernando Haddad.Créditos: Diogo Zacarias/MF
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Em entrevista no evento Rumos 2025, organizado pelo jornal Valor Econômico, do grupo Globo, em parceria com a Federação Brasileira dos Bancos, a Febraban, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou em "otimismo" com a possibilidade redução da taxa Selic ainda neste ano.

Haddad ainda teve que ir às redes após o evento para rebater uma fake news criada pelo jornal a partir da distorção de uma de suas respostas, que causou impacto negativo na Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa.

Ao ser indagado sobre a alta da Selic, que chegou a 14j25% na semana passada com a terceira alta seguida feita pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), Haddad traçou um cenário econômico que, segundo ele, deve causar surpresa positiva na inflação projetada para este ano, abrindo margem para queda na taxa básica de juros.

"Eu acredito que nós podemos nos surpreender positivamente com a inflação já nesse ano. Em virtude de safra, comportamento do câmbio, até em virtude do que a geopolítica está projetando, que eu penso ser o oposto", afirmou o ministro.

Haddad, então, lembrou do cenário entre 2023 e 2024, em que as previsões da queda dos juros na economia dos EUA foram menores do que se projetava. Isso teria criado uma onda de valorização do dólar, que atingiu sobretudo o Brasil.

"Nós tivemos muitas dificuldades no ano passado com o FED [Federal Reserve, o Banco Central dos EUA]. Já no final de 2023 havia uma percepção muito forte de que o FED começaria a cortar a taxa de juros nos EUA a partir de março - ou os mais pessimistas a partir de junho. Com orçamento de 150 pontos. Pois cortou só 50 - e não 150 - e ainda com ameaças retóricas de que podia aumentar. Isso deu uma desorganizada geral. Todo mundo estava imaginando uma coisa e veio outra. O dólar se fortaleceu muito no ano passado. Agora no Brasil começa a se acomodar num patamar mais ou menos condizente com nossos pares. Então, não acredito que essa má surpresa que tivemos o ano passado vai se repetir esse ano para o Brasil. A não ser que tenhamos outros tipos de problemas", afirmou.

Segundo ele, essa mudança no cenário internacional, juntamente com os dados internos, "pode ajudar, tanto na inflação, quanto no trabalho do Banco Central, que é uma consequência disso".

Indagado diretamente se acredita em um movimento de queda na Selic já neste ano, Haddad falou que há razão para otimismo, sinalizando como deve ser feita a leitura por meio do Copom do atual cenário.

"É difícil e até constrangedor fazer esse tipo de projeção. Mas, o que entendo é que hoje temos alguma razão para otimismo ainda esse ano. Não sei o que vai ser possível em termos de margem de manobra. Mas, acredito que vamos ter margem de manobra um pouquinho maior do que está sendo previsto".

Fake news

Logo após o evento, ocorrido na manhã desta segunda-feira (24), Haddad teve que ir às redes sociais para desmentir um fake news divulgada pela próprio Valor Econômico, que impactaram na abertura da Bovespa.

Durante a entrevista, o Valor divulgou um texto em seu site distorcendo uma fala do ministro para dar uma conotação de que ele havia minimizado o chamado "arcabouço fiscal", conjunto de medidas que substitui o chamado "teto de gastos", para satisfazer as premissas neoliberais sobre investimentos do governo.

Na reportagem, o Valor usou a velha tática de colocar uma conjunção adversativa para provocar distorção na fala do ministro.

"Haddad defende "arquitetura" do arcabouço, mas não descarta mudanças futuras em parâmetros", diz a manchete do jornal, criando terror no mercado financeiro sobre uma ilusória mudança na política fiscal do governo.

Em sua fala, o mininstro afirmou que somente "depois, uando tiver estabilidade da dívida/PIB, uma Selic mais comportada, inflação mais comportada, você vai poder mudar os parâmetros do arcabouço. Mas, na minha opinião, não deveríamos mudar a arquitetura", disse, enfatizando sua posição sobre o arcabouço.

No entanto, o jornal da família Marinho distorce a fala do ministro que fez projeções futuras sobre a economia.

"Penso que todo mundo considera uma arquitetura robusta", disse o ministro. "Agora, ninguém discorda de que vai ter de fazer ajuste da máquina. Você está pilotando um carro, você não vai até seu destino sem parar numa mecânica, no posto, você vai ter de fazer reparos na máquina para ela andar bem. Mas penso que do ponto de vista da arquitetura estou confortável com o modelo atual", explicou, na frase que resultou no "mas" na chamada do jornal.

Na rede X, Haddad enfatizou sua posição para acabar com a especulação financeira criada pelo jornal.

"Estão tentando distorcer o que falei agora em um evento do Valor. Disse que gosto da arquitetura do arcabouço fiscal. Que estou confortável com os seus atuais parâmetros. E que defendo reforçá-los com medidas como as do ano passado. Para o futuro, disse que os parâmetros podem até mudar, se as circunstâncias mudarem, mas defendo o cumprimento das metas que foram estabelecidas pelo atual governo", explicou.

 

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