EXPECTATIVAS

Copom: o que esperar da primeira reunião com Galípolo no comando do Banco Central

Conselho de Política Monetária se reúne pela primeira vez no ano para definir a taxa básica de juros (Selic)

Gabriel Galípolo, o novo presidente do Banco Central.Créditos: Raphael Ribeiro/BCB
Escrito en ECONOMIA el

O Comitê de Política Monetária (Copom) encerra nesta quarta-feira (29) sua primeira reunião sob a presidência de Gabriel Galípolo, nome indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o Banco Central (BC) após a gestão do bolsonarista Roberto Campos Neto. No encontro, será definida a nova taxa básica de juros (Selic)

A expectativa inicial de que Galípolo adotaria uma postura mais alinhada ao governo, que defende juros mais baixos para estimular a economia, esbarra em um cenário de pressões externas e projeções do mercado financeiro de risco de inflação. 

Diante da valorização do dólar entre o final de 2024 e início de 2025 – embora a moeda tenha registrado queda significativa nos últimos dias – e da alta nos preços dos alimentos, o mercado já trabalha com a previsão de que a Selic será elevada em um ponto percentual, passando de 12,25% para 13,25% ao ano, conforme apontado na última edição do boletim Focus. Essa será a quarta alta consecutiva, dando continuidade ao ciclo de aperto monetário iniciado em setembro do ano passado.

Mesmo sob nova gestão, a decisão do Copom se apoia na máxima do BC de controle da inflação, baseado no boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado financeiro feita pela instituição. O próprio comitê já havia sinalizado em sua última reunião, em dezembro, que elevaria os juros neste início de 2025 para conter os impactos do cenário externo e os desdobramentos do pacote fiscal anunciado pelo governo no final de 2024.

Opositora contumaz e ferrenha da atual política de juros do BC, a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, que apoiou a indicação de Galípolo para a presidência da instituição, foi às redes sociais na noite desta terça-feira (28) para criticar o fato do Copom se basear no boletim Focus para definir a Selic, já que o mercado financeiro errou 95% das projeções econômicas no ano passado. 

 

"Às vésperas da reunião do Copom, o pessoal do boletim Focus projeta aumento da inflação para 5,50% este ano. Ainda bem, para o Brasil, que eles erraram todas as 'projeções' catastrofistas sobre o comportamento da inflação e todos os outros indicadores econômicos nos últimos quatro anos. Mas é inacreditável que essas apostas sem base, expressão do desejo deles, ainda sejam levadas em conta nas decisões do BC sobre assuntos tão sérios como a taxa básica de juros", escreveu a parlamentar. 

 

A decisão final do Copom, junto à ata detalhando as razões para a nova taxa Selic, será divulgada na quarta-feira (29). 

Boletim Focus 

O boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (27) pelo Banco Central, apresentou as novas projeções do mercado financeiro para o PIB, inflação, câmbio e taxa de juros em 2025.

De acordo com as expectativas, o PIB brasileiro foi revisado para cima, de 2,04% para 2,06%, indicando uma perspectiva ligeiramente mais otimista para o crescimento econômico do país.

Por outro lado, a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação, subiu de 5,08% para 5,50%, evidenciando preocupações crescentes com a alta dos preços.

O câmbio deve permanecer estável, com o dólar cotado a R$ 6,00, enquanto a taxa Selic, definida pelo Banco Central, está prevista para encerrar o ano em 15%, mantendo-se elevada segundo os patamares internacionais.

Já a dívida bruta do setor público, antes projetada em 66,95% do PIB, foi reduzida para 66,40% em 2025, indicando uma leve melhora nas contas públicas. O resultado primário para este ano segue inalterado, com expectativa de um déficit de 0,60% do PIB.

As previsões para os anos subsequentes sofreram ajustes. O PIB de 2026 foi revisado para baixo, de 1,77% para 1,72%, e o de 2027, de 2,00% para 1,96%.

Vale lembrar que o Boletim Focus, elaborado a partir da média das previsões de especialistas do mercado financeiro, errou para baixo as projeções de crescimento do governo Lula em 2023 e 2024.

Esse histórico tem levantado questionamentos sobre possíveis vieses nas estimativas, dado o alinhamento do boletim com interesses predominantes no mercado financeiro, especialmente da chamada "Faria Lima".

 

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