Um novo pânico tomou conta do mercado financeiro internacional na manhã desta segunda-feira (5), que começou com o acionamento do circuit breaker na Bolsa de Valores de Tóquio, no Japão, onde o índice Nikkei teve queda de 12,4%, o maior desde a "segunda-feira negra" de 1987, registrada após o Irã bombardear navios-petroleiros dos EUA no Kwait.
Segundo Paulo Kliass, doutor em Economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal, as primeiras impressões mostram que as bolsas asiáticas tiveram forte influência dos dados divulgados na última sexta-feira (2) sobre a economia dos EUA.
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O "Payroll", o relatório do mercado de trabalho dos Estados Unidos, apontou para um aumento da taxa de desemprego no país, que chegou a 4,3% - alta de 0,2%, abaixo da estabilidade estimada pelo mercado.
"A avaliação é que a economia americana esteja entrando em recessão. E uma recessão nos EUA acaba provocando um efeito em cadeia do ponto de vista da queda de remuneração dos papéis, mesmo em países desenvolvidos", explicou Kliass á Fórum.
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Segundo economista, a desconfiança maior se dá porque, além do índice de desemprego, o Federal Reserve (FED), banco central dos EUA, decidiu manter a taxa básica de juros entre 5,25% e 5,5%.
"Eles estão falando dos EUA entrarem numa rota recessiva e porque eles estão com essa avaliação? Em função da política de juros altos nos EUA, deles não terem reduzido esses juros, a avaliação mais corrente do mercado financeiro é que eles acabaram aprofundando o processo recessivo. E isso se reflete nas informações dos dados sobre emprego, que apontam uma não recuperação, que seria um estado pré-recessivo", diz o economista.
Kliass afirma ainda que o acionamento do circuit breaker - que paralisa as negociações por um determinado no tempo na bolsa de valores - se deu como prevenção contra um movimento especulativo.
"Esse mecanismo do circuit breaker é uma forma de prevenção de quadros muito instáveis ou especulativos dentro das próprias bolsas. As bolsas param, como se entrasse um juiz imparcial, e as coisas retomam. Não é uma grande novidade. A existência do circuito é antiga, mas entra pouco em ação, justamente para evitar uma quebradeira maior".
Risco de crash global
Paulo Kliass afirma ainda que há um risco de crash global permanente em razão da falta de lastro nas transações financeiras no mercado global.
A exemplo do que ocorreu em 2008, por exemplo, com a crise imobiliária nos EUA - ou na "Grande Depressão" de 1929 -, o crash global é uma crise acentuada no mercado financeiro, resultando em uma quebradeira geral de bancos e causando correria para resgate de moedas investidas nas bolsas de valores.
"O risco de se repetir uma crise de 2008/2009 é permanente. Porque a economia global está extremamente financeirizada e o nível das aplicações financeiras no circuito internacional é muito maior do que qualquer capacidade das economias reais responderem", diz.
No entanto, o economista afirma que esse não deve ser o caso da onda criada no Japão na manhã desta segunda-feira.
"Por exemplo, nos aplicativos oficiais apenas temos algo em torno de US$ 800 trilhões circulando pelo mundo, o que dá algo em torno de 8 vezes de alavancagem do PIB mundial. Então, esse risco [de crash global] é permanente. A questão é saber se a crise que eclode, como essa madrugada ou muitas outras que teremos pela frente, vai ser alguma coisa tão forte para atingir esse nível de alavancagem insustentável no longo prazo. Mas, não dá para ficar como profeta do apocalipse dizendo, a cada vez, que essa é a última e vai acabar. Acho que dessa vez ainda não", ressalta.
Kliass afirma que os olhos do mundo - e especialmente dos investidores e especuladores - estarão voltados para as bolsas de Nova York e da Europa afim de medir a resposta do que vem da Ásia.
"O risco de um crash global vai depender da resposta que vierem das bolsas na Europa e nos EUA, a partir das expectativas de redução do crescimento e, principalmente, dos efeitos em cascata do que aconteceu nas bolsas japonesa e asiáticas. Eu, particularmente, acredito que não haja motivo para um fenômeno como aquele [de 2008, desencadeado pela crise das hipotecas subprime nos EUA]. Mas, a gente nunca sabe", afirma.
"O problema maior é saber o quanto de grau especulativo, vamos dizer assim, tem nas bolsas dos EUA e Europa. Se elas tiverem muito desancoradas, como se diz, é possível que o efeito cascata do Oriente se projete para cá. Caso contrário, não", conclui o economista.