DISCURSO E DISPUTA

"Taxad": Qual é o objetivo da campanha contra o ministro Fernando Haddad

Nos últimos dias, as redes foram inundadas com memes que buscam vincular a imagem do ministro da Fazenda à taxação dos mais pobres, inclusive com aparição em telão na Times Square

"Taxad": Qual é o objetivo da campanha contra o ministro Fernando Haddad.Créditos: MF (Diogo Zacarias) - Ministro da Fazenda, Fernando Haddad
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Nos últimos dias, as redes sociais foram inundadas por centenas de memes que visam vincular o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à taxação dos mais pobres a partir da hashtag “Taxad”. 

O que parecia ser algo espontâneo e apenas engraçado, uma brincadeira com o ministro da Fazenda, se revelou algo coordenado e com alto grau de profissionalismo, visto a qualidade dos memes, os referenciais semióticos e culturais e novamente, o volume. Inclusive, um dos cards contra Fernando Haddad foi exibido em um telão da Times Square.

Para além da "memeficação" do ministro Fernando Haddad enquanto alguém obsessivo por taxar a população brasileira, alguns pontos devem ser levados em conta quanto ao timing da campanha contra o ministro da Fazenda: ela inicia logo após duas pesquisas revelarem que a avaliação do presidente melhorou; também tem por objetivo estabelecer um discurso em torno da figura de Haddad (como um político taxador) e fazer com que a rejeição de sua figura o inviabilize a projetos políticos futuros, por exemplo, as disputas eleitorais de 2026 e 2030.

Mas, além do objetivo político-eleitoral da campanha "Taxad", há também um viés extremamente neoliberal contido nas imagens que circulam de maneira massiva nas redes: crítica à forte presença do Estado e políticas que favoreçam os mais pobres. Dessa maneira, a ação contra Fernando Haddad tem como um dos alvos a classe média, setor pendular na disputa eleitoral. Fixar nas mentalidade desse estrato da sociedade que ela foi taxada sobremaneira por Haddad e Lula. 

Porém, dados divulgados pelo Ministério da Fazenda mostram que, ao contrário da campanha "Taxad", a carga tributária diminuiu no primeiro ano do governo Lula. Tal fato foi destacado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin durante conversa com jornalistas nesta terça-feira (16).

"Em 2023, a carga tributária bruta foi 32,4% do PIB [Produto Interno Bruto]. Ela era 33,7% até 2022. A carga tributária não só não aumentou no governo do presidente Lula como caiu. Caiu para 32,4%. Então, não teve aumento de carga tributária, até reduziu em 0,6%", afirmou Alckmin.

Em seguida, o vice-presidente afirmou que quem afirma que houve aumento de tributo (taxas) no Brasil, está mentindo. "Tem um fato importantíssimo que é a reforma tributária. Simplifica, substitui cinco impostos de consumo, IPI, PIS, Cofins, ISS e ICMS, por um IVA dual. Desonera completamente exportação, desonera completamente investimento. Agora, alguns querem enganar. Não tem aumento nenhum, estamos é simplificando", disse.

O vice-presidente Geraldo Alckmin toca num ponto importante que também ajuda a entender o que está por trás da campanha contra o ministro da Fazenda: a mentira e a desinformação. Em uma rápida análise nas redes e nos perfis que estão compartilhando, em sua maioria, são vinculados aos ideais da extrema direita, logo, neoliberais e contrários às políticas de bem-estar social e valorização do salário mínimo e ascensão social dos mais pobres. 

Outra questão que está em jogo nessa campanha massiva contra o ministro da Fazenda é o fato de que ele é um defensor da taxação dos super-ricos, a qual ele considera "uma das formas para que desenvolvimento sustentável seja garantido”.

“Cada país pode fazer muito por si próprio. É exatamente isso que estamos construindo no Brasil com a Reforma Tributária. Entretanto, sem cooperação internacional, há um limite para atuação dos estados nacionais. Sem cooperação, aqueles no topo continuarão a evadir nossos sistemas tributários”, declarou Haddad em um encontro do Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril deste ano.

A campanha contra o ministro Fernando Haddad se torna ainda mais estranha quando observamos alguns dados recentes do governo Lula: