O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou reunião nesta terça-feira (18) e define nesta quarta o valor da taxa de juros básicos da economia, a Selic. A expectativa é que seja interrompida a trajetória de queda, com manutenção dos atuais 10,5% ao ano.
A decisão sobre os juros ocorre em meio a um cenário conturbado para o presidente do órgão, Roberto Campos Neto. Na semana que antecedeu a reunião do Copom, teria havido uma "sinalização", não desmentida, de que o dirigente aceitaria ser ministro da Fazenda em um eventual mandato presidencial do hoje governador paulista Tarcísio de Freitas. Mesmo veículos alinhados com a política monetária do BC e simpáticos a ele teceram críticas, como o jornal O Estado de S. Paulo, que pediu "prudência, discrição e impessoalidade".
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Em entrevista à rádio CBN nesta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o comportamento de Campos Neto e a elevada taxa de juros. "Nós só temos uma coisa desajustada nesse momento: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. O presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", apontou.
No mesmo dia, centrais sindicais protestaram, na Avenida Paulista, pedindo a redução da taxa de juros. “O BC alega que a Selic precisa ser alta para conter a inflação, mas esta segue sob controle e existem outros métodos para conter a inflação que não esse, que causa prejuízos para todo o país. Quando Campos Neto alega também que essa queda no ritmo de redução da Selic se dá por causa do aumento do emprego, acaba entrando em contradição, porque vai justamente na contramão de uma das missões do BC, que é colaborar para que o Brasil alcance o pleno emprego” destacou a vice-presidenta nacional da CUT, Juvandia Moreira, ao site do SindPúblicos.
Juros altos preocupam os brasileiros
Atualmente, conforme dados do levantamento da MoneYou, com base no mês de maio, o Brasil tem a segunda maior taxa de juros do mundo, com 6,31%, descontada a taxa de inflação para os próximos 12 meses. Perde somente para a Rússia, que tem 7,79%.
A ata da última reunião do Copom apontava que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa Selic “serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”. No entanto, o Brasil, ao mesmo tempo que tem a segunda maior taxa de juros do mundo, tem somente a 15ª inflação, levando-se em conta a taxa anualizada até 31 de maio.
Segundo pesquisa semestral “Monitor do Custo de Vida”, realizada pela Ipsos em 32 países e com quase 25 mil entrevistados, o aumento da taxa de juros é fator de preocupação para 69% dos brasileiros. Além de afetar o endividamento das famílias, a taxa elevada compromete o orçamento público.
"A cada ponto percentual que os juros se mantêm nesse patamar significa R$ 38 bilhões na dívida pública. É dinheiro que o governo poderia estar investindo em outras coisas, em saúde, educação, infraestrutura, e está remunerando os juros da dívida, que quem ganha é um grupo de bilionários", aponta a presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro dos Santos, em entrevista à Agência Brasil.
A influência dos bancos na definição da taxa de juros
Na sexta-feira (14), o subprocurador-geral Lucas Furtado, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), entrou com uma representação para que a corte investigue a influência de bancos e instituições financeiras nas decisões do Banco Central.
Furtado menciona em especial no seu pedido o Boletim Focus, publicação do BC que relata as expectativas periódicas do mercado sobre indicadores como a Taxa Selic.
"Ora, se a taxa de juros básica que conduzirá relações financeiras no país é definida levando em consideração previsões dos próprios agentes que irão reger tais relações, vejo que se pode estar diante de uma gama de possibilidades de manipulação de índices por essas instituições", pontua Furtado.