CONTRADIÇÃO

Por que BC dos EUA diminuiu o juro enquanto BC do Brasil aumentou

Fed, autoridade monetária da potência que é farol para os liberais brasileiros, adota postura bem diferente do Banco Central brasileiro

Créditos: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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"O que acontece nos EUA acontece no Brasil" é uma máxima frequentemente adotada pelos liberais brasileiros, em especial no que diz respeito aos rumos da economia. O anúncio desta quinta-feira (7) do Federal Reserve (Fed) deve ter dado um curto-circuito nessa turma.

O banco central dos Estados Unidos comunicou uma nova redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, que agora passa a variar entre 4,5% e 4,75% ao ano. Essa é a segunda redução consecutiva após quatro anos de estabilidade, movimento amplamente antecipado pelo mercado financeiro.

A medida vai na contramão do anúncio do Banco Central do Brasil, feita na noite desta quarta-feira (6), de novo aumento da taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual: foi de 10,75% para 11,25% ao ano. 

Já nos EUA, em comunicado, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) destacou que a economia estadunidense “continua a se expandir em ritmo sólido”. A decisão foi unânime entre os membros do comitê, que mantiveram uma postura de cautela em meio às incertezas do cenário econômico global.

“As condições do mercado de trabalho afrouxaram de forma geral”, diz a nota, embora o desemprego ainda permaneça em níveis baixos. Segundo o Fed, os riscos para o mercado de trabalho e a inflação estão “aproximadamente equilibrados”.

A nova declaração do Fed também destaca progresso na redução das pressões inflacionárias, com o índice de preços de despesas de consumo pessoal – excluindo alimentos e energia – se mantendo estável nos últimos três meses, a uma taxa anual de aproximadamente 2,6% em setembro.

Efeito Trump

O corte ocorre um dia após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA. Em seu mandato anterior, Trump criticou publicamente o presidente do Fed, Jerome Powell, que mantém o cargo até 2026. Analistas acompanham de perto possíveis novas tensões entre o republicano e o Fed, especialmente em um cenário de políticas monetárias mais agressivas.

A decisão do Fed acompanha um movimento semelhante de bancos centrais ao redor do mundo. Na manhã desta quinta-feira, o Banco da Inglaterra também anunciou uma redução de 0,25 ponto percentual, levando a taxa britânica para 4,75%. Já o Banco Central Europeu (BCE), que atende a zona do euro, cortou sua taxa para 3,25% em outubro, acumulando três cortes consecutivos.

Brasil na contramão do seu farol liberal

O movimento no Brasil é oposto do dos Estados com mais um aumento pelo Comitê de Política Monetária (Copom) dda taxa Selic para 11,25%. Na visão liberal, seria uma tentativa de alinhar as expectativas de inflação ao centro da meta de 3%. A disparidade reflete as diferentes condições econômicas entre o Brasil e economias desenvolvidas, onde a inflação tem mostrado sinais de controle.

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A redução dos juros nos EUA representa um esforço para sustentar o crescimento econômico e equilibrar os desafios no mercado de trabalho e de preços, mas também indica uma postura cuidadosa do Fed diante das incertezas globais e das possíveis pressões políticas vindas do novo governo Trump.

Com informações da Reuters