Conforme esperado pelo mercado financeiro, o Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou, na noite desta quarta-feira (6), novo aumento da taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual: foi de 10,75% para 11,25% ao ano.
Trata-se do maior aumento da Selic desde maio de 2022. Em julho de 2023, a taxa chegou a estratosféricos 13,75% e, no mês seguinte, o BC iniciou um ciclo de redução que durou até junho deste ano, quando a Selic foi fixada em 10,5%. Nos meses seguintes, a taxa manteve-se estável e, em setembro, passou a subir novamente. Esta é, portanto, a segunda alta consecutiva da Selic imposta pelo Copom.
A votação pela elevação da taxa básica de juros para 11,25% ao ano no Copom, que é formado pelo presidente do BC, o bolsonarista Roberto Campos Neto, e por oito diretores da instituição, foi unânime.
Trump como justificativa
Logo no início do comunicado oficial sobre o aumento da taxa básica de juros, o Copom cita "incertezas" nos Estados Unidos após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial como uma das justificativas para a elevação da Selic.
"O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed", diz o Conselho de Política Monetária do BC.
O Copom cita, ainda, a inflação acima da meta como outro motivo para ter optado por um novo aumento da taxa de juros.
"Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo. A inflação cheia e as medidas subjacentes se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes (...) O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação", prossegue o texto.
O aumento da Selic também veio acompanhado de nova pressão do BC ao governo Lula por um corte de gastos para que o arcabouço fiscal seja cumprido.
"O Comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária".
"Sabotagem"
Crítico contumaz do presidente bolsonarista do BC, Roberto Campos Neto, e da atual política de juros da instituição, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) chamou atenção para o fato de que, atualmente, a taxa básica de juros do Brasil é uma das mais altas do mundo e que o corte de gastos almejado pela instituição deve atingir justamente a população mais vulnerável do país.
"VERGONHA! Decisão do COPOM de aumentar a Selic em 0,5% é uma sabotagem contra o Brasil. A taxa já está em 11,25%, a segunda mais alta do mundo. Falam em cortar gastos públicos, mas só esse aumento vai significar R$ 25 bilhões a menos para saúde, educação, segurança. Defendem cortar direitos dos mais pobres para enriquecer ainda mais os rentistas! UM ABSURDO!", escreveu Lindebergh nas redes sociais junto a um vídeo sobre o assunto.
A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, foi na mesma linha, chamando o novo aumento da Selic de "sabotagem".
"Copom mantém a sabotagem à economia do país e eleva ainda mais os juros estratosféricos. Irresponsabilidade total com um país que precisa e quer continuar crescendo", disse a parlamentar.