Em ata das reuniões da última semana, quando a taxa Selic foi mantida em 13,75%, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, faz um afago ao Ministério da Fazenda, de Fernando Haddad e elogia a política de reoneração progressiva dos combustíveis, que retomou a cobrança de impostos federais - como o PIS/Cofins e a Cide - em março.
Na ata, os diretores do BC, comandados pelo presidente Roberto Campos Neto, relatam a deterioração do ambiente externo devido à crise bancária, com a quebra de bancos nos EUA e a venda do Credit Suisse, que causou turbulência no sistema financeiro, especialmente na Alemanha, com o Deutsche Bank.
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"O ambiente externo segue marcado pela perspectiva de crescimento global abaixo do potencial, mas a flexibilização da política de combate à Covid na China, um inverno mais ameno na Europa e a possibilidade de uma desaceleração gradual no crescimento nos Estados Unidos suavizam a desaceleração econômica global em curso resultante do aperto das condições financeiras nas principais economias".
Voltando-se ao "âmbito doméstico", o Copom cita indicadores que, segundo os diretores do BC, corroboram "o cenário de desaceleração do crescimento esperado pelo Comitê".
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"Observa-se moderação nos indicadores coincidentes de atividade e o mercado de crédito também tem apresentado desaceleração na margem. O mercado de trabalho, que surpreendeu positivamente ao longo de 2022, continua mostrando sinais de moderação, com relativa estabilidade na taxa de desemprego, proveniente de recuos na população ocupada e na força de trabalho", relata.
Em seguida, o Copom cita a perspectiva de aumento da inflação, que foi revelada pelo boletim Focus, que ouve semanalmente agentes do sistema financeiro, onde se concentram boa parte da resistência à política econômica desenvolvimentista do governo Lula.
"Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que apresentam maior inércia inflacionária, mantêm-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente", diz o texto.
Mais adiante, ao analisar os riscos, Campos Neto e os diretores do BC afagam o "compromisso" de Haddad com o arcabouço fiscal, mas ressalta que não vê "relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal, uma vez que a primeira segue condicional à reação das expectativas de inflação, às projeções da dívida pública e aos preços de ativos".
"O Comitê avalia que o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, e já identificado nas estatísticas fiscais e na reoneração dos combustíveis, atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo. Ademais, o Comitê seguirá acompanhando o desenho, a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal que será apresentado pelo Governo e votado no Congresso", diz o texto.
O Copom finaliza - sem muita explicação - com ameaça de elevar a taxa de juros, que é o principal alvo de críticas de Lula.
"O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", diz o texto, aprovado por Campos Neto, Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.
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