Sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas semanas houve uma saraivada de críticas aos juros altos praticados no Brasil, tema que é responsabilidade do Banco Central (BC). Nesta sexta-feira (24), um encontro entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do BC, Campos Neto, pode sinalizar uma mudança de rumos no relacionamento entre as duas principais autoridades da política econômica brasileira.
Haddad e Campos Neto participam do encontro de ministros da finança e presidentes de bancos centrais do G20, que reúne as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia. O evento teve início nesta quinta-feira (23), em Bangalore, na Índia, e é uma preparação para o encontro oficial do G20, que será realizado em setembro, com os chefes de estados desses países.
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Os dois representantes brasileiros abriram espaço na agenda oficial para almoçarem juntos, sozinhos. Segundo a CNN, o encontro foi acertado entre eles, sem a presença de assessores, e durou cerca de uma hora e meia. Se por um lado o almoço pode fortalecer a ponte entre os condutores da política econômica do país, de outro é pouco provável que estanque as críticas contra os juros altos ou o alinhamento do presidente do BC com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Preocupação com juros altos
Na manhã desta sexta-feira, durante discurso no encontro, Haddad mostrou que, a despeito da sinalização de uma boa relação com o presidente do BC, o Executivo segue preocupado com a elevação dos juros.
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“A elevação dos juros em meio à fragilidade da economia mundial agrava o cenário. Devemos continuar o trabalho que está sendo realizado no Marco Comum e outros esforços de coordenação coletiva. Ter mecanismos para uma reestruturação ordenada e oportuna é do interesse de credores e devedores”, afirmou o ministro.
Haddad falou também sobre o endividamento dos países mais pobres e no enfrentamento por essas nações à crise climática. “O financiamento climático é mais caro e apresenta taxas de risco mais altas para esses países, o que dificulta o alcance das metas de redução de emissões de carbono”, disse.
Para o ministro, os bancos multilaterais devem promover reformas internas para direcionar recursos para ações de alimentação, combate à pobreza e no enfrentamento à crise climática.
Ele disse que essas instituições devem ser capitalizadas para apoiar os países em desenvolvimento com financiamento de longo prazo, taxas de juros adequadas e estruturas inovadoras para reduzir riscos, estimular parcerias público-privadas e atrair investimentos privados.
“Mantendo o foco na prosperidade compartilhada e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), devemos aprofundar as discussões sobre reformas nos bancos multilaterais de desenvolvimento que reforcem seu papel de formar parcerias e canalizar recursos para lidar com o nexo clima, alimentação e pobreza”, disse Haddad na sessão de abertura da reunião do G20.
Haddad disse ainda que o Brasil estava “isolado”, mas que agora vai reconstruir sua presença internacional para promover entendimentos baseados na inclusão e em um futuro sustentável, com redução das desigualdades e no alcance das metas de redução de emissões de carbono, em especial, para projetos dos países em desenvolvimento e emergentes.
O ministro abordou ainda os desafios mundiais enfrentados atualmente, como as consequências da pandemia da Covid-19, guerras, conflitos, aumento da pobreza e das desigualdades, obstáculos ao abastecimento de alimentos e de energia limpa. Ele enfatizou que deve haver mais diálogo entre as maiores economias para que se obtenha resultados concretos.
Haddad comentou que, em 2024, quando o Brasil estará na presidência do G20, trabalhará para fortalecer o multilateralismo, mantendo o foco na prosperidade compartilhada e nos ODS, destacando o compromisso do governo em acabar com o desmatamento até 2030.
Com informações da Agência Brasil e CNN Brasil