ECONOMIA NO FUNDO DO POÇO

Governo Bolsonaro e orçamento secreto da Câmara fizeram investidores estrangeiros baterem em retirada do Brasil

“Nos últimos três anos, Brasil sofreu destruição reputacional no exterior”, diz consultor internacional de investimentos

Arthur Lira e Jair Bolsonaro.Créditos: Isac Nóbrega/PR
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A combinação da degradação dos indicadores econômicos e ambientais no governo Bolsonaro com as emendas do relator na Câmara dos Deputados (conhecidas como “orçamento secreto”) é a grande responsável pela fuga do investimento estrangeiro do país, especialmente na área de infraestrutura e concessões, que pressupõem relacionamento com o poder público. A corrupção sem freios no bolsonarismo é outro tema que tem afugentado os investidores. 

Segundo Claudio Frischtak, sócio e gestor da Inter B Consultoria Internacional de Negócios, "nos últimos três anos [período do governo Bolsonaro], o Brasil sofreu destruição reputacional no exterior por não conseguir acompanhar a mudança de mentalidade que está ocorrendo nos negócios". Ele falou à Folha de S.Paulo.

A questão ambiental é outro tema que faz com que os investidores fiquem horrorizados com o governo de extrema direita do Brasil. "Empresas, fundos de investimento e de pensão, importantes investidores de longo prazo, estão incluindo o meio ambiente na análise de retorno do investimento. Quem insiste em ignorar isso vive em outro planeta”, assegurou Frischtak.

O analista foi taxativo quanto ao prejuízo causado ao Brasil pelo orçamento secreto implementado pela dupla Bolsonaro-Arthur Lira: "A qualidade do investimento público sofreu um enorme retrocesso com a adoção das emendas do relator como uma forma de financiar obras públicas".

Os dados disponíveis indicam que setor público investiu, em média, R$ 46 bilhões ao ano em infraestrutura entre 2018 e 2021, enquanto o setor privado investiu R$ 94 bilhões em média. Nos três anos anteriores, de 2016 a 2018 [o período Temer], a média do setor público foi de R$ 57 bilhões, e a do setor privado, praticamente os mesmos R$ 94 bilhões.

Ou seja, ponderou o analista, enquanto o investimento público teve queda de 19%, o privado ficou igual. Os valores consideram o impacto da inflação.

Durante os governos do PT os números eram de outra magnitude, segundo as consolidações da consultoria. O setor público colocou quase R$ 105 bilhões em infraestrutura em 2010, e o privado chegou a investir R$ 119 bilhões em 2014.

Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) disse que o país sofre com anos seguidos de retração generalizada do investimento público, o que agrava ainda mais a situação.

Ele adverte que os governos Temer e Bolsonaro fizeram uma revisão de fundo ideológico do modelo econômico brasileiro, o que levou a um cenário desastroso: "A ideia de reduzir a participação do Estado na economia foi posta em prática. Então, o setor público investe menos, o BNDES assume outras funções e buscam-se reformas para atrair capital privado". Hoje, no entanto, não há nem investimento público nem privado.

Houve uma retração no investimento público no início do governo Lula, explicou Pires:. "Lá atrás, foi preciso fazer um ajuste fiscal no início do primeiro governo Lula, que levou à redução do investimento público num curto período, mas foi seguido de retomada". Agora, no entanto, não há retomada alguma no horizonte.

"Ao que tudo indica, a redução do investimento público não chegou ao piso e vai cair mais ainda", afirmou Pires.

A única chance de reverter essa situação é a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro.