Paulo Guedes, com seu elitismo seboso e desavergonhado, está de volta à carga. O ministro da Economia de Jair Bolsonaro, que já reclamou das empregadas domésticas que iam para a Disney e dos filhos de porteiros que receberam bolsas para cursar a universidade, agora disse que “que os brasileiros têm um, às vezes dois iPhones” e que “tem mais iPhones no Brasil do que população”. O escárnio foi na tarde desta sexta-feira (11), durante a cerimônia de lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes.
Não é difícil imaginar em que mundo Guedes vive. É só lembrar que ele é dono de uma offshore com US$ 9,55 milhões (R$ 48,5 milhões) no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, descoberta durante o escândalo Pandora Papers, revelado em outubro de 2021. E isso é o que nós sabemos.
Alguém que passou a vida saçaricando entre banqueiros e abrindo contas em dólar em micronações obscuras não vive, mesmo que fisicamente esteja, no Brasil. E muito menos no Brasil de Jair Bolsonaro e dele, o responsável pelas finanças do período histórico mais crítico socioeconomicamente de todos os tempos.
Não faz muito tempo que Guedes teve a desfaçatez de dizer que os preços dos alimentos estavam subindo porque as pessoas estavam comprando demais. Milhões de brasileiros famélicos perambulam atrás de uma refeição desde que essa gente se apossou de Brasília, vivendo de caridade, de humilhação e, por vezes, indo dormir com fome. Mas no maravilhoso mundo do Guedes elas compram toneladas de mantimentos a ponto de provocar escassez e os preços subirem nas gôndolas.
Alienação? Em certa medida, sim. Canalhice? Com certeza!
O ex-banqueiro obtuso que já foi pedir penico até na ditadura sanguinária de Augusto Pinochet, no Chile, e que fala com naturalidade para ninguém estranhar se setores do governo e da sociedade começarem a pedir um novo AI-5, é o arquétipo de uma elite troglodita e estúpida, um concentrado de ignorância com um diploma no sovaco. Inculto, incivilizado e aético, Guedes é a personificação da alma bolsonarista das hostes ricas (não do bolsonarismo pobre), é o sujeito que pensa que seu cartão black funciona como uma espécie de passaporte para a imortalidade de sua arrogância.
No país em que um de cada seis habitantes economicamente ativo está sem emprego, e um número igual sequer procura mais uma ocupação, com 59,4% dos lares atravessando a indigna insegurança alimentar, roendo ossos pelas calçadas, o totem econômico do maior salafrário que já ocupou o Palácio do Planalto resolver dizer, na frente da plateia e de jornalistas, que os brasileiros quando não têm um, têm até dois celulares que custam pelo menos R$ 5 mil.
A grande esperança é que esse seja o ocaso dessa matilha. Os estertores de um período que será enterrado para sempre em nossa história. É necessário estômago para seguir ouvindo as cantilenas macabras e debochadas de alguém que nos colocou na miséria e agora ri de todos.