REAÇÃO

Filha de ex-atriz da Globo sofre racismo na escola e mãe pede expulsão de alunas

“Não vejo outra alternativa para um crime previsto em lei e que a escola insiste em relativizar”, afirmou a artista

Imagem Ilustrativa.Créditos: Tomaz Silva/Agência Brasil
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Acusadas de racismo, duas alunas da escola de alto padrão Vera Cruz, em São Paulo, podem ser expulsas do colégio. Pelo menos este é o desejo da atriz Samara Felippo. A vítima das manifestações preconceituosas é a filha de 14 anos da artista.

De acordo com a ex-atriz da Globo, duas estudantes do 9° ano pegaram um caderno da menina, arrancaram as folhas e escreveram uma ofensa racial em uma das páginas. Em seguida, o caderno foi entregue no departamento de achados e perdidos da escola.

“Sim, pedi expulsão das alunas acusadas, pois não vejo outra alternativa para um crime previsto em lei e que a escola insiste em relativizar. Fora segurança e saúde mental da minha filha e de outros alunos negros e atípicos se elas continuarem frequentando a escola. Não é um caso isolado, que isso fique claro”, afirmou Samara, em entrevista ao G1.

“Eu, sinceramente, quero que as pessoas envolvidas, agressoras, né, que são meninas de 15, idade da minha filha, se reabilitem mesmo. Eu quero bem delas, eu não quero mal de ninguém. Eu só quero que não convivam no mesmo espaço, onde poderão futuramente humilhar novamente e ofender e cometer outros atos de racismo contra ela”, destacou.

A filha de Samara ainda tentou conversar com as agressoras. “Foi ela que pediu uma reunião com as garotas. Ela foi superbonita, digna, forte, empoderada, entender, né? Tentar olhar na cara delas, entender o motivo daquele ato tão agressivo, tão violento e explicar para elas que isso é crime, que ela sabe que isso é crime”.

A atriz contou que faz trabalho de “letramento no racismo” com as filhas desde que elas eram pequenas. “Desde sempre eu nomeei o racismo. Eu disse que o racismo poderia, infelizmente, visitá-las na vida delas. E eu acho que quando ela se prontificou para querer estar com as meninas, em uma sala, para entender o motivo que aquelas meninas tinham feito aquilo, eu perguntei na hora se ela estava forte para isso. E ela disse sim”, relatou.

Samara registrou boletim de ocorrência (BO) e disse que não resolveu se vai retirar a filha da escola. “Ainda estou digerindo tudo e talvez nunca consiga, cada vez que olho o caderno dela ou vejo ela debruçada sobre a mesa refazendo cada página dói na alma. Choro. É um choro muito doído. Mas agora estou chorando de indignação também”.

Samara e aas filhas - Foto: Reprodução/Instagram

Escola suspende alunas por tempo indeterminado

A escola Vera Cruz encaminhou um comunicado às famílias e obtido pelo G1 sobre o caso. “Imediatamente foram realizadas ações de acolhimento à aluna, de comunicação a todos os alunos da série, bem como a suas famílias. Desde o primeiro momento, mantivemos contato constante com a família da aluna vítima dessa agressão racista, assim como permanecemos atentos para que ela não fique demasiadamente exposta e seja vítima de novas agressões. Na circular enviada a todas as famílias no mesmo dia, solicitamos que todos conversassem com seus filhos sobre o ocorrido, e na terça-feira, dia 23 de abril, duas alunas do 9º ano e suas famílias compareceram à Escola, responsabilizando-se pelos atos”.

O colégio disse, ainda, que as alunas agressoras foram convocadas para devolver as folhas arrancadas do caderno e para serem informadas, oficialmente, sobre as punições que seriam aplicadas.

A suspensão se encerrará quando entendermos que concluímos nossas reflexões sobre sanções e reparações, que ainda seguimos fazendo – fato também comunicado a todas as famílias diretamente envolvidas. Ressaltamos que outras medidas punitivas poderão ser tomadas, se assim julgarmos necessárias após nosso intenso debate educacional, considerando também o combate inequívoco ao racismo”, acrescentou o comunicado.

Atriz deseja levantar o debate

Samara pretende levantar um debate a respeito do que o colégio precisa fazer para ser considerado antirracista. “Tem algumas coisas na escola que eu não concordo. A política de cotas que eles adotam vai só até o quinto ano. Então, um adolescente negro que vai para a escola no sétimo, no oitavo, no nono ano, não vai se sentir representado, vai ser um ambiente hostil, majoritariamente branco. Eu quero levantar um debate assim: o que é uma escola antirracista de qualidade?”. apontou.

“Porque essas meninas [que agrediram a filha da atriz] estudam desde sempre no Vera [Cruz], e cometem um tipo de ato como esse. Então, não está fazendo efeito, você não está fazendo efeito. Tem que refazer, tem que repensar, tem que fazer mais”, completou a atriz.