A cada quatro horas, uma pessoa negra é morta pela polícia no Brasil. Em 2023, foram 2.782 vítimas em nove estados. Desse total, 243 eram crianças e adolescentes de 12 a 17 anos. Os dados fazem parte do relatório "Pele Alvo: Mortes Que Revelam Um Padrão", lançado pela Rede de Observatórios da Segurança, nesta quinta-feira (7).
O documento fiscalizou o número de mortes por agentes do Estado no Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Através de dados obtidos das Secretarias de Segurança Pública e órgãos correlatos, o Observatório pôde constatar que das 4.025 vítimas da letalidade de ações policiais, 2.782 eram pessoas negras — ou seja, 87%.
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Os números de cada estado também revelam um padrão que se mantém desde o primeiro boletim, divulgado em 2020: a maioria das vítimas é de crianças e adolescentes. No Amazonas, por exemplo, 69,5% das vítimas tinham entre 12 e 29 anos. Na Bahia, que tem a polícia mais violenta do país, 62,0% dos mortos tinham entre 18 e 29 anos.
No Ceará, os jovens de 12 a 29 anos representam 80% das vítimas, enquanto no Maranhão eles são 54,8%. Em Pernambuco, as pessoas dessa faixa etária representaram 70,9% das vítimas e no Piauí foram 48,1%. Em São Paulo, 52,3% das vítimas tinham entre 12 e 29 anos.
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“Ano após ano, vemos a reafirmação de que a violência da polícia tem cor, idade e endereço. São milhares de jovens negros, muitos que nem chegaram a atingir a maioridade, com suas vidas ceifadas sob a justificativa de repressão ao tráfico de drogas. Não é aceitável nem justificável a morte de uma pessoa negra a cada quatro horas pelas mãos de agentes de uma instituição que deveria zelar pela vida", diz a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios.
Ela ressalta que o objetivo do relatório é ressaltar esses dados para "denunciar a urgência de um debate público acerca do racismo na segurança e incentivar o desenvolvimento de políticas públicas que mudem o rumo desta realidade”.
O Observatório destaca que 2023 foi o primeiro ano de mandato de novos governadores estaduais, e que as informações e os contextos analisados pelos pesquisadores "apontam alguns novos caminhos adotados, mas ainda sem ter atenuado as condições adversas a que os negros são submetidos pelas forças policiais e políticas de segurança".
No Amazonas, a letalidade policial registrou queda de 40,4%. No entanto, na Bahia, o problema segue crescente, atingindo seu maior índice desde 2019, com registro de três vítimas negras por dia em 2023. Já Pernambuco foi o estado que registrou o maior aumento no número de mortos, com 28,6% mais casos que em 2022. São Paulo também teve aumento de mortes (21,7%), quebrando o histórico de redução.
No Maranhão, Piauí e Rio de Janeiro foram registradas quedas de 32,6%, 30,8% e 34,5% no número de pessoas mortas pela polícia, respectivamente. O Observatório também ressalta que no Ceará e no Pará, apesar dos dados gerais registrarem leves quedas de 3,3% e 16,0%, o número de vítimas negras aumentou, "comprovando claramente o perfil do alvo de ações violentas da polícia".
“Mais do que mostrar números, aumentos e reduções, este relatório deixa evidente como as políticas atuais de segurança adotadas nos estados tiram vidas, traumatizam famílias e interrompem histórias. É importante reconhecer que algumas conquistas foram alcançadas, mas nem de longe suavizam o comportamento racista de agentes de segurança”, acrescenta a coordenadora.
A íntegra do relatório pode ser acessada por meio deste link.
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