VIOLÊNCIA POLICIAL

VÍDEO: PM dispara tiros e bombas contra indígenas do MS que protestavam por água

Comunidades da Reserva de Dourados enfrentam falta de água potável há mais de 30 dias; 20 indígenas ficaram feridos

Conflito entre policiais e indígenas
Agentes disparam tiros e bombas contra indígenas do MS.Conflito entre policiais e indígenasCréditos: Reprodução de Vídeo/@atyguasu
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Os indígenas da Reserva de Dourados, em Mato Grosso do Sul, foram alvos de um ataque violento da Polícia Militar (PM) devido a um protesto pela falta d'água nas aldeias há mais de um mês. A Tropa de Choque reprimiu o ato com tiros de borracha e bombas de gás, deixando mais de 20 indígenas feridos

A repressão aconteceu na manhã desta quarta-feira (27). Desde segunda (25), os indígenas dos povos Terena e Guarani Kaiowá das aldeias Jaguapiru e Bororó protestam na Rodovia MS-156, que liga Dourados (MS) a Itaporã (MS) e leva ao Hospital da Missão Evangélica Caiuá, dentro da aldeia. Eles denunciam que as aldeias estão sem abastecimento de água potável há 35 dias. 

“Não queremos cargo, não queremos emprego, a gente quer água, água pra viver, pra matar a sede, para tomar banho, pra dar remédio pros patrícios”, diz Luzinete Terena ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

Em diversos vídeos publicados pelo indígenas, alguns deles na página do coletivo Aty Guasu, é possível ver cenas de violência brutal contra os moradores. Em uma das imagens, um homem é conduzido por diversos policiais à força, enquanto uma mulher tenta intervir e é alvo de tiros de borracha. Em outro registro, uma mulher é socorrida após ficar gravemente ferida por um tiro na orelha. 

[IMAGENS FORTES]

Os policiais invadiram as ruas das comunidades e arremessaram bombas, além dos tiros de borracha, contra as casas. Os indígenas partiram para outras localidades, mas a PM chegou com mais agentes, escalando a repressão. 

“A situação acalmou, mas segue uma certa tensão porque foi um ataque muito agressivo. Muita gente ferida, entrou na aldeia, chegou às moradias, ao quintal das casas. Isso gera revolta, um sentimento de impunidade. O protesto estava pacífico. Depois de tudo o que a Tropa de Choque fez o governo mandou um representante da Polícia Militar para negociar com a população”, explica Cristiane Terena, ao Cimi.

A Fórum entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul, e a matéria será atualizado caso o órgão envie um posicionamento.

MPF tenta mediar o conflito

O  Ministério Público Federal (MPF) se deslocou até a Reserva de Dourados para tentar mediar a situação. O Cimi entregou cerca de 65 vídeos feitos pelos indígenas para comprovar o uso excessivo da força policial diante de pessoas sem margem de defesa.

Flávio Vicente Machado, do Cimi Regional MS, reforça que “a polícia não deveria entrar na Reserva porque é uma área indígena, federal. O que já é grave. Acontece que se trata da maior Reserva do país, ou seja, é uma ação desproporcional, irregular e que pode gerar uma revolta dos indígenas com resultados catastróficos. Na verdade, um massacre de Forças de Segurança Pública contra população civil. As autoridades públicas precisam entender e agir diante da gravidade da ação policial para evitar uma escalada”.

Além disso, o MPF também convocou, nesta quinta-feira (28), uma reunião na sede do órgão em Dourados para tratar da questão dos indígenas.

Nota de repúdio da Aty Guasy

"O Conselho do Povo Terena vem a público manifestar seu profundo repúdio à violência e omissão enfrentadas pelas comunidades indígenas da Reserva Indígena de Dourados (MS), que, além de viverem em uma realidade insustentável, agora enfrentam uma grave crise de abastecimento de água potável. Mais de 13 mil pessoas, incluindo nossos parentes Guarani Kaiowá e Terena, estão confinadas em menos de 3.500 hectares, sem acesso a um recurso essencial para a vida.

O direito à água é garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal, mas, lamentavelmente, tem sido negado a essas comunidades. Frente a essa situação desesperadora, nossos parentes realizaram uma manifestação pacífica, bloqueando uma rodovia para reivindicar algo básico: água.

Em resposta, o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul enviou a Polícia Militar, inclusive com a tropa de choque, para reprimir brutalmente a população indígena, com bombas, balas de borracha e violência física. Este tipo de ação é inaceitável, desrespeitoso e desumano, apenas agravando as já sérias violações de direitos sofridas por essas comunidades.

Não se resolve a sede com repressão. O que as comunidades indígenas precisam são ações concretas, como a perfuração de novos poços artesianos, instalação de caixas d’água e investimentos urgentes em saneamento básico. Exigimos que o Governo do Estado cumpra seu dever e garanta o fornecimento de água para as comunidades indígenas, e que a sociedade de Dourados e região se solidarize com quem contribui para o desenvolvimento e a diversidade cultural dessa terra.

O Conselho do Povo Terena reafirma seu compromisso com a luta pelos direitos fundamentais de todas as comunidades indígenas e exige que as autoridades estaduais e federais tomem medidas imediatas para resolver esta crise e garantir o respeito à vida, à dignidade e aos direitos dos povos indígenas".

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