RACISMO

'Karen': o que significa termo controverso sobre racismo de mulheres como Sandra Mathias Correia de Sá

Termo herdado do vocabulário estadunidense se encaixa na descrição da ex-atleta acusada de chicotear entregadores negros no RJ

Mulher acusada de racismo foi criticado por 'comportamento de Karen' em São Conrado; ela chicoteou entregadores por estarem em calçadaCréditos: Reprodução/Twitter
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Karen é o nome de milhões de mulheres ao redor do mundo. Contudo, nos últimos anos, Karen ganhou um significado memético diferente, em especial nos EUA.

O termo começou a ser usado como uma referência ao estereótipo de mulheres brancas que adotam comportamentos que destratam pessoas que trabalham com atendimento ao público.

Karen é a palavra da moda para se referir, em especial, a mulheres brancas que usam de sua condição social e de seu privilégio, além de um comportamento violento e intimidador, para agredir suas vítimas.

Exemplos e origens das "Karens"

Entre os exemplos notáveis de Karens, está Sandra Mathias Correia de Sá, ex-jogadora de vôlei que foi gravada chicoteando um jovem entregador negro em São Conrado, no Rio de Janeiro, dizendo para os jovens: "Você não está na favela. Quem paga o IPTU aqui sou eu!".

Ela foi intimada a comparecer nesta terça-feira (11), à 15ª Delegacia de Polícia (Gávea) por acusação de injúria e lesão corporal contra dois entregadores negros.

Outro exemplo foi o incidente no Central Park, em Nova Iorque, EUA, no ano de 2020. No dia 25 de maio, Christian Cooper (um observador de aves negro) e Amy Cooper (uma passeadora de cães branca) entraram em uma discussão.

Ele havia exigido que ela colocasse uma coleira nos cães por motivos de segurança, afinal, é proibido andar com cães sem coleira no parque.

Ela começou a gritar com ele e, naquele momento, Christian começou a gravar a cena. Rapidamente, ela liga para a polícia, conhecida pelo racismo e truculência nos EUA.

 "Há um homem afro-americano - estou no Central Park - ele está me gravando e me ameaçando, a mim e ao meu cachorro. Por favor, enviem a polícia imediatamente!",  afirmou a mulher no telefone. 

No mesmo dia, ocorreu o assassinato de George Floyd, que originou protestos antirracistas intensos nos EUA.

Foi nesse contexto que o termo Karen explodiu, e começou a ser usado para outras situações, como as mulheres que querem "falar com o gerente" ou exigirem condições impossíveis de funcionários de atendimento.

Discussão sobre misoginia

O termo, contudo, é controverso, por estigmatizar o comportamento de mulheres e já foi, por diversas ocasiões, sido objeto de discussões sobre machismo e etarismo.

Apesar de ser utilizado para denunciar posturas racistas, o termo Karen pode ser utilizado para estigmatizar mulheres que são assertivas ou que têm opiniões fortes. Apesar disso, a gíria tem ganhado respaldo acadêmico.

A professora Heather Suzanne Woods, da Universidade Estadual de Kansas, cujos interesses de pesquisa incluem memes, disse que as características definidoras de uma "Karen" são um senso de entitlement (sentimento de merecimento), uma disposição e desejo de reclamar, e uma abordagem egocêntrica ao interagir com os outros.

Em entrevista à The Atlantic, a pesquisadora de mídia da Universidade da Virgínia, Meredith Clark, disse que a ideia de 'Karens', "sempre esteve presente; apenas nem sempre foi tão específica em relação ao nome de uma pessoa".

Porém, há controvérsia. A historiadora e crítica de arte afirmou que o termo 'Karen' era a nova 'n-word', uma injúria racial contra negros.

Em artigo ao Guardian, a ativista feminista Jessica Valenti para o jornal The Guardian, onde a autora argumenta que o termo "Karen" pode ser prejudicial para as mulheres, reforçando estereótipos de gênero e desvalorizando sua expressão e opiniões.

Apesar da fugacidade das coisas na internet, o termo ainda não saiu de moda. Quanto à sua versão masculina, nos EUA, os 'male Karens' (ou 'Karens masculinos'), os Chads, Kens e os Kevins.

E você ainda vai ouvir falar muito das Karens por aí...