XENOFOBIA

Mulher paraguaia é torturada após ser acusada de roubo: “crime hediondo”, diz advogado

O caso ocorreu em uma galeria de lojas no Brás, em SP; Ariel de Castro Alves critica violência: “Não existe justiça com as próprias mãos”

A vítima foi agredida e humilhada.Créditos: Reprodução/Mais Goiás
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O advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, fez duras críticas ao quase linchamento de uma mulher paraguaia, de 47 anos, na galeria de lojas Top Shop, à Rua João Teodoro, no bairro do Brás, capital paulista.

A vítima, que pediu para não ter o nome divulgado, foi ofendida, agredida, teve as roupas rasgadas, o cabelo raspado e a palavra “ladra” escrita na testa por um grupo de lojistas. O caso ocorreu na segunda-feira (6), mas só veio a público agora.

A mulher foi acusada de furtar roupas no local. Porém, ela nega e afirma que foi alvo de xenofobia, ouvindo frases como “volta para seu país” e “você não tem nenhum direito aqui no Brasil”.

“O linchamento da migrante paraguaia no Brás, em São Paulo, é um caso emblemático de situações que se tornaram cada vez mais frequentes em São Paulo e no Brasil diante da insegurança pública. Não existe ‘justiça com as próprias mãos”, destacou Ariel.

“Esses casos configuram crimes, principalmente de tortura e tentativa de homicídio. As polícias não podem se omitir diante desses fatos, que costumam ser ‘comemorados’ em grupos de redes sociais que disseminam ódio, violência e intolerância”, relatou.

O advogado disse, ainda, que os agressores e linchadores precisam ser identificados e responsabilizados pelo “crime hediondo e de lesa-humanidade de tortura, e pela prática de tentativa de homicídio, já que em casos assim a disposição e intenção dos agressores é de gerar sofrimento e morte das vítimas”.

Ariel acrescentou: “As pessoas acusadas de crimes devem ser apresentadas às polícias e ao Poder Judiciário e não torturadas e linchadas. A sociedade precisa compreender, que qualquer pessoa, e não só quem tenha cometido algum crime, pode acabar sendo vítima de linchamentos. Basta um boato e uma acusação, que pode ser falsa, para que os ‘justiceiros de plantão’ atuem com a falsa sensação de que estão combatendo a violência, quando, na verdade, estão cometendo crimes e promovendo ódio, intolerância e violência”.

Vítima é alvo de sessão de tortura

A vítima da ação brutal explicou que foi ao Brás adquirir peças para revender. Ela vem ao Brasil com frequência para comprar roupas e levar para o Paraguai, onde mora com o marido e três filhos.

Quando estava deixando o local, já dentro de um táxi, foi abordada por dois seguranças armados, que a mandaram descer. Ambos a levaram para uma sala no fundo da galeria, quando teve início a sessão de tortura: rasparam sua cabeça, enquanto faziam ameaças, inclusive de morte. Ela também teria apanhado com um taco de madeira.

Em seguida, fora da sala, em um corredor, as agressões continuaram. Ela levou inúmeros tapas e socos no rosto e foi chamada de “otária”, “vaca”, enquanto os agressores diziam: “Tem que apanhar”, de acordo com reportagem da GloboNews.

Depois disso, uma das agressoras – eram pelo menos três mulheres e dois homens - escreveu com uma caneta a palavra “ladra” em seu rosto e sua roupa foi rasgada. Ao final, a mulher correu nua pela galeria para fugir.

Fiquei desorientada. Passei a noite na rua sentada em um canto da calçada”, contou a vítima, em breve depoimento à Folhapress. Ela revelou que uma mulher em situação de rua a viu sem roupas e lhe deu uma blusa e um saco de pipoca.