O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), assim como a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), teve seu pedido de anistia e indenização por conta das prisões e torturas sofridas durante a ditadura militar negado pela Comissão de Anistia na última quinta-feira (28).
A Comissão da Anistia, criada em 2022, atualmente é vinculada ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo Bolsonaro e, no início da atual gestão federal, passou por reformulações, contando, entre seus membros, com vários militares reformados. O órgão, inclusive, é presidido hoje por João Henrique Nascimento de Freitas, ex-assessor especial de Jair Bolsonaro.
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Assim como Dilma, o deputado Ivan Valente foi preso por duas vezes e torturado nos anos 70, em um dos períodos mais obscuros da ditadura militar. Ele e a ex-presidenta pediam anistia e reparação pelos danos causados pela perseguição política.
Ambos, no entanto, tiveram os pedidos negados. No caso de Dilma, a Comissão argumentou que ela já teve a anistia reconhecida pelo governo do Rio Grande do Sul. No caso de Ivan Valente, o órgão não explicou o motivo para recusar a anistia e a reparação.
"Passei 10 anos na clandestinidade, na cadeia, fui impedido de pegar meu diploma de Engenharia, fui preso no DOI-CODI, torturado por 10 dias, fiz duas greves de fome na cadeia, escrevi carta denunciando a tortura e que teve repercussão internacional, fui preso novamente e condenado a 3 anos. Saímos e, agora, sem anistia", lamentou Ivan Valente em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia, da TV Fórum, desta segunda-feira (2).
Influência de Bolsonaro
Ivan Valente afirma que o que queria, com o pedido de anistia, não é "a indenização em si", e sim "o reconhecimento de que o Estado praticou tortura".
Na entrevista ao Fórum Onze e Meia, o deputado expôs a influência de Jair Bolsonaro no processo. Tanto é que o presidente, em live nas redes sociais, debochou da negativa ao seu pedido de reparação, afirmando que o parlamentar "gosta de uma grana".
"Quem gosta de grana é esse pessoal da rachadinha", rebateu Valente, afirmando ainda que "os juízes da Comissão da Anistia são exatamente os torturadores".
Ainda sobre a influência de Bolsonaro em seu processo, Ivan Valente afirmou que o julgamento de seu caso e de Dilma foi "atropelado". Ele revelou que sua advogada estava gravemente doente e que, por isso, foi pedida a retirada de pauta. Mesmo com a advogada ausente, no entanto, o processo foi julgado.
"O Bolsonaro recebe instrução direta. Pautaram [o julgamento] de propósito, para limpar a pauta e a gente não ser julgado se o Lula for eleito. Quiseram liquidar essa questão", atestou, relembrando que o presidente da Comissão, além de ter sido assessor de Bolsonaro, já trabalhou no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
"Vivemos no país das fake news. No país da mentira. Precisamos varrer esse pessoal daí", declarou ainda o parlamentar.
Assista à íntegra do Fórum Onze e Meia com a entrevista de Ivan Valente